São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Um dia depois de Bush ter defendido a queda de Saddam, britânicos dizem que priorizam inspeção de armas

Londres diverge de Bush sobre o Iraque

KATE KELLAND
DA REUTERS, EM LONDRES

O Reino Unido, maior aliado dos EUA na guerra contra o terror, expressou ontem uma posição diversa da de Washington em relação ao Iraque, ao dizer que o principal objetivo deveria ser a volta dos inspetores de armas a Bagdá. A manifestação veio um dia depois de o presidente dos EUA, George W. Bush, ter dito que a prioridade deve ser a "mudança de regime" no Iraque, pois isso "é do interesse do mundo".
De acordo com Jack Straw, chanceler britânico, a principal ameaça iraquiana vem das armas de destruição em massa que o ditador Saddam Hussein possuiria.
""O que preocupa todos", disse Straw à rádio BBC, ""é especialmente a ameaça representada por Saddam devido a sua capacidade [em armas de destruição em massa" e seu histórico de atuação com relação à segurança da região e do mundo".
""A melhor maneira de tentar isolar essa ameaça é a introdução de inspeções de armas", prosseguiu Straw. ""A questão crucial aqui é a dos inspetores de armas."
Bush, pelo contrário, vem fazendo da derrubada de Saddam uma de suas prioridades principais, dizendo que o líder iraquiano está desenvolvendo armas de destruição em massa e precisa ser refreado antes que possa usá-las ou dividi-las com terroristas.
O premiê britânico, Tony Blair, já assinalou que apoiaria uma ação militar liderada pelos EUA, mas enfrenta oposição crescente de membros de seu partido, o Trabalhista, de líderes religiosos e, segundo algumas versões, de alguns ministros.
Indagado sobre se já está sendo negociada uma coalizão internacional que apoiaria uma ação contra o Iraque, Straw evitou responder. Em lugar disso, disse: ""O que existe é um consenso internacional avassalador contra o que Saddam Hussein vem fazendo e deixando de fazer no Iraque".
Sobre uma eventual queda de Saddam, Straw disse que o Reino Unido ficaria satisfeito, mas destacou: ""A parte mais importante de nossa abordagem consiste em levar os inspetores de armas de volta ao Iraque. Precisamos dizer que uma ação militar continua a ser uma opção possível, devido à ameaça representada por Saddam Hussein. Mas, se houver outra maneira de fazer frente a essa ameaça, então fica claro que os argumentos a favor da ação militar perdem força".
O porta-voz de assuntos internacionais do oposicionista Partido Liberal Democrata, Menzies Campbell, disse que os comentários de Straw são prova de uma divergência inequívoca entre os aliados transatlânticos. ""As observações do chanceler situam o Reino Unido numa posição bem diferente daquela dos setores de linha dura da administração Bush", afirmou num comunicado. ""O governo britânico deveria estar liderando a investida visando a obrigar Saddam Hussein a readmitir os inspetores da ONU, com acesso pleno, irrestrito e aberto a todas as instalações que quiserem visitar."
Mas um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores britânico disse que é engano sugerir que os comentários de Jack Straw tenham indicado uma diferença de abordagem em relação à americana.
""Os Estados Unidos e outros membros do Conselho de Segurança da ONU já pediram em diversas ocasiões a retomada das inspeções de armas no Iraque. E os Estados Unidos já deixaram claro, como nós, que ainda não foi tomada nenhuma decisão de lançar uma ação militar", disse o porta-voz.
Nas últimas semanas, Saddam vem fazendo à ONU várias ofertas de autorizar o retorno ao Iraque dos inspetores de armas da ONU, que deixaram o país há quatro anos.
Na semana passada, o Iraque pediu à ONU mais conversações técnicas em Bagdá antes de permitir o retorno dos inspetores. A ONU ainda não deu nenhuma resposta formal.
Os especialistas em armas que foram ao Iraque após a Guerra do Golfo inspecionaram e destruíram armas até deixar o país, em dezembro de 1998, na véspera de um bombardeio aéreo dos EUA e do Reino Unido.


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