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Verdes terão "Obama alemão" como líder
Eleito há uma semana, Cem Özdemir, 42, é o primeiro filho de imigrantes turcos a tomar a frente de uma sigla alemã
Com linha pragmática, político quer tirar legenda da rabeira nas pesquisas e rechaça comparações com presidente eleito nos EUA
RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pela primeira vez, as rédeas
de um partido na Alemanha estão nas mãos de um filho de
imigrantes turcos. Cem Özdemir, 42, foi eleito chefe do Partido Verde pelo Congresso da
legenda, há uma semana, com
79,2% dos votos. Ele dividirá o
comando da sigla com Claudia
Roth, reeleita com 82%.
Num país em que os turcos
são o maior grupo de imigrantes -representam um quarto
dos pouco mais de 7 milhões de
estrangeiros na Alemanha (dados de 2007)-, os eleitores de
Özdemir não tardaram a designá-lo como o "Barack Obama
alemão". Mas o próprio Özdemir minimizou os gritos de
"Yes, we Cem!" de muitos de
seus eleitores, referência ao
slogan do presidente eleito
norte-americano. "Não queria
isso. Sou o Özdemir dos Verdes", afirmou, em entrevista ao
diário "Financial Times".
"As origens turcas não favorecem Özdemir. Ele foi eleito
por ser realista. Quer fazer o
que é possível e sair da teoria",
disse à Folha Lothar Probst,
professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade
de Bremen.
Além do pragmatismo, Özdemir é conhecido pelo carisma.
Sua cara jovem e as costeletas
"à la Elvis Presley" aparecem
com freqüência nos programas
de televisão. Mas, até agora, a
carreira foi marcada por altos e
baixos. Ele estreou na política
em 1994. Então protegido de
Joschka Fischer, ex-patriarca
do Partido Verde, foi o primeiro filho de imigrantes a ingressar no Parlamento alemão.
Em 2002, teve que abandonar o cargo de deputado alemão por ter sido acusado de
usar milhas de viagem a título
pessoal. Em 2004, voltou aos
holofotes, quando foi eleito para o Parlamento Europeu.
"Ele tem novas visões para o
partido, quer discutir grandes
questões sociais, como a política financeira e a ecologia", avalia Probst. A crise financeira e a
questão climática, segundo Özdemir, têm apenas uma solução: um "New Deal verde". Outro grande tema que ele defende é a justiça social.
As propostas de Özdemir, no
entanto, não são consenso no
Partido Verde alemão. Alguns
membros da agremiação criticam o posicionamento "fraco"
do novo chefe, especialmente
no que diz respeito às questões
ambientais. Özdemir também
já causou polêmica ao anunciar
que quer trabalhar com os conservadores da CDU (União dos
Democratas-Cristãos), partido
da chanceler Angela Merkel.
"Isso certamente desagradou a muitos verdes. Historicamente, a CDU é um partido
"inimigo'", afirma Probst.
Uma parceria "verde-negra",
contudo, não está excluída no
plano nacional -especialmente se Merkel não conseguir
maioria significativa sobre os
social-democratas nas eleições
legislativas do ano que vem.
Segundo analistas ouvidos
pela Folha, os Verdes querem
abocanhar a fatia central do
eleitorado alemão para voltar
ao governo -de 1998 a 2005, o
social-democrata Gerhard
Schröder dividiu o poder com
Joschka Fischer, então vice-chanceler e ministro das Relações Exteriores. O analista político Franz Walter escreveu na
edição on-line do semanário
"Der Spiegel" que "os Verdes
não são mais alternativos; são a
favor de um estilo de vida sustentável, mas celebram o consumo de luxo. Nenhum partido
na Alemanha é tão dominado
por uma elite intelectual".
Para Probst, se os Verdes, em
quinto lugar nas pesquisas com
10% das intenções de voto, quiserem ter chances em 2009, "a
cúpula do partido precisa unificar o discurso e chegar a um
consenso com os candidatos às
eleições legislativas".
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