São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2007

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Colômbia afasta Chávez de negociação com as Farc

Uribe agora diz que venezuelano "pôs em risco a segurança democrática" de seu país

Decisão põe fim a 3 meses de mediação para soltura de reféns, com pouco resultado prático; colombiano negara salvo-conduto a guerrilheiro

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, encerrou a participação do colega Hugo Chávez e da senadora oposicionista colombiana Piedad Córdoba nas negociações para a troca de 45 reféns mantidos pelas Farc por cerca de 500 guerrilheiros presos. O anúncio, anteontem à noite, põe fim a quase três meses de envolvimento do presidente venezuelano, marcado por atritos com Bogotá, reuniões com apelo midiático e poucos resultados práticos.
Em curto comunicado lido pelo porta-voz de Uribe, o governo colombiano disse que a decisão foi tomada depois que Chávez conversou por telefone anteontem com o comandante do Exército da Colômbia, general Mario Montoya.
A ligação foi feita de Cuba pela senadora Córdoba, segundo o jornal colombiano "El Tiempo". Em seguida, ela passou o telefone ao presidente venezuelano, que teria perguntado sobre o paradeiro dos seqüestrados pelas Farc.
"Na reunião de Santiago, o presidente Uribe havia dito ao presidente Hugo Chávez que não estava de acordo com que o presidente da Venezuela se comunicasse diretamente com o alto mando institucional da Colômbia", diz a nota. "Em conseqüência, o presidente dá por terminada a facilitação da senadora Piedad Córdoba e a mediação do presidente Hugo Chávez, aos quais agradece."
"Temos de fazer todos os esforços pela paz, pelo acordo humanitário, mas levando em conta que isso não pode colocar a segurança democrática em risco", disse Uribe ontem, em referência à sua política linha-dura que intensificou ações militares contra as Farc.

"Eu lamento"
Chávez só se pronunciou na noite de ontem, em ato da campanha eleitoral para o referendo sobre sua reforma constitucional, no dia 2. Foi contido, mas reclamou de não ter sido informado com antecedência. "O governo da Colômbia decidiu de maneira unilateral, sem nos consultar, sem uma chamada nem sequer para perguntar sobre isso ou aquilo. Bom, eu lamento", disse.
Ele afirmou que ainda espera que as Farc entreguem provas de vida dos seqüestrados e que continuará "à disposição" caso seja chamado novamente.
Antes, a Chancelaria venezuelana divulgara nota curta: "A Venezuela aceita essa decisão soberana do governo da Colômbia, mas manifesta sua frustração, dado que se aborta um processo que vinha sendo conduzido com pulso firme e em meio a grandes dificuldades, tendo obtido em apenas três meses avanços importantes que faziam pensar na possibilidade de uma solução a esse drama essencialmente humano que afeta a nossa irmã e querida Colômbia."
A decisão de Uribe foi antecedida de uma série de atritos com Chávez nas últimas semanas, sobretudo em torno de um possível encontro do presidente venezuelano com o líder máximo das Farc, Manuel "Tirofijo" Marulanda.
Depois de negar um salvo-conduto para que Marulanda viajasse à Venezuela, o governo Uribe disse que só permitiria o encontro depois que as Farc libertassem um primeiro grupo de reféns. Chávez considerava a reunião crucial para as negociações e pressionava publicamente Uribe por ela.
Na segunda-feira, demonstrando irritação com declarações de Chávez em sua viagem à Europa, Uribe disse que a mediação do venezuelano terminaria em dezembro, independentemente do resultado.
Desde a autorização de Uribe para que mediasse o acordo, em 31 de agosto, Chávez colocou as negociações com as Farc no topo de sua agenda externa. Promoveu encontros com uma comitiva da guerrilha, com familiares dos seqüestrados e até com parentes dos três americanos em poder das Farc.
Ao longo de todo esse período, porém, as Farc não cederam na exigência de criação de uma zona desmilitarizada como condição para um acordo, o que Uribe não aceita.


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