São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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Teerã tem mais influência que EUA, diz dossiê

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

A destituição dos poderes de Saddam Hussein no Iraque e do Taleban no Afeganistão levaram a influência do Irã no Oriente Médio a superar a dos Estados Unidos.
A conclusão está no relatório "Irã, seus Vizinhos e as Crises Regionais", que o centro de análise Chatham House (The Royal Institute of International Affairs), com base em Londres, divulga hoje.
Segundo o documento, a influência iraniana está se expandindo no Oriente Médio e no Afeganistão graças a uma bem-sucedida estratégia diplomática, somada a ações de caridade na região.
"Enquanto os EUA jogam pôquer na região, o Irã joga xadrez", afirma Nadim Shehadi, um dos autores do relatório. "Os iranianos estão desenvolvendo um plano de longo prazo, mais astuto e bem-sucedido na conquista de corações e mentes."
Uma das conclusões do estudo da Chatham House é que a crescente facilidade com que o Irã opera na região "compromete seriamente" a capacidade dos EUA de confrontarem o governo de Mahmoud Ahmadinejad, que se tornou o inimigo número um de Washington por suas supostas ambições nucleares e seu apoio ao grupo xiita libanês Hizbollah contra Israel.
O relatório avalia que a administração de George W. Bush tem demonstrado pouca habilidade para usar instrumentos políticos e culturais na conquista de seus interesses estratégicos, enquanto o conhecimento iraniano da região, somado aos laços culturais e históricos, deu ao país uma grande vantagem em relação à influência ocidental.

Falta de imaginação
"A política do Ocidente em relação ao Oriente Médio é totalmente sem imaginação. Entre a negligência e a ação militar há um mundo de possibilidades que ainda precisa ser explorado", disse Ali Ansari, analista da Chatham House para o Oriente Médio.
Apesar do sucesso da política iraniana nas relações com seus vizinhos, o documento afirma que o país vive um conflito interno entre seu líder religioso, o aiatolá Ali Khamenei, e o presidente Mahmoud Ahmadinejad.
A recente decisão de Khamenei de criar um Conselho de Relações Exteriores é apontada como mais um indício dessa cisão.
Liderado pelo ex-ministro das Relações Exteriores do Irã, o moderado Kamal Kharrazi, o conselho recebeu a tarefa de criar a estratégia da política externa iraniana.
"A criação desta instituição ilustra a deterioração das relações entre Khamenei e Ahmadinejad, acrescentando um novo instrumento de coordenação política ao sistema, com o qual o presidente terá de conviver", diz o relatório.


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