São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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Desigualdade aumenta na China

Segundo estudo do Banco Mundial, os 10% mais pobres tiveram queda da renda entre 2001 e 2003

País é mais desigual do que EUA e Rússia; governo ainda hesita entre agir contra disparidade ou deixar que só crescimento atue


DO "FINANCIAL TIMES"

Os pobres da China empobreceram ainda mais, em um período em que o país estava se tornando mais rico, de acordo com uma análise do Banco Mundial. A renda real dos 10% mais pobres entre o 1,3 bilhão de chineses caiu em 2,4% em prazo de 24 meses, entre 2001 e 2003, período em que a economia estava crescendo ao ritmo de quase 10% ao ano.
Ao longo do mesmo período, a renda dos 10% mais ricos dentre os chineses cresceu em mais de 16%. Bert Hofman, o principal economista do banco para a China, disse que "a renda média dos 10% mais pobres da população caiu ligeiramente entre 2001 e 2003, enquanto todas as demais categorias de renda registravam elevação significativa".
As conclusões representam um desafio às políticas do governo para reduzir a distância entre as faixas de renda, questão que é considerada sensível em termos políticos. Hu Jintao, presidente que assumiu o poder em 2002 e provavelmente será reeleito para novo mandato de cinco anos no ano que vem, fez da redução da disparidade de renda uma das metas centrais de seu governo.
A China, que tinha distribuição de renda relativamente equilibrada em 1980, quando deu início às suas reformas de mercado, agora é "menos igual" que os Estados Unidos e a Rússia, em termos do coeficiente Gini, uma medida padronizada de disparidade de renda.
A melhor maneira de reduzir essa disparidade se tornou tema de debate intenso, com muitos observadores afirmando que o crescimento econômico, por si só, representa a melhor maneira de combater a pobreza, ainda que os resultados sejam desiguais.

Maré alta
Arthur Kroeber, da Dragonomics, uma consultoria de Pequim, disse que a conclusão do Banco Mundial é "muito significativa", pois demonstra que o argumento de que "a maré alta ergue todos os barcos igualmente" não procede. A queda na renda dos chineses mais pobres não pode ser explicada com base no declínio da receita agrícola, já que os preços dos alimentos mostravam alta em ritmo muito mais acelerado do que os preços urbanos, em dezembro de 2003.
Ao longo do período de dois anos que o estudo abarca, a inflação foi baixa e, em um dos anos, 2002, negativa.
Yasheng Huang, da Escola Sloan de Administração, disse que, embora as constatações do Banco Mundial não o surpreendam, a pobreza na China poderia ser ainda pior. A definição chinesa da linha de pobreza subestima as dimensões do problema, ao considerar como pobres as pessoas com renda inferior a 650 yuan ou US$ 82,50 ao ano, o que representa apenas 5% da renda per capita do país, ante o padrão norte-americano de 12% para o mesmo indicador, diz.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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