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Correa telefona a Lula para amenizar crise
Ligação, que Planalto avaliou como pouco produtiva, segue decisão brasileira de convocar para consulta embaixador em Quito
Presidente do Equador diz lamentar ação diplomática, tomada em retaliação à sua decisão de recorrer para não pagar dívida com BNDES
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente do Equador,
Rafael Correa, telefonou na
manhã de ontem ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, na
tentativa de evitar desgaste
ainda maior na relação entre os
dois países, aprofundado com a
decisão de Quito de recorrer a
uma corte internacional para
suspender o pagamento de
uma dívida de US$ 243 milhões
com o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social).
A conversa, segundo avaliação de integrantes do governo
brasileiro, não foi produtiva.
Lula demonstrou "profunda insatisfação" com a forma e o
conteúdo da atitude de Correa
e avisou que ouvirá o embaixador Antonino Marques Porto,
chefe do corpo diplomático do
Brasil em Quito, e o próprio
BNDES antes de tomar uma
decisão sobre o contencioso.
Disse ainda que sua resposta
será comunicada pelas vias diplomáticas.
Correa, de acordo com assessores de Lula, afirmou no telefonema "lamentar profundamente" o fato de que suas ações
e declarações possam ter trazido "ruído" ou "desentendimento" nas relações entre os dois
países. O equatoriano não pediu desculpas, nem sinalizou
recuo, mas terminou a conversa com elogios a Lula. Disse que
o brasileiro é uma referência
para a geração dele, e que tem
admiração pelo petista.
O gesto não convenceu Lula.
De acordo com assessores, o
brasileiro deixou claro no telefonema que a conversa não colocava fim à crise. Lula ficou especialmente irritado com a forma com que Correa anunciou o
recurso à corte internacional,
num evento público, sem prévia consulta nem notificação ao
governo brasileiro, apesar de
recentemente os dois dirigentes terem se encontrado.
Interlocutores de Lula disseram que a conversa não foi tensa nem antipática, mas não
houve avanço. Desde sexta
Correa tentava o contato, mas o
telefonema só ocorreu às 10h.
Incompreensível
Pouco depois da conversa,
Correa classificou a retirada do
embaixador "incompreensível"
e "lamentável", já que o recurso
à arbitragem internacional está
previsto no contrato e, portanto, deveria ser considerado
uma questão comercial.
"Se querem converter um
problema comercial e financeiro num incidente diplomático,
isso é responsabilidade exclusiva do Brasil. Sempre teremos
os braços abertos para o embaixador do Brasil, para o povo do
Brasil e para o querido presidente Lula da Silva", disse, em
seu programa semanal via rádio, TV e internet.
O equatoriano disse que o
problema começou com a Odebrecht, "que, quanto mais cavamos, mais cheira mal. E também tem a ver com o financiamento para esse crédito."
"O que fez Equador? (...) Pela
primeira vez, não é uma empresa privada que recorre à arbitragem, mas nós recorremos à
arbitragem contra a empresa e
a financiadora, que é o BNDES.
Como diz o contrato."
Sobre o telefonema, Correa
relatou ter dito ao colega brasileiro que "respeitamos, mas
não concordamos [com a decisão]". "Não desistiremos de seguir defendendo os interesses
do país, custe o que custar."
Anteontem, o governo brasileiro anunciou a convocação
para consultas do embaixador
do Brasil em Quito, medida
considerada hostil na diplomacia. O chanceler Celso Amorim
deixou claro que o gesto representava um protesto do Brasil
pela decisão unilateral de Correa de ir à Corte Internacional
de Arbitragem de Paris para
suspensão do pagamento da dívida com o BNDES.
O empréstimo foi concedido
pelo banco para a construção
da hidrelétrica San Francisco,
obra da brasileira Odebrecht
contratada pelo governo equatoriano e paralisada no primeiro ano de operação devido a
problemas estruturais. Irritado
com o impasse nas negociações
sobre a responsabilidade dos
problemas na usina, Correa
rescindiu os quatro contratos
da empresa em execução no
país, alegando irregularidades.
Anteontem, Amorim sinalizou que todos os acordos de
cooperação bilateral poderão
ser afetados, como retaliação.
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