|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA SEM LIMITES
Um dia depois de Bush ter defendido a queda de Saddam, britânicos dizem que priorizam inspeção de armas
Londres diverge de Bush sobre o Iraque
KATE KELLAND
DA REUTERS, EM LONDRES
O Reino Unido, maior aliado
dos EUA na guerra contra o terror, expressou ontem uma posição diversa da de Washington em
relação ao Iraque, ao dizer que o
principal objetivo deveria ser a
volta dos inspetores de armas a
Bagdá. A manifestação veio um
dia depois de o presidente dos
EUA, George W. Bush, ter dito
que a prioridade deve ser a "mudança de regime" no Iraque, pois
isso "é do interesse do mundo".
De acordo com Jack Straw,
chanceler britânico, a principal
ameaça iraquiana vem das armas
de destruição em massa que o ditador Saddam Hussein possuiria.
""O que preocupa todos", disse
Straw à rádio BBC, ""é especialmente a ameaça representada por
Saddam devido a sua capacidade
[em armas de destruição em massa" e seu histórico de atuação com
relação à segurança da região e do
mundo".
""A melhor maneira de tentar
isolar essa ameaça é a introdução
de inspeções de armas", prosseguiu Straw. ""A questão crucial
aqui é a dos inspetores de armas."
Bush, pelo contrário, vem fazendo da derrubada de Saddam
uma de suas prioridades principais, dizendo que o líder iraquiano está desenvolvendo armas de
destruição em massa e precisa ser
refreado antes que possa usá-las
ou dividi-las com terroristas.
O premiê britânico, Tony Blair,
já assinalou que apoiaria uma
ação militar liderada pelos EUA,
mas enfrenta oposição crescente
de membros de seu partido, o
Trabalhista, de líderes religiosos e,
segundo algumas versões, de alguns ministros.
Indagado sobre se já está sendo
negociada uma coalizão internacional que apoiaria uma ação
contra o Iraque, Straw evitou responder. Em lugar disso, disse: ""O
que existe é um consenso internacional avassalador contra o que
Saddam Hussein vem fazendo e
deixando de fazer no Iraque".
Sobre uma eventual queda de
Saddam, Straw disse que o Reino
Unido ficaria satisfeito, mas destacou: ""A parte mais importante
de nossa abordagem consiste em
levar os inspetores de armas de
volta ao Iraque. Precisamos dizer
que uma ação militar continua a
ser uma opção possível, devido à
ameaça representada por Saddam
Hussein. Mas, se houver outra
maneira de fazer frente a essa
ameaça, então fica claro que os argumentos a favor da ação militar
perdem força".
O porta-voz de assuntos internacionais do oposicionista Partido Liberal Democrata, Menzies
Campbell, disse que os comentários de Straw são prova de uma divergência inequívoca entre os
aliados transatlânticos. ""As observações do chanceler situam o
Reino Unido numa posição bem
diferente daquela dos setores de
linha dura da administração
Bush", afirmou num comunicado. ""O governo britânico deveria
estar liderando a investida visando a obrigar Saddam Hussein a
readmitir os inspetores da ONU,
com acesso pleno, irrestrito e
aberto a todas as instalações que
quiserem visitar."
Mas um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores britânico disse que é engano sugerir
que os comentários de Jack Straw
tenham indicado uma diferença
de abordagem em relação à americana.
""Os Estados Unidos e outros
membros do Conselho de Segurança da ONU já pediram em diversas ocasiões a retomada das
inspeções de armas no Iraque. E
os Estados Unidos já deixaram
claro, como nós, que ainda não foi
tomada nenhuma decisão de lançar uma ação militar", disse o
porta-voz.
Nas últimas semanas, Saddam
vem fazendo à ONU várias ofertas
de autorizar o retorno ao Iraque
dos inspetores de armas da ONU,
que deixaram o país há quatro
anos.
Na semana passada, o Iraque
pediu à ONU mais conversações
técnicas em Bagdá antes de permitir o retorno dos inspetores. A
ONU ainda não deu nenhuma
resposta formal.
Os especialistas em armas que
foram ao Iraque após a Guerra do
Golfo inspecionaram e destruíram armas até deixar o país, em
dezembro de 1998, na véspera de
um bombardeio aéreo dos EUA e
do Reino Unido.
Texto Anterior: Crise: Fórmula eleitoral gera disputa na Argentina Próximo Texto: Frases Índice
|