São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2005

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GUERRA SEM LIMITES

Ataques não visam só militares estrangeiros, mas também líderes regionais e clérigos

Violência generalizada ameaça eleição afegã

MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A CABUL

A morte de quatro soldados numa emboscada no sul do Afeganistão, no mais grave ataque a militares americanos desde o final de junho, e um atentado a um comboio de veículos da Embaixada dos EUA nos arredores de Cabul, ambos anteontem, serviram para ilustrar a forte preocupação das forças estrangeiras no país com a possibilidade do aumento da violência com a aproximação das eleições legislativas, que ocorrerão em 18 de setembro próximo.
Outra preocupação do comando militar americano é o recrudescimento da violência em certas regiões do Afeganistão neste ano, quando mais de 60 militares americanos morreram -número superior ao dos anos precedentes se o período da guerra contra o regime islâmico do Taleban não for considerado. Ao todo, 184 militares americanos morreram em combate no Afeganistão desde a invasão do país, no final de 2001.
De acordo com o comando militar dos EUA e com autoridades afegãs, a situação deverá piorar nas próximas semanas por conta da disputa eleitoral. A insurgência afegã, sobretudo o Taleban, prometeu fazer o que estiver a seu alcance para atrapalhar o pleito. Ontem, um porta-voz do grupo declarou que o Taleban continuará suas ações para desorganizar a eleição, mas que os locais de votação não serão atacados.
Em uma operação que durou uma semana, informaram ontem oficiais americanos, o Exército dos EUA e as tropas afegãs mataram pelo menos 40 rebeldes supostamente envolvidos nos ataques aos americanos em 28 de junho na Província de Kunar (leste do Afeganistão), quando 19 militares foram mortos numa emboscada. Nas últimas semanas, as forças conjuntas dos dois países mataram mais de cem insurgentes, em ações que buscam garantir a segurança nas eleições.
As eleições legislativas afegãs são vistas pela comunidade internacional e por autoridades afegãs como mais um passo no caminho da verdadeira democratização do país, que viveu mais de duas décadas de sangrentos conflitos desde a invasão soviética, em 1979.
A violência não atinge apenas militares estrangeiros, já que policiais, militares, líderes regionais e clérigos afegãos também têm sido alvos da insegurança. Mawlawi Abdullah, um clérigo pró-governo, foi morto por atiradores desconhecidos na Província de Candahar, no mais recente ataque a líderes religiosos que condenaram a campanha de desestabilização preconizada pelo Taleban.
Obviamente, a piora da violência preocupa o comando militar americano e o da Isaf (Força Internacional de Assistência à Segurança), que é comandada pela Otan (aliança militar ocidental) desde meados do ano passado. Todavia não se trata de uma surpresa, segundo membros de ambas as forças.
O general Jason Kamyia, que comanda as forças de coalizão lideradas pelos EUA, afirmou que os atentados não minarão a determinação de seus comandados em assegurar a melhor situação de segurança possível aos eleitores em 18 de setembro.


O jornalista Márcio Senne de Moraes viajou ao Afeganistão a convite do governo dos EUA.


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