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Paris condena "lógica da ocupação"
ALAIN FRACHON
E BRUNO PHILIP
DO "LE MONDE"
O chanceler francês, Dominique
de Villepin, não diz abertamente
que vetará qualquer resolução do
Conselho de Segurança da ONU
que consolide diplomaticamente
a presença dos Estados Unidos no
Iraque. Mas defende uma solução
em que a comunidade internacional se associe a um governo provisório iraquiano para preencher o
atual vazio institucional. "A coisa
certa a fazer é reunir uma verdadeira força internacional sob
mandato da ONU", disse ele em
entrevista.
Para ele, a coalizão anglo-americana que administra o Iraque
precisa substituir "a lógica da
ocupação pela lógica da soberania". "Choca-me que o povo iraquiano não tenha papel ativo nas
decisões que lhes dizem respeito."
A atual política, baseada na segurança interna e destinada a
combater o terrorismo, deve dar
lugar a um processo que devolva
aos iraquianos a responsabilidade
de definir seu destino, diz ele.
Villepin defende também a urgência de um "eletrochoque" para romper o impasse entre israelenses e palestinos. Sem isso, as
duas partes não voltariam a ter esperança de paz.
Pergunta - Qual seu diagnóstico
sobre o Iraque após o atentado
contra as instalações da ONU?
Dominique de Villepin - Creio
que haja o risco de uma dupla espiral: a do confronto, na qual a
força é respondida pelo terrorismo, e a da decomposição.
Choca-me que o povo iraquiano não tenha papel ativo nas decisões que lhes dizem respeito. Isso
reduz as chances de sucesso na reconstrução. O raciocínio baseado
na segurança interna não permite
recolocar o Iraque nos trilhos da
normalidade.
Pergunta - O que deveria concretamente ser feito?
Villepin - É preciso privilegiar
medidas políticas que entreguem
o poder aos iraquianos. O que exige o engajamento da comunidade
internacional, por meio da ONU,
para orientar esse processo e lhe
dar legitimidade.
Pergunta - Mas de que forma?
Villepin - Transformando em
primeiro lugar o Conselho de Governo num verdadeiro governo
provisório iraquiano, com autonomia e prioridades, como o restabelecimento dos serviços públicos. O governo provisório convocaria eleições para uma assembléia constituinte. Um representante da ONU acompanharia essa
transição.
Pergunta - Isso excluiria um administrador norte-americano?
Villepin - O importante é que o
poder seja exercido pelos iraquianos. Devemos acelerar o cronograma dessa transição. Além da
ONU, um governo provisório teria sua legitimidade reforçada pelos países vizinhos e por entidades
como a Liga Árabe.
Pergunta - Isso vale para o Iraque, para o Afeganistão e para todo o Oriente Médio?
Villepin - Sem dúvida. Engrenagens semelhantes criaram a desmobilização e o ressentimento. O
palestinos não enxergam perspectiva de paz e de normalização
de suas rotinas.
A incredulidade gera desespero.
Os israelenses sentem o mesmo
em razão da multiplicação dos
atentados.
No Oriente Médio é preciso superar a desesperança. Israelenses
e palestinos que acreditam na paz
precisam lidar com credibilidade.
É perigoso lançar processos demorados. A gravidade da situação
exige a aceleração do plano de
paz. Precisamos de um eletrochoque: uma conferência internacional, eleições palestinas, forças internacionais que mudem a equação.
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