São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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França retoma envolvimento no Iraque e apazigua os EUA

Visita de Bernard Kouchner a Bagdá é primeira de um ministro francês desde 2003

Objetivos da viagem do chanceler, que foi um defensor da deposição de Saddam pela força, ainda não estão esclarecidos

ANGELA CHARLTON
DA ASSOCIATED PRESS, EM PARIS

Quando os EUA estavam se preparando para invadir o Iraque, Bernard Kouchner chocou seus compatriotas franceses ao afirmar que depor Saddam Hussein não seria má idéia. Hoje, o médico e cruzado humanitário é o chefe da diplomacia francesa, e nesta semana fez uma visita surpresa a Bagdá para reinserir Paris na discussão sobre o Iraque e amenizar as relações com Washington.
Falando na capital iraquiana devastada, o ministro francês das Relações Exteriores disse na terça-feira que é hora de a França e a comunidade internacional deixarem os erros passados dos EUA para trás e ajudarem o país a resolver os problemas do Iraque.
"Todo o mundo sabe que os americanos não podem tirar este país das dificuldades sozinhos", disse ele. Kouchner disse que os iraquianos "esperam alguma coisa" da França. Mas não revelou o que seria e não propôs soluções sólidas.
Entretanto, Kouchner não precisou propor nada para fazer-se ouvir. Sua visita ao Iraque foi a primeira de um alto representante francês desde a invasão americana do país, em 2003, refletindo a nova abordagem diplomática defendida pelo presidente Nicolas Sarkozy, que quer elevar o perfil internacional da França e aquecer as relações de seu país com os EUA, após anos de frieza motivada pela campanha diplomática de seu antecessor, Jacques Chirac, contra a guerra.
Olivier Roy, especialista do Centro Nacional de Pesquisas Científicas, disse que a visita de Kouchner ao Iraque "simboliza uma normalização das relações com os EUA, mas não um alinhamento. Ela completa a mensagem iniciada por Sarkozy quando ele foi eleito". E acrescentou: "Se a França tem condições de fazer alguma coisa para melhorar a situação no Iraque, isso é outra questão".
Jean-Pierre Chevènement, ex-ministro de governo socialista, acusou Kouchner de "arrepender-se" da oposição da França à guerra e disse que a viagem pode destruir a reputação diplomática da França no mundo árabe. Kouchner retrucou sugerindo que Chevènement apoiava o "ditador manchado de sangue Saddam Hussein".
A declaração foi típica de Kouchner, co-fundador do grupo Médicos Sem Fronteiras, além de ex-administrador de Kosovo enviado pela ONU.
Kouchner insistiu que a viagem foi idéia dele e não foi motivada pelo encontro de Sarkozy com Bush em Maine, no início deste mês. "Não passamos pelos americanos para fazer esta viagem", disse ele.
Sua visita levou à retomada de discussões sobre o futuro das relações da França com o Iraque, antes estreitas mas em grande medida cortadas desde a invasão de 2003.
Na terça-feira Kouchner falou sobre uma possível "participação" francesa no Iraque, mas seu ministério procurou reduzir o impacto de seus comentários, sugerindo que tenham feito referência ao papel maior da ONU no Iraque que a França já vinha defendendo.
A viagem de Kouchner também levantou perguntas sobre o recente interesse supostamente manifestado pela gigante petrolífera francesa Total nos campos de petróleo do Iraque. Notícias veiculadas pela mídia neste mês afirmam que a Total e a Chevron Corporation firmaram um acordo para a exploração conjunta do campo de Majnoun, o quarto maior do Iraque. O acordo não é oficial porque o Parlamento iraquiano ainda não aprovou uma lei sobre os hidrocarbonetos.


Tradução de CLARA ALLAIN


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