São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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ALEMANHA

Partido do atual premiê perde votos, mas, segundo estimativas, deve se manter no poder devido à boa votação dos Verdes

Enfraquecido, Schröder mantém o poder

Wolfgang Rattay/Reuters
O chnaceler (premiê) Gerhard Schröder faz sinal da vitória em Berlim ao saber dos resultados


MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O chanceler (premiê) alemão Gerhard Schröder parecia ter conseguido manter-se no poder ontem à noite, segundo estimativas de redes de TV, porém sua coalizão governamental, que reúne o seu Partido Social-Democrata (SPD) e os Verdes, do popular ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, parecia fadada a perder muito de sua força, conquistando uma estreita maioria no Bundestag (Parlamento).
Segundo a TV ARD, a aliança formada pela União Democrata Cristã (CDU) e pela União Social Cristã (CSU) e o SPD obtiveram 38,5%; os Verdes, 8,6%; o Partido Democrata Liberal (FDP), 7,2%, e o Partido do Socialismo Democrático (PDS), 3,8%.
Esses resultados dariam à coalizão SPD-Verdes aproximadamente 310 cadeiras no Bundestag, em torno de 295 a uma eventual coalizão CDU/CSU-FDP e duas aos socialistas. No sistema de voto distrital misto alemão, pode haver mandatos suplementares se um partido elege mais candidatos diretos do que sua porcentagem proporcional permitiria. Em tese, 598 estavam em disputa, mas às 2h (21h no Brasil), segundo as estimativas, o Bundestag já tinha 607 cadeiras com os mandatos suplementares.
Schröder não quis comentar a perda de força de sua coalizão antes que todos os votos estivessem contados, afirmando apenas que "uma maioria é uma maioria".
Seu maior oponente, o conservador governador da Baviera, Edmund Stoiber, exaltou a "vitória" de seu partido. "Uma coisa é certa: somos a maior força política da Alemanha", disse Stoiber ante simpatizantes da CSU antes de conhecer o resultado.
Se as estimativas forem confirmadas, os Verdes serão os grandes vencedores da eleição de ontem, pois, sem seus assentos no Bundestag, a atual coalizão governamental não poderia permanecer no poder.
Segundo o instituto Forschungsgruppe Wahlen, os Verdes ficariam com um resultado 2,1% superior ao obtido em 1998. Sua vantagem sobre o FDP seria, portanto, decisiva.
Os liberais do FDP, por sua vez, seriam os maiores perdedores da eleição, visto que, apesar de terem crescido em 1,3%, de acordo com o mesmo instituto, eles não conseguiram garantir uma mudança de governo com seu resultado no pleito.
"Os Verdes conseguiram lucrar com uma estratégia dos eleitores. Muitos deles votaram no candidato direto do SPD em seus distritos, mas preferiram dar seu voto proporcional aos Verdes, buscando garantir a manutenção da atual coalizão governamental, o que também explica o empate da aliança CDU/CSU com o SPD na eleição proporcional", disse à Folha Bernard von Grünemberg, deputado do SPD no Estado de Baden-Württemberg e membro da cúpula do partido.
"Além disso, por conta das inundações do mês passado, os eleitores podem ter demonstrado uma maior consciência em relação aos problemas ambientais, e os Verdes são, por essência, o partido que preconiza a defesa do ambiente. Junta-se a isso o fato de que os alemães aprovam a atual política externa do país. E o ministro das Relações Exteriores é o principal político dos Verdes." Ademais, Fischer é o político mais popular do país.
"Os liberais perderam muitos votos e não conseguiram atingir um resultado que poderia garantir a vitória de uma possível coalizão de centro-direita em parte por conta da controvérsia gerada pelas declarações de Jürgen Mölleman [um de seus vice-presidentes", que atacou o premiê de Israel, Ariel Sharon, e alguns líderes da comunidade judaica alemã. Trata-se de um tema muito sensível na Alemanha por causa de nossa história", analisou Manfred Nitsch, da Universidade Livre de Berlim.
Os resultados projetados pelas estimativas não dão grande esperança de mudança para os alemães, pois as forças deverão ficar muito divididas. Analistas financeiros prevêem dificuldades para o país, já que as necessárias reformas, como a redução das contribuições sociais e a flexibilização do mercado de trabalho, dificilmente serão feitas por um governo enfraquecido. Os mercados apostavam numa vitória de coalizão de centro-direita. "Seria a única capaz de ao menos tentar introduzir as reformas", disse Juergen Michels, analista do Citigroup. Outras coalizões também são possíveis, mas analistas políticos as consideram improváveis.

O jornalista Márcio Senne de Moraes viajou a convite do Escritório Federal de Imprensa da Alemanha


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