São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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PC chinês indica 2 nomes para suceder Hu

Congresso deixa dúvida sobre quem ascenderá à Presidência do país em 2012; há possibilidade de disputa pela sucessão

Apresentação da nova elite dirigente comunista não permitiu perguntas; mesmo vitorioso, Hu não domina cúpula escolhida por partido

Ju Peng/Xinhua-Reuters
Hu Jintao (quarto a partir da direita), ao lado de seu antecessor, Jiang Zemin (dir.), e do premiê Wen Jiabao no encerramento do congresso

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

Dois "jovens" na faixa dos 50 que trabalharam como camponeses na Revolução Cultural (1966-1976) foram escolhidos ontem pelo Partido Comunista para assumir o comando da China a partir de 2012, quando a geração do atual presidente, Hu Jintao, deixará o poder.
Xi Jinping, 54, e Li Keqiang, 52, são os mais jovens entre os nove integrantes do novo Comitê Permanente do Politburo, o órgão máximo do poder chinês. Nenhum deles foi apresentado expressamente como sucessor de Hu Jintao e do atual premiê, Wen Jiabao, nem houve uma indicação clara de qual ocupará a Presidência ou será primeiro-ministro.
Mas as palavras de Hu Jintao e a posição de ambos no Politburo indicam que eles são os escolhidos e que Xi Jinping tem ascendência sobre Li Keqiang.
Os nove integrantes do novo Comitê Central do Politburo se apresentaram ontem diante de centenas de jornalistas e fotógrafos em um dos salões do Grande Palácio do Povo, na praça Tiananmen, em Pequim.
Perguntas estavam expressamente proibidas e a única pessoa que discursou foi Hu Jintao. Ao apresentar Xi Jinping e Li Keqiang, o presidente ressaltou que os dois eram "relativamente jovens", uma maneira de os diferenciar dos demais ocupantes do grupo dos nove, o mais novo com 64 anos.
Isso significa que todos deverão se aposentar no próximo congresso do PC, em cinco anos, já que existe uma regra não escrita que fixa em 68 anos o limite de idade para os organismos de cúpula da legenda.
Além de integrar o Comitê Permanente do Politburo, Xi Jinping foi apontado para a Secretaria do Comitê Central, a exemplo do que aconteceu com o próprio Hu em 1992, quando foi escolhido para suceder Jiang Zemin, o que ocorreu uma década mais tarde.
Em outro sinal de ascendência, seu nome foi o primeiro do grupo dos quatro novos integrantes do Politburo a aparecer no documento com o perfil de todos entregue à imprensa, à frente de Li Keqiang, He Guoqiang e Zhou Yongkang. Antes dele, apareciam os cinco nomes reconduzidos ao órgão, como o próprio Hu e Wen Jiabao.
A escolha de dois nomes fortes para compor o Comitê Permanente do Politburo é uma inovação no processo de sucessão. Quando ingressou no órgão, em 1992, aos 49 anos, Hu Jintao era claramente o escolhido para comandar o país quando Jiang Zemin deixasse o cargo. Wen Jiabao só entrou no Comitê Permanente do Politburo em 2002, a poucos meses de se tornar primeiro-ministro.
A opção por dois nomes pode indicar a maior necessidade de composição entre as correntes do partido ou a decisão de estabelecer um processo interno de competição. Ambos seriam testados nos próximos cinco anos e um deles seria escolhido ao fim desse período. A concorrência entre os candidatos poderia indicar uma maior abertura do partido, mas dificultar a aprovação de decisões políticas e administrativas.
O Politburo e seu Comitê Permanente foram definidos ontem na primeira sessão plenária do 17º Comitê Central, eleito no domingo, no encerramento do congresso do Partido Comunista, evento que ocorre a cada cinco anos.
Apesar de o sucessor de sua preferência, Li Keqiang, ter aparecido em posição inferior à de Xi Jinping, Hu saiu do congresso fortalecido e à frente de um Politburo menos influenciado por seu antecessor e maior oponente no partido, Jiang Zemin. Candidatos claramente ligados ao ex-presidente estiveram entre os que receberam menos votos, de acordo com a classificação dos eleitos para o Comitê Central divulgada pela agência oficial Xinhua.
Mas a composição do Politburo deixou claro que a cúpula do partido colocou limites a seu poder, na tentativa de evitar o modelo de um líder todo-poderoso, como foram Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping.


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