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AMÉRICA LATINA
Líder anti-Chávez pedirá que Brasil convoque Grupo de Amigos para avaliar o referendo
Oposição da Venezuela fará apelo a Lula
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva será instado pela oposição
venezuelana a convocar uma reunião, "nos próximos dias", do
Grupo de Amigos da Venezuela,
destinada a avaliar e, obviamente,
influir sobre o novo momento político aberto com a possibilidade
de um referendo para revogar ou
não o mandato do presidente Hugo Chávez.
A informação foi dada ontem à
Folha pelo deputado Timoteo
Zambrano, um dos dois membros, pela oposição, da Comissão
de Enlace, que negocia com o governo Chávez saídas para o impasse político, sob o guarda-chuva da Organização dos Estados
Americanos.
O pedido a Lula será feito durante a visita oficial que o presidente brasileiro fará a Caracas, a
partir de segunda-feira. Mas o encontro entre Lula e a oposição
ainda não está confirmado, embora a lógica indique que o presidente deva recebê-la.
Afinal, conversou, na sua mais
recente viagem à Europa, com os
líderes socialistas de Portugal e
Espanha, ambos na oposição.
Além disso, lembra Zambrano,
a oposição acaba de ser recebida
pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe.
A busca de um contato com Lula revela como mudou fortemente
a percepção da oposição sobre o
governo brasileiro.
Quando Marco Aurélio Garcia,
assessor internacional de Lula, esteve em Caracas em dezembro
(antes, portanto, da posse), envolveu-se em um tiroteio verbal com
o próprio Zambrano.
Garcia atacou a oposição, que
contra-atacou, inclusive convocando manifestações diante da
embaixada brasileira.
Agora, Zambrano diz que "foi
muito positivo o envolvimento
brasileiro no Grupo de Amigos",
cuja convocação surgiu justamente durante a visita de Garcia
ao país.
Percepção de Lula
Mas o deputado venezuelano
acha, primeiro, que o que mudou
não foi a oposição, mas a percepção do governo Lula sobre o processo venezuelano.
Segundo, acha que o enfoque do
Grupo de Amigos acabou sendo
diferente do pretendido por Chávez e criticado pela oposição.
"Chávez queria um grupo de amigos dele, mas a comunidade internacional não respondeu ao que
ele queria, e, sim, ao fortalecimento institucional da democracia venezuelana", diz Zambrano.
O Grupo de Amigos é formado,
além do Brasil, por Estados Unidos, Chile, México, Espanha e
Portugal.
O acordo entre a oposição e o
governo, por ele estimulado, estabeleceu quatro conceitos como
base para resolver o impasse político (uma saída constitucional,
democrática, pacífica e eleitoral).
No primeiro momento, favoreceu Chávez, que se agarrou à palavra "constitucional" para negar a
antecipação do referendo sobre
sua permanência no cargo, que a
Constituição joga para a metade
do mandato, completada apenas
agora em agosto.
A oposição convocou uma greve geral, em dezembro passado,
para tentar antecipar o plebiscito.
Agora, no entanto, a oposição é
que usa um dos conceitos ("eleitoral") para pôr Chávez contra a
parede. Se a saída tem de ser eleitoral, então que seja convocado
logo o referendo, ao qual Chávez
se opõe.
Zambrano acredita que o ato
eleitoral possa ser realizado em
novembro, cumprindo-se todos
os prazos legais. O primeiro deles
começou a contar dia 20, quando
a oposição apresentou mais de 3,2
milhões de assinaturas pedindo o
referendo, como manda a Constituição.
Serão 30 dias para que as autoridades eleitorais validem as assinaturas, que Chávez contesta, mas
que Zambrano diz serem "absolutamente válidas".
Dentro desses mesmos 30 dias,
o Conselho Nacional Eleitoral deve convocar a votação, para alguma data dos próximos 60 dias,
conforme o cronograma exposto
por Zambrano.
É óbvio que a oposição busca,
no contato com Lula e na sugestão de que ele proponha uma reunião urgente do Grupo de Amigos, ratificar tal cronograma e dar
um aval internacional ao que ela
chama de "processo revogatório"
do mandato de Chávez (que termina em 2007, se não houver a revogação).
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