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Colômbia afasta Chávez de negociação com as Farc
Uribe agora diz que venezuelano "pôs em risco a segurança democrática" de seu país
Decisão põe fim a 3 meses de mediação para soltura de reféns, com pouco resultado prático; colombiano negara salvo-conduto a guerrilheiro
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente da Colômbia,
Álvaro Uribe, encerrou a participação do colega Hugo Chávez
e da senadora oposicionista colombiana Piedad Córdoba nas
negociações para a troca de 45
reféns mantidos pelas Farc por
cerca de 500 guerrilheiros presos. O anúncio, anteontem à
noite, põe fim a quase três meses de envolvimento do presidente venezuelano, marcado
por atritos com Bogotá, reuniões com apelo midiático e
poucos resultados práticos.
Em curto comunicado lido
pelo porta-voz de Uribe, o governo colombiano disse que a
decisão foi tomada depois que
Chávez conversou por telefone
anteontem com o comandante
do Exército da Colômbia, general Mario Montoya.
A ligação foi feita de Cuba pela senadora Córdoba, segundo
o jornal colombiano "El Tiempo". Em seguida, ela passou o
telefone ao presidente venezuelano, que teria perguntado
sobre o paradeiro dos seqüestrados pelas Farc.
"Na reunião de Santiago, o
presidente Uribe havia dito ao
presidente Hugo Chávez que
não estava de acordo com que o
presidente da Venezuela se comunicasse diretamente com o
alto mando institucional da Colômbia", diz a nota. "Em conseqüência, o presidente dá por
terminada a facilitação da senadora Piedad Córdoba e a mediação do presidente Hugo
Chávez, aos quais agradece."
"Temos de fazer todos os esforços pela paz, pelo acordo humanitário, mas levando em
conta que isso não pode colocar
a segurança democrática em
risco", disse Uribe ontem, em
referência à sua política linha-dura que intensificou ações militares contra as Farc.
"Eu lamento"
Chávez só se pronunciou na
noite de ontem, em ato da campanha eleitoral para o referendo sobre sua reforma constitucional, no dia 2. Foi contido,
mas reclamou de não ter sido
informado com antecedência.
"O governo da Colômbia decidiu de maneira unilateral, sem
nos consultar, sem uma chamada nem sequer para perguntar sobre isso ou aquilo. Bom,
eu lamento", disse.
Ele afirmou que ainda espera
que as Farc entreguem provas
de vida dos seqüestrados e que
continuará "à disposição" caso
seja chamado novamente.
Antes, a Chancelaria venezuelana divulgara nota curta:
"A Venezuela aceita essa decisão soberana do governo da Colômbia, mas manifesta sua
frustração, dado que se aborta
um processo que vinha sendo
conduzido com pulso firme e
em meio a grandes dificuldades, tendo obtido em apenas
três meses avanços importantes que faziam pensar na possibilidade de uma solução a esse
drama essencialmente humano que afeta a nossa irmã e querida Colômbia."
A decisão de Uribe foi antecedida de uma série de atritos
com Chávez nas últimas semanas, sobretudo em torno de um
possível encontro do presidente venezuelano com o líder máximo das Farc, Manuel "Tirofijo" Marulanda.
Depois de negar um salvo-conduto para que Marulanda
viajasse à Venezuela, o governo
Uribe disse que só permitiria o
encontro depois que as Farc libertassem um primeiro grupo
de reféns. Chávez considerava
a reunião crucial para as negociações e pressionava publicamente Uribe por ela.
Na segunda-feira, demonstrando irritação com declarações de Chávez em sua viagem à
Europa, Uribe disse que a mediação do venezuelano terminaria em dezembro, independentemente do resultado.
Desde a autorização de Uribe
para que mediasse o acordo, em
31 de agosto, Chávez colocou as
negociações com as Farc no topo de sua agenda externa. Promoveu encontros com uma comitiva da guerrilha, com familiares dos seqüestrados e até
com parentes dos três americanos em poder das Farc.
Ao longo de todo esse período, porém, as Farc não cederam
na exigência de criação de uma
zona desmilitarizada como
condição para um acordo, o que
Uribe não aceita.
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