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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Para secretário-geral da ONU, Washington deve dividir o poder no Iraque se quiser ter tropas de outros países

EUA têm de ceder para ter ajuda, diz Annan

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Dificilmente outros governos contribuirão com tropas para o Iraque se os EUA não cederem uma parte de seu poder sobre o país, indicou ontem o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Ele se colocou no meio das negociações para obter uma nova resolução da ONU sobre o Iraque, de forma a tornar mais aceitável, na ótica de outros países, mandar tropas para ajudar EUA e Reino Unido no pós-guerra.
Annan optou por repetir a formulação utilizada pelo representante francês na reunião de anteontem do Conselho de Segurança para pressionar o governo americano a mudar de posição.
"Isso significaria não apenas divisão dos sacrifícios, mas também divisão das decisões e das responsabilidade com os outros. Se isso não acontecer, acho que será muito difícil conseguir uma resolução que satisfaça a todos."
Os EUA têm insistido para que outros membros da ONU cedam tropas para o trabalho de reconstrução do Iraque. O governo americano está pressionado, por um lado, pelo fato de que não consegue pacificar o país -e seus soldados continuam morrendo diariamente- e, por outro, pelo Orçamento e pela opinião pública, que limitam seu espaço para mandar mais forças suas ao país.
Ao mesmo tempo que busca ajuda, porém, Washington tem sinalizado que não pretende dividir o controle do Iraque com outros governos. Atualmente, os EUA mandam no país por meio de um enviado seu, Paul Bremer, e pelo comando das tropas -um poder que foi conseguido com o ataque ao regime iraquiano, em março e abril, e reforçado por conturbada negociação no Conselho de Segurança, em maio.
Ontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, novamente pediu ajuda. "Nós precisamos de mais tropas estrangeiras no Iraque, e haverá mais tropas estrangeiras no Iraque. O Iraque está se transformando numa batalha contínua contra o terrorismo."
No meio da posição americana e da francesa está o Reino Unido, aliado dos EUA na guerra e na reconstrução. O governo britânico tem insistido que é possível costurar um meio-termo e valorizar o papel da ONU. "Embora as posições iniciais das pessoas possam ser diferentes, é possível alcançar um forte consenso", afirmou ontem o chanceler britânico, Jack Straw, que se reuniu com Annan.
Da mesma forma que a França, outros países que poderiam ser importantes fontes de tropas para a operação -casos de Alemanha, Rússia e Índia- têm manifestado diferenças em relação aos planos americanos.
O secretário-geral pediu aos membros do Conselho de Segurança que mantenham suas discussões sobre o assunto a portas fechadas. Ontem, ele se mostrou descontente com o início das negociações -um encontro aberto do Conselho anteontem deixou claras as divergências.
"Eu preferiria que o encontro não fosse público, ou que talvez o encontro não ocorresse e que isso fosse feito em conversas privadas, sentindo o chão e depois avançando", afirmou Annan.
Ele tem repetido que as posições anteriores à guerra -a favor ou contra ou conflito- não têm mais o mesmo significado. "Nós não vamos lutar a guerra de novo. Muitas pessoas nesse prédio, incluindo eu, foram contrárias à guerra. Mas precisamos deixar isso para trás", afirmou ontem na sede das Nações Unidas.
Annan se diz contrário a mandar ao Iraque os chamados "capacetes azuis", forças de paz sob a bandeira da ONU. "Caso se vá internacionalizar a operação, uma maneira seria o Conselho autorizar uma força multinacional que incluiria as tropas já lá e as tropas adicionais que chegariam, e essa força teria também a responsabilidade de proteger o pessoal da ONU", afirmou ele.


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