São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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Vitória é triunfo pessoal de chanceler e Fischer

DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

A eleição legislativa alemã teve dois grandes vencedores: o chanceler (premiê) Gerhard Schröder e o ministro da Relações Exteriores, Joschka Fischer, o principal responsável pela manutenção da atual coalizão -Partido Social-Democrata e Verdes- no poder.
Há pouco mais de um mês, a vitória parecia impossível para o chanceler social-democrata, que não conseguia convencer o eleitorado de que, embora tivesse dito o contrário quatro anos antes, merecia a reeleição apesar de não ter cumprido a promessa de reduzir o número de desempregados para 3,5 milhões. Após seus quatro anos à frente do governo, ainda há mais de 4 milhões de pessoas sem emprego no país (9,9% de sua população ativa).
Seu principal oponente, o conservador Edmund Stoiber, reputado por sua competência, insistia em lembrar a promessa não cumprida e, buscando não cometer nenhum deslize, mantinha-se na frente das pesquisas. Aí as coisas começaram a mudar para Schröder graças à catástrofe ambiental causada pelas inundações que atingiram o leste do país.
Com seriedade e brilho midiático, o chanceler soube ganhar votos com a administração da crise, encostando nas pesquisas e desviando a atenção do eleitorado do fraco balanço econômico de seu governo. Em seguida, apostou na tradição pacifista alemã e, num debate na TV, afirmou categoricamente que, sob seu comando, os alemães não participariam de uma ofensiva contra o Iraque.
Finalmente, Schröder decidiu pôr suas fichas na manutenção da atual coalizão governamental, apoiando abertamente os Verdes, de Fischer, e chegando ao ponto de realizar um inédito comício conjunto em Berlim (capital da Alemanha).
O líder dos Verdes, de passado conturbado de militância política -nas décadas de 60 e 70-, é o político mais popular da Alemanha. Após o pleito de ontem, seu partido poderá até pleitear um quarto ministério na administração, pois, sem os votos por ele obtido, dificilmente os social-democratas conseguiriam a governabilidade necessária para liderar o país por mais quatro anos.
Pouco depois de admitir a derrota, Stoiber prometeu fazer uma ferrenha oposição ao governo reeleito, chegando a declarar que a coalizão não se sustentaria no poder "por mais de um ano". Na verdade, segundo Manfred Nitsch, da Universidade Livre de Berlim, isso é pouco provável. Afinal, na Alemanha, para exigir a queda de um governo, a oposição é obrigada a apresentar um candidato alternativo.
Ora, se isso ocorrer, dificilmente os conservadores e os liberais conseguirão eleger seu candidato, já que, além das prováveis dez cadeiras a mais da coalizão governamental, o Bundestag ainda terá dois de seus assentos ocupados pelos socialistas. Estes, em nenhuma hipótese, votariam para um candidato conservador, pois correriam o risco de perder ainda mais sua base de apoio. (MSM)


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