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Ceder é temerário, dizem analistas
DE LONDRES
Especialistas em segurança britânicos consultados pela Folha
consideram temerário ceder às
exigências dos terroristas em circunstâncias como as do Iraque.
"A história de Bigley é muito
triste. Estamos todos torcendo
para que ele seja libertado e entendemos a dor da família. Mas o
governo não pode deixar o coração guiar suas mãos", disse Paul
Wilkinson, da Universidade St.
Andrews, no Reino Unido.
É a mesma opinião de Timothy
Garden, analista de defesa e terrorismo do instituto britânico Chatam House. "Será uma notícia
muito ruim se as demandas dos
terroristas começarem a ser atendidas. Isso encorajaria mais grupos radicais a fazerem o mesmo."
Paul Cardew, especialista do
Rusi, centro de pesquisa sobre defesa e segurança, disse que a liberação de presos é recomendada
apenas como parte de negociações que estejam em curso.
"O governo britânico negociou,
por exemplo, a libertação de presos na Irlanda do Norte quando
começou o processo de paz. Mas
era um caso diferente. Havia uma
negociação entre as partes. Nos
casos dos seqüestros no Iraque,
não tem havido negociação."
De acordo com Wilkinson,
mesmo que o governo do Iraque
decidisse por conta própria libertar prisioneiros e afirmasse que a
resolução não tinha vínculo com a
demanda dos terroristas, a atitude
poderia ter efeitos ruins. "Os terroristas poderiam interpretar isso
como conseqüência de pressão do
governo britânico e passar a se
sentir com poder para influenciar
os governos ocidentais", disse.
De toda forma, especialistas dizem temer que a situação no Iraque já tenha atingido um ponto
crítico, de difícil reversão. Garden
diz que o risco, a partir de agora, é
que as famílias iraquianas, ainda
que valorizem a democracia, passem a se sentir mais seguras sob o
poder das milícias radicais.
"Isso é o que acontece quando
as pessoas passam a sentir que
suas famílias estão ameaçadas. No
Iraque, isso já tem levado ao fortalecimento das milícias e ao enfraquecimento do governo. A situação tem caminhado na direção de
uma anarquia", afirmou Garden.
Os terroristas, dizem analistas,
desenvolveram uma estratégia inteligente. Ao contrário da notícia
da explosão de uma bomba que,
por exemplo, é esquecida rapidamente pela imprensa, os seqüestros são prolongados e ganham
cobertura por vários dias.
"Isso dá visibilidade aos terroristas e fortalece o debate em torno deles eles", disse Garden.
(ÉRICA FRAGA)
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