São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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Irã mantém plano nuclear, mas propõe diálogo "sério"

Teerã responde à proposta das potências com "nova fórmula" para resolver impasse

Resposta detalhada está em estudo nos EUA e na UE, mas iranianos indicam que não cumprirão prazo da ONU para congelar programa


DA REDAÇÃO

Um dia após reiterar que não suspenderia seu programa nuclear, frustrando de antemão a principal exigência do Conselho de Segurança da ONU, o Irã respondeu ontem ao pacote de incentivos oferecido pelos membros do órgão propondo uma "nova fórmula" para resolver o impasse. O país afirmou ainda que está disposto a conduzir "sérias negociações" com as potências a partir de hoje sobre suas ambições atômicas.
Uma extensa resposta por escrito foi entregue pelo principal negociador nuclear iraniano, Ali Larijani, aos embaixadores em Teerã de China, Rússia, Reino Unido, França, Alemanha e Suíça. Este último representa os interesses dos EUA, que romperam relações com o Irã em 1979.
Uma resolução aprovada no CS deu ao Irã até o fim deste mês para que suspenda o enriquecimento de urânio ou enfrente a possibilidade de sofrer sanções políticas e econômicas.

Ambigüidades
"Embora não haja justificativa para o gesto ilegal de remeter o caso do Irã ao Conselho de Segurança, nós preparamos a resposta ao pacote de forma positiva", disse Larijani à agência de notícias iraniana IRNA. O pacote de incentivos foi elaborado em junho pelos cinco membros permanentes do CS, mais a Alemanha. "Apesar das ambigüidades em muitos casos, nós tentamos preparar o caminho para conversas justas com uma atitude lógica e positiva."
Não foi revelado o teor das respostas iranianas, mas o detalhamento com que foram preparadas foi recebido como um sinal de que o país está aberto ao diálogo. Segundo diplomatas europeus que tiveram acesso ao texto, o documento iraniano é constituído de um complexo conjunto de contrapropostas destinadas a retomar as negociações.
Representantes de EUA, Reino Unido, França e Alemanha farão uma reunião hoje para avaliar a resposta iraniana.
O chefe de política externa da União Européia, Javier Solana, disse que o documento entregue pelo Irã é "extenso" e exige "análise detalhada e cuidadosa". "Nossa expectativa sempre foi a de uma resposta que não fosse branca ou preta, mas cinza", disse Cristina Gallach, porta-voz de Solana. "Nossa posição é que não pode ser cinza."
Segundo o embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, a resposta iraniana será "cuidadosamente" estudada. Caso ela não atenda "aos termos estabelecidos" pelos seis países, o CS dará prosseguimento ao processo de aplicação de sanções contra o Irã, disse Bolton.
"Se, por outro lado, os iranianos escolheram o caminho da cooperação, uma relação diferente com os Estados Unidos e com o resto do mundo é possível", afirmou o representante americano. O Irã insiste em afirmar que é direito seu desenvolver um programa nuclear com fins pacíficos.
Nos últimos meses os EUA lideraram uma intensa campanha diplomática em defesa de sanções contra o Irã, mas países como China e Rússia, que têm poder de veto no CS, manifestaram oposição à idéia, preferindo continuar dando chance à diplomacia.
O diálogo com negociadores europeus foi congelado no começo do ano, depois que Teerã interrompeu a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA), suspendeu as inspeções em suas instalações nucleares e deu início a enriquecimento de urânio em pequena escala.

Ataque
A empresa de petróleo romena Grup Servicii Petroliere afirmou ontem que uma de suas plataformas no golfo Pérsico, que está em disputa judicial, foi atacada por um navio iraniano, cuja tripulação invadiu a instalação. Autoridades iranianas negaram que o navio tenha aberto fogo.
O grande temor dos mercados mundiais de petróleo desde a intensificação da polêmica em torno do programa nuclear iraniano é o de que o país tente usar sua posição estratégica no golfo Pérsico para interromper a exportação do combustível.


Com agências internacionais

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