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Oposição promove "golpe", diz Morales
Partido oposicionista se retira do Senado e bloqueia votação sobre reforma agrária, agravando a crise política boliviana
Votação por maioria simples na Constituinte e projeto de lei de fiscalização de governadores põem a oposição na ofensiva
Aizar Raldes/France Presse
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Marcha de indígenas quéchuas e aimarás pela aprovação da reforma agrária no Senado se encaminha de Cochabamba para La Paz |
DA REDAÇÃO
Em mais um capítulo da crise
política boliviana, o maior partido da oposição anunciou ontem a retirada de sua bancada
do Senado, bloqueando um
projeto de lei agrária considerado vital para o governo. A manobra foi qualificada de "golpe
institucional" pelo presidente
Evo Morales.
"Que o povo boliviano se dê
conta deste golpe institucional
contra o Congresso nacional e a
democracia", disse Morales.
Segundo ele, a manobra da oposição também paralisa a aprovação dos contratos assinados
no mês passado com dez multinacionais petrolíferas, incluindo a Petrobras, dentro do decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos.
Com a decisão tomada anteontem à noite pelo partido de
centro-direita Podemos (Poder
Democrático e Social), que tem
a maior bancada do Senado, a
oposição deixa parado o projeto de reforma agrária aprovado
na semana passada na Câmara
dos Deputados, onde o governista MAS (Movimento ao Socialismo) tem maioria.
O Podemos controla 13 das
27 vagas do Senado, contra 12
do MAS. Os outros dois senadores estão com a oposição.
O projeto de lei do governo
dá mais poderes ao Executivo
para desapropriar terras improdutivas e usá-las para reforma agrária, limitando recursos
judiciais. Anteontem, um protesto organizado por grandes
produtores rurais reuniu ao
menos 5.000 pessoas no departamento de Santa Cruz. Ao
mesmo tempo, três marchas
indígenas que apóiam o governo prometem "cercar" La Paz e
fazer uma vigília até a aprovação do projeto.
Ontem, cerca de mil indígenas chegaram a Cochabamba
(região central), berço político
de Morales, depois de caminhar 600 km em três semanas.
Também em Cochabamba,
líderes empresariais anunciaram manifestações para hoje e
amanhã contra o governo, assim como em Santa Cruz, principal pólo econômico país.
Constituinte
Além do projeto de reforma
agrária, dois outros temas contribuem para a tensão política
boliviana: a Assembléia Constituinte, onde a oposição se recusa a aceitar o sistema de votação por maioria simples aprovado na semana passada; e o
rompimento de seis dos nove
governadores com o governo,
por causa de um projeto de lei
enviado ao Congresso na segunda-feira que dá poderes ao
Executivo para destitui-los.
O principal líder do Podemos, o ex-presidente Jorge
"Tuto" Quiroga, disse que sua
bancada só voltará ao Senado
se Morales revisar a sua política
na Assembléia Constituinte e o
projeto de lei para fiscalizar governadores. "Morales está colocando em risco a unidade do
país e pisoteando a democracia", disse Quiroga.
A manobra do Podemos provocou reações dos movimentos
sociais que apóiam Morales.
"Não nos resta outra coisa: vamos fechar o Parlamento", advertiu Anselmo Martínez, líder
de uma das colunas de indígenas que se encaminham para
La Paz. O senador do MAS Guido Guardia disse que o Podemos tenta "desestabilizar o
país". Por outro lado, o presidente da poderosa Câmara
Agropecuária do Oriente
(CAO), Mauricio Roca, pediu
"firmeza" aos senadores opositores na resistência à lei agrária
de Morales.
A deterioração do ambiente
político acelerou-se depois que
a maioria governista aprovou,
na sexta-feira, o sistema de votação por maioria simples na
Assembléia, o que livra o MAS
de negociar com a oposição a
aprovação de artigos constitucionais. A decisão contraria a
Lei de Convocatória aprovada
em março pelo Congresso, que
estabelece a aprovação por dois
terços dos votos.
Para a analista política Ximena Costa, da Universidade Andina Simón Bolívar, o que está
em jogo é a intenção de Morales de fortalecer o Executivo sobre os demais Poderes.
Com agências internacionais
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