São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Em vídeo na internet, outro seqüestrado, o britânico Kenneth Bigley, faz apelo a Blair por sua vida

Terror anuncia morte de reféns italianas

Andreas Solaro - 11.set.2004/France Presse
Moradores de Roma olham cartazes com fotos dos reféns Simona Torreta e Simona Pari (esq.) e Mahnaz Bassam e Raad Ali Aziz


DA REDAÇÃO

O grupo terrorista islâmico Organização Jihad no Iraque anunciou ontem em um site da internet ter matado as duas italianas que haviam sido seqüestradas no último dia 7. A informação não foi confirmada pelos governos iraquiano e italiano.
No comunicado, o grupo diz que matou as reféns porque a Itália se recusou a retirar suas tropas do país. Simona Pari e Simona Torretta, ambas com 29 anos de idade, trabalhavam no escritório que a organização humanitária Ponte para Bagdá mantinha na capital iraquiana. Elas foram seqüestradas com um iraquiano e uma iraquiana por cerca de 20 homens armados.
"Nós da Organização Jihad no Iraque anunciamos que o veredicto de Deus, determinando a morte, foi passado às duas prisioneiras depois que o governo italiano, comandando pelo vil [primeiro-ministro Silvio] Berlusconi, não deu ouvidos à nossa condição de retirada do Iraque. Advertimos o governo italiano que continuaremos a atacar. Atacaremos cada estrangeiro que viva no Iraque", afirma o comunicado.
No mês passado, seqüestradores mataram o jornalista Enzo Baldoni após o governo da Itália não concordar com a demanda de retirar seus 2.700 militares baseados no país -o terceiro maior contingente no Iraque, atrás dos EUA e do Reino Unido.

Refém britânico
O governo interino do Iraque ameaçou ontem ceder aos terroristas para salvar a vida do refém britânico Kenneth Bigley. Porém, após o anúncio inicial de que uma prisioneira iraquiana poderia ser libertada, a embaixada americana e o premiê Iyad Allawi negaram a possibilidade.
O grupo Tawhid e Jihad seqüestrou há uma semana, em Bagdá, Bigley e os americanos Eugene Armstrong e Jack Hensley. Os terroristas exigem a libertação de todas as mulheres mantidas em prisões do Iraque.
Liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi -ligado à rede Al Qaeda e um alvo prioritário dos EUA no Iraque-, eles já degolaram os americanos e ameaçam fazer o mesmo com Bigley. A decapitação de Hensley foi confirmada com a divulgação de um vídeo na internet ontem -data em que ele completaria 49 anos.
Inicialmente, o Ministério da Justiça iraquiano chegou a anunciar a libertação "sob condicional" da cientista Rihab Rashid Taha, acusada de ajudar na fabricação de armas químicas. Logo depois, Allawi, e a embaixada americana desmentiram a informação.
Os americanos dizem que há só duas mulheres nas prisões. Além de Taha, a outra prisioneira é a biotécnica Huda Salih Mahdi Ammash, que era o cinco de copas e a 53ª carta do baralho-lista com os 55 membros do regime de Saddam Hussein mais procurados pelos americanos. Elas foram apelidadas pelos americanos de "Dra. Germe" e "Sra. Antraz".
O Tawhid e Jihad também divulgou ontem vídeo com um apelo do seqüestrado do Reino Unido: "Ao sr. Blair: meu nome é Ken Bigley, de Liverpool. Acho que esta é possivelmente minha última chance. Eu não quero morrer. Eu não mereço".
"Nós estamos desesperados, acompanhando as notícias pela televisão. Nos sentimos terríveis, mas a porta ainda não está fechada", disse à Folha, em Londres, Jean Bigley, cunhada do refém.
O chanceler britânico, Jack Straw, mostrou-se sombrio em suas declarações: "Seria despropositado agir como se houvesse muita esperança. Acredito que a família entende que não podemos barganhar com terroristas".
Foi anunciada ontem a morte do xeque Abu Anas al Shami, 35, ocorrida na última sexta-feira, quando um míssil atingiu seu carro em Bagdá. Além de líder espiritual de Zarqawi, Al Shami era um de seus principais auxiliares.
A rede de TV francesa TF1 decidiu não mais manter jornalistas no Iraque. Dois repórteres franceses permanecem seqüestrados há mais de um mês no país.
Ontem foram libertados uma canadense que trabalhava para uma empreiteira, cujo seqüestro duas semanas atrás não havia sido anunciado, e um jordaniano, capturado havia um mês.
Depois de reunião com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o secretário de Estado americano, Colin Powell, anunciou que a União Européia ofereceu ajuda financeira para viabilizar o trabalho dos técnicos em eleição das Nações Unidas. Powell disse que Annan pretende aumentar o número de funcionários da ONU no Iraque e que não acredita que a violência possa provocar o cancelamento das eleições legislativas. "É razoável, é possível, é o objetivo", disse sobre a realização do pleito no fim de janeiro.
A explosão de um carro-bomba em rua movimentada de Bagdá matou 11 pessoas. A maioria delas estava em uma fila para se inscrever em um processo de seleção para empregos nas forças de segurança iraquianas. Outra explosão, no bairro Mansur, feriu quatro soldados americanos e dois iraquianos. O dia na capital iraquiana ainda teve outras 13 mortes no bairro Al Sadr, incluindo mulheres e crianças, causadas por bombardeio de tanques e aviões americanos.
Três soldados americanos morreram ontem em incidentes separados no norte do Iraque. O comando militar dos EUA anunciou que apresentou acusações contra dois soldados do Exército pela morte sem justificativas de três iraquianos.

Com ÉRICA FRAGA, de Londres, e agências internacionais


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