São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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Irã não é uma ameaça iminente, diz El Baradei

DO "MONDE"

Prestes a entregar sua avaliação sobre o controverso programa nuclear do Irã, da qual depende a votação de novas sanções sobre o país pela ONU, Mohamed El Baradei não vê Teerã como ameaça iminente. Diretor da AIEA, a agência atômica da ONU, o egípcio tem sofrido críticas dos EUA por ser leniente com o programa iraniano -que Washington diz visar a bomba, e Teerã, eletricidade. Em entrevista ao "Le Monde", El Baradei alfinetou a política americana e disse que a força pode agravar o problema. Leia os principais trechos:

 

PERGUNTA - Como está a cooperação do Irã com a AIEA? O prazo [novembro] pode ser ser prolongado?
MOHAMED EL BARADEI
- O Irã declarou que em alguns meses estará pronto para discutir conosco questões em suspenso, o que é crucial para nossa tarefa: esclarecer dúvidas, poder dizer que atividades passadas e presentes do Irã são "limpas". Mas isso exige tempo. É possível que demore até dezembro. Mas, se os iranianos deixarem passar essa chance, a comunidade internacional dirá: "Tínhamos razão em não confiar no Irã".

PERGUNTA - Sua posição foi criticada por autoridades ocidentais como branda demais. Paradoxalmente ela não aumenta o risco de ação militar?
EL BARADEI
- Não falaremos em uso da força enquanto todos os meios da diplomacia não tiverem sido esgotados, e ainda temos muito tempo para usar todas as ferramentas diplomáticas. Se supusermos que o Irã quer ter a bomba nuclear, o país ainda precisará de três a oito anos para chegar a isso. Quero tirar das pessoas a idéia de que o Irã será uma ameaça amanhã e de que estamos, já, diante da questão de bombardeá-lo ou permitir a bomba. Não é essa a situação. O Iraque é um exemplo de que, em muitos casos, recorrer à força exacerba o problema.

PERGUNTA - Segundo a imprensa americana, recentes ataques de Israel na Síria visaram a construção de um reator nuclear. Há fundamento?
EL BARADEI
- Na AIEA, recebemos zero informações nesse sentido. Contatamos os sírios e as agências de inteligência estrangeiras. Francamente, espero que, antes de as pessoas usarem a força, elas venham nos informar de seus temores. Se isso tivesse sido feito, teríamos ido a campo verificar.

PERGUNTA - Como essa ação reflete sobre o dossiê nuclear iraniano?
EL BARADEI
- Espero que dentro em breve eu saiba o que, exatamente, aconteceu na Síria. Alguns setores têm a tendência a falar rápido demais no recurso à força, brandindo essa idéia de "guerra justa" ou "guerra preventiva". Quando os israelenses destruíram o reator nuclear de pesquisas de Saddam Hussein, em 1981 (Osirak), a conseqüência foi que ele levou seu programa adiante na clandestinidade. O recurso à força pode prorrogar os prazos, mas não trata das raízes do problema.


Tradução de CLARA ALLAIN


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