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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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AMÉRICA LATINA

Líder anti-Chávez pedirá que Brasil convoque Grupo de Amigos para avaliar o referendo

Oposição da Venezuela fará apelo a Lula

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será instado pela oposição venezuelana a convocar uma reunião, "nos próximos dias", do Grupo de Amigos da Venezuela, destinada a avaliar e, obviamente, influir sobre o novo momento político aberto com a possibilidade de um referendo para revogar ou não o mandato do presidente Hugo Chávez.
A informação foi dada ontem à Folha pelo deputado Timoteo Zambrano, um dos dois membros, pela oposição, da Comissão de Enlace, que negocia com o governo Chávez saídas para o impasse político, sob o guarda-chuva da Organização dos Estados Americanos.
O pedido a Lula será feito durante a visita oficial que o presidente brasileiro fará a Caracas, a partir de segunda-feira. Mas o encontro entre Lula e a oposição ainda não está confirmado, embora a lógica indique que o presidente deva recebê-la.
Afinal, conversou, na sua mais recente viagem à Europa, com os líderes socialistas de Portugal e Espanha, ambos na oposição.
Além disso, lembra Zambrano, a oposição acaba de ser recebida pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe.
A busca de um contato com Lula revela como mudou fortemente a percepção da oposição sobre o governo brasileiro.
Quando Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula, esteve em Caracas em dezembro (antes, portanto, da posse), envolveu-se em um tiroteio verbal com o próprio Zambrano.
Garcia atacou a oposição, que contra-atacou, inclusive convocando manifestações diante da embaixada brasileira.
Agora, Zambrano diz que "foi muito positivo o envolvimento brasileiro no Grupo de Amigos", cuja convocação surgiu justamente durante a visita de Garcia ao país.

Percepção de Lula
Mas o deputado venezuelano acha, primeiro, que o que mudou não foi a oposição, mas a percepção do governo Lula sobre o processo venezuelano.
Segundo, acha que o enfoque do Grupo de Amigos acabou sendo diferente do pretendido por Chávez e criticado pela oposição. "Chávez queria um grupo de amigos dele, mas a comunidade internacional não respondeu ao que ele queria, e, sim, ao fortalecimento institucional da democracia venezuelana", diz Zambrano.
O Grupo de Amigos é formado, além do Brasil, por Estados Unidos, Chile, México, Espanha e Portugal.
O acordo entre a oposição e o governo, por ele estimulado, estabeleceu quatro conceitos como base para resolver o impasse político (uma saída constitucional, democrática, pacífica e eleitoral).
No primeiro momento, favoreceu Chávez, que se agarrou à palavra "constitucional" para negar a antecipação do referendo sobre sua permanência no cargo, que a Constituição joga para a metade do mandato, completada apenas agora em agosto.
A oposição convocou uma greve geral, em dezembro passado, para tentar antecipar o plebiscito.
Agora, no entanto, a oposição é que usa um dos conceitos ("eleitoral") para pôr Chávez contra a parede. Se a saída tem de ser eleitoral, então que seja convocado logo o referendo, ao qual Chávez se opõe.
Zambrano acredita que o ato eleitoral possa ser realizado em novembro, cumprindo-se todos os prazos legais. O primeiro deles começou a contar dia 20, quando a oposição apresentou mais de 3,2 milhões de assinaturas pedindo o referendo, como manda a Constituição.
Serão 30 dias para que as autoridades eleitorais validem as assinaturas, que Chávez contesta, mas que Zambrano diz serem "absolutamente válidas".
Dentro desses mesmos 30 dias, o Conselho Nacional Eleitoral deve convocar a votação, para alguma data dos próximos 60 dias, conforme o cronograma exposto por Zambrano.
É óbvio que a oposição busca, no contato com Lula e na sugestão de que ele proponha uma reunião urgente do Grupo de Amigos, ratificar tal cronograma e dar um aval internacional ao que ela chama de "processo revogatório" do mandato de Chávez (que termina em 2007, se não houver a revogação).


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