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França retoma envolvimento no Iraque e apazigua os EUA
Visita de Bernard Kouchner a Bagdá é primeira de um ministro francês desde 2003
Objetivos da viagem do chanceler, que foi um defensor da deposição de Saddam pela força, ainda não estão esclarecidos
ANGELA CHARLTON
DA ASSOCIATED PRESS, EM PARIS
Quando os EUA estavam se
preparando para invadir o Iraque, Bernard Kouchner chocou
seus compatriotas franceses ao
afirmar que depor Saddam
Hussein não seria má idéia. Hoje, o médico e cruzado humanitário é o chefe da diplomacia
francesa, e nesta semana fez
uma visita surpresa a Bagdá para reinserir Paris na discussão
sobre o Iraque e amenizar as
relações com Washington.
Falando na capital iraquiana
devastada, o ministro francês
das Relações Exteriores disse
na terça-feira que é hora de a
França e a comunidade internacional deixarem os erros
passados dos EUA para trás e
ajudarem o país a resolver os
problemas do Iraque.
"Todo o mundo sabe que os
americanos não podem tirar
este país das dificuldades sozinhos", disse ele. Kouchner disse que os iraquianos "esperam
alguma coisa" da França. Mas
não revelou o que seria e não
propôs soluções sólidas.
Entretanto, Kouchner não
precisou propor nada para fazer-se ouvir. Sua visita ao Iraque foi a primeira de um alto
representante francês desde a
invasão americana do país, em
2003, refletindo a nova abordagem diplomática defendida pelo presidente Nicolas Sarkozy,
que quer elevar o perfil internacional da França e aquecer as
relações de seu país com os
EUA, após anos de frieza motivada pela campanha diplomática de seu antecessor, Jacques
Chirac, contra a guerra.
Olivier Roy, especialista do
Centro Nacional de Pesquisas
Científicas, disse que a visita de
Kouchner ao Iraque "simboliza
uma normalização das relações
com os EUA, mas não um alinhamento. Ela completa a
mensagem iniciada por Sarkozy quando ele foi eleito". E
acrescentou: "Se a França tem
condições de fazer alguma coisa para melhorar a situação no
Iraque, isso é outra questão".
Jean-Pierre Chevènement,
ex-ministro de governo socialista, acusou Kouchner de "arrepender-se" da oposição da
França à guerra e disse que a
viagem pode destruir a reputação diplomática da França no
mundo árabe. Kouchner retrucou sugerindo que Chevènement apoiava o "ditador manchado de sangue Saddam Hussein".
A declaração foi típica de
Kouchner, co-fundador do grupo Médicos Sem Fronteiras,
além de ex-administrador de
Kosovo enviado pela ONU.
Kouchner insistiu que a viagem foi idéia dele e não foi motivada pelo encontro de Sarkozy com Bush em Maine, no
início deste mês. "Não passamos pelos americanos para fazer esta viagem", disse ele.
Sua visita levou à retomada
de discussões sobre o futuro
das relações da França com o
Iraque, antes estreitas mas em
grande medida cortadas desde
a invasão de 2003.
Na terça-feira Kouchner falou sobre uma possível "participação" francesa no Iraque, mas
seu ministério procurou reduzir o impacto de seus comentários, sugerindo que tenham feito referência ao papel maior da
ONU no Iraque que a França já
vinha defendendo.
A viagem de Kouchner também levantou perguntas sobre
o recente interesse supostamente manifestado pela gigante petrolífera francesa Total
nos campos de petróleo do Iraque. Notícias veiculadas pela
mídia neste mês afirmam que a
Total e a Chevron Corporation
firmaram um acordo para a exploração conjunta do campo de
Majnoun, o quarto maior do
Iraque. O acordo não é oficial
porque o Parlamento iraquiano
ainda não aprovou uma lei sobre os hidrocarbonetos.
Tradução de CLARA ALLAIN
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