São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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Ceder é temerário, dizem analistas

DE LONDRES

Especialistas em segurança britânicos consultados pela Folha consideram temerário ceder às exigências dos terroristas em circunstâncias como as do Iraque.
"A história de Bigley é muito triste. Estamos todos torcendo para que ele seja libertado e entendemos a dor da família. Mas o governo não pode deixar o coração guiar suas mãos", disse Paul Wilkinson, da Universidade St. Andrews, no Reino Unido.
É a mesma opinião de Timothy Garden, analista de defesa e terrorismo do instituto britânico Chatam House. "Será uma notícia muito ruim se as demandas dos terroristas começarem a ser atendidas. Isso encorajaria mais grupos radicais a fazerem o mesmo."
Paul Cardew, especialista do Rusi, centro de pesquisa sobre defesa e segurança, disse que a liberação de presos é recomendada apenas como parte de negociações que estejam em curso.
"O governo britânico negociou, por exemplo, a libertação de presos na Irlanda do Norte quando começou o processo de paz. Mas era um caso diferente. Havia uma negociação entre as partes. Nos casos dos seqüestros no Iraque, não tem havido negociação."
De acordo com Wilkinson, mesmo que o governo do Iraque decidisse por conta própria libertar prisioneiros e afirmasse que a resolução não tinha vínculo com a demanda dos terroristas, a atitude poderia ter efeitos ruins. "Os terroristas poderiam interpretar isso como conseqüência de pressão do governo britânico e passar a se sentir com poder para influenciar os governos ocidentais", disse.
De toda forma, especialistas dizem temer que a situação no Iraque já tenha atingido um ponto crítico, de difícil reversão. Garden diz que o risco, a partir de agora, é que as famílias iraquianas, ainda que valorizem a democracia, passem a se sentir mais seguras sob o poder das milícias radicais.
"Isso é o que acontece quando as pessoas passam a sentir que suas famílias estão ameaçadas. No Iraque, isso já tem levado ao fortalecimento das milícias e ao enfraquecimento do governo. A situação tem caminhado na direção de uma anarquia", afirmou Garden.
Os terroristas, dizem analistas, desenvolveram uma estratégia inteligente. Ao contrário da notícia da explosão de uma bomba que, por exemplo, é esquecida rapidamente pela imprensa, os seqüestros são prolongados e ganham cobertura por vários dias.
"Isso dá visibilidade aos terroristas e fortalece o debate em torno deles eles", disse Garden. (ÉRICA FRAGA)


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