São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2011

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ANÁLISE ORIENTE MÉDIO

Nova estratégia põe palestinos em rota incerta

Reivindicar seu reconhecimento como Estado pela ONU pode gerar exagerada expectativa popular e agravar violência

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Toda criança palestina cresce sabendo na ponta da língua os números básicos do conflito com Israel: resoluções 181 (partilha da Palestina), 242 (que determina a retirada de Israel de territórios ocupados), 1967 (ano da Guerra dos Seis Dias), etc.
Agora, o número da vez é o 194, que será o mais comemorado caso a Palestina seja aceita como o 194º membro das Nações Unidas. Trata-se de uma mudança de estratégia que traz promessas de apoio numa escala sem precedentes à causa palestina, mas que reserva alto grau de risco e incerteza.
Depois de adotar o terrorismo internacional nos anos 1970, embarcar na intifada (revolta popular) nos 1980 e em negociações com Israel nos 1990, sem sequer chegar perto da independência, a liderança palestina decidiu tentar algo novo.

APOSTA
Dominada pelo Fatah, o movimento criado por Yasser Arafat, a ANP (Autoridade Nacional Palestina) espera que a ida à ONU seja a arrancada de uma estratégia que tem como modelo a pressão internacional que isolou a África do Sul e culminou com o fim do regime do apartheid, em 1994.
A aposta inclui o estímulo a protestos pacíficos contra a ocupação israelense e o boicote a produtos originários de assentamentos judeus. Pressão política e moral, aliada à pressão econômica.
Questionados sobre o efeito prático de ter um Estado só no papel, caso a proposta passe na ONU, os líderes palestinos costumam dizer que nada têm a perder, já que tudo que tentaram antes não deu certo. Mas há riscos.
Um deles é criar uma expectativa exagerada entre a população palestina, o que poderia levar a uma explosão de violência se tudo continuar na mesma.
Outro é a ANP desmoronar, caso os principais doadores, a União Europeia e os EUA, retirem o financiamento que sustenta o governo palestino.
Uma consequência quase certa será o agravamento da divisão interna entre os palestinos, já que o grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza, se opõe abertamente à iniciativa na ONU.


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