São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE

Pré-candidatos rejeitam primárias

Fórmula eleitoral gera disputa na Argentina

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Os desentendimentos entre políticos argentinos sobre a fórmula de disputa da próxima eleição cresceram tanto nos últimos dias que surgiram rumores que o presidente Eduardo Duhalde renunciaria caso não conseguisse impor sua proposta.
A ameaça de renúncia, divulgada pelo jornal "Clarín", foi negada na manhã de ontem pelo chefe de gabinete, Alfredo Atanasof. Duhalde, no entanto, não tem escondido o descontentamento com as divisões internas de seu partido, o Justicialista (peronista), sobre a melhor fórmula de disputa.
O presidente estabeleceu que antes da eleição presidencial, marcada para março, haveria, em novembro, uma eleição prévia para a escolha dos candidatos de cada partido. Ao contrário do que acontece no Brasil, todos os eleitores terão direito a participar das prévias, não apenas os membros do partido. A fórmula gerou insatisfação entre dirigentes peronistas e da UCR (União Cívica Radical) -os dois maiores partidos argentinos- porque não impede que os filiados de um partido votem nas prévias de outro, o que poderia distorcer os resultados.
O pré-candidato e ex-presidente (1989-99) Carlos Menem tornou-se o maior crítico da fórmula proposta pelo governo. Para ele, o projeto é "enganoso" porque as distorções aumentariam as chances de um de seus concorrentes nas prévias, o governador peronista José Manuel de la Sota (Córdoba), que tem o apoio de Duhalde mas está mal nas pesquisas.
Para forçar Duhalde a mudar a fórmula da eleição, Menem entrou com uma ação na Justiça eleitoral. No entanto, Duhalde ignorou as pressões porque sabe que uma demorada batalha judicial poderia adiar a eleição, o que manteria ele mesmo no cargo por mais tempo.
Além disso, o presidente sabe que Menem tem pressa de se eleger porque enfrenta pelo menos seis processos judiciais que seriam engavetados em caso de vitória na eleição. O processo que mais avança é analisado pelo juiz federal Norberto Oyarbide, que investiga as contas de Menem na Suíça e o intimou a depor no dia 23 de setembro por acusações de enriquecimento ilícito.
Além disso, Menem também deverá prestar depoimento como acusado na próxima quarta-feira ao juiz federal Julio Speroni, que investiga denúncia de contrabando de armas para Equador e Croácia entre 1991 e 1995.

Oposição
Além das disputas dentro do peronismo, Duhalde também enfrenta críticas da oposição, que pressiona por eleições gerais e não apenas para a Presidência e parte do Senado.
Os dois principais pré-candidatos de oposição -Elisa Carrió e Luis Zamora- decidiram nesta semana suspender as campanhas eleitorais como forma de pressionar o presidente.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Guerra sem limites: Londres diverge de Bush sobre o Iraque
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.