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IRAQUE OCUPADO
Para secretário-geral da ONU, Washington deve dividir o poder no Iraque se quiser ter tropas de outros países
EUA têm de ceder para ter ajuda, diz Annan
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Dificilmente outros governos
contribuirão com tropas para o
Iraque se os EUA não cederem
uma parte de seu poder sobre o
país, indicou ontem o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Ele se colocou no meio das negociações para obter uma nova
resolução da ONU sobre o Iraque,
de forma a tornar mais aceitável,
na ótica de outros países, mandar
tropas para ajudar EUA e Reino
Unido no pós-guerra.
Annan optou por repetir a formulação utilizada pelo representante francês na reunião de anteontem do Conselho de Segurança para pressionar o governo
americano a mudar de posição.
"Isso significaria não apenas divisão dos sacrifícios, mas também
divisão das decisões e das responsabilidade com os outros. Se isso
não acontecer, acho que será muito difícil conseguir uma resolução
que satisfaça a todos."
Os EUA têm insistido para que
outros membros da ONU cedam
tropas para o trabalho de reconstrução do Iraque. O governo americano está pressionado, por um
lado, pelo fato de que não consegue pacificar o país -e seus soldados continuam morrendo diariamente- e, por outro, pelo Orçamento e pela opinião pública,
que limitam seu espaço para
mandar mais forças suas ao país.
Ao mesmo tempo que busca
ajuda, porém, Washington tem
sinalizado que não pretende dividir o controle do Iraque com outros governos. Atualmente, os
EUA mandam no país por meio
de um enviado seu, Paul Bremer,
e pelo comando das tropas -um
poder que foi conseguido com o
ataque ao regime iraquiano, em
março e abril, e reforçado por
conturbada negociação no Conselho de Segurança, em maio.
Ontem, o presidente dos EUA,
George W. Bush, novamente pediu ajuda. "Nós precisamos de
mais tropas estrangeiras no Iraque, e haverá mais tropas estrangeiras no Iraque. O Iraque está se
transformando numa batalha
contínua contra o terrorismo."
No meio da posição americana
e da francesa está o Reino Unido,
aliado dos EUA na guerra e na reconstrução. O governo britânico
tem insistido que é possível costurar um meio-termo e valorizar o
papel da ONU. "Embora as posições iniciais das pessoas possam
ser diferentes, é possível alcançar
um forte consenso", afirmou ontem o chanceler britânico, Jack
Straw, que se reuniu com Annan.
Da mesma forma que a França,
outros países que poderiam ser
importantes fontes de tropas para
a operação -casos de Alemanha,
Rússia e Índia- têm manifestado
diferenças em relação aos planos
americanos.
O secretário-geral pediu aos
membros do Conselho de Segurança que mantenham suas discussões sobre o assunto a portas
fechadas. Ontem, ele se mostrou
descontente com o início das negociações -um encontro aberto
do Conselho anteontem deixou
claras as divergências.
"Eu preferiria que o encontro
não fosse público, ou que talvez o
encontro não ocorresse e que isso
fosse feito em conversas privadas,
sentindo o chão e depois avançando", afirmou Annan.
Ele tem repetido que as posições
anteriores à guerra -a favor ou
contra ou conflito- não têm
mais o mesmo significado. "Nós
não vamos lutar a guerra de novo.
Muitas pessoas nesse prédio, incluindo eu, foram contrárias à
guerra. Mas precisamos deixar isso para trás", afirmou ontem na
sede das Nações Unidas.
Annan se diz contrário a mandar ao Iraque os chamados "capacetes azuis", forças de paz sob a
bandeira da ONU. "Caso se vá internacionalizar a operação, uma
maneira seria o Conselho autorizar uma força multinacional que
incluiria as tropas já lá e as tropas
adicionais que chegariam, e essa
força teria também a responsabilidade de proteger o pessoal da
ONU", afirmou ele.
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