São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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Verdes terão "Obama alemão" como líder

Eleito há uma semana, Cem Özdemir, 42, é o primeiro filho de imigrantes turcos a tomar a frente de uma sigla alemã

Com linha pragmática, político quer tirar legenda da rabeira nas pesquisas e rechaça comparações com presidente eleito nos EUA


RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pela primeira vez, as rédeas de um partido na Alemanha estão nas mãos de um filho de imigrantes turcos. Cem Özdemir, 42, foi eleito chefe do Partido Verde pelo Congresso da legenda, há uma semana, com 79,2% dos votos. Ele dividirá o comando da sigla com Claudia Roth, reeleita com 82%.
Num país em que os turcos são o maior grupo de imigrantes -representam um quarto dos pouco mais de 7 milhões de estrangeiros na Alemanha (dados de 2007)-, os eleitores de Özdemir não tardaram a designá-lo como o "Barack Obama alemão". Mas o próprio Özdemir minimizou os gritos de "Yes, we Cem!" de muitos de seus eleitores, referência ao slogan do presidente eleito norte-americano. "Não queria isso. Sou o Özdemir dos Verdes", afirmou, em entrevista ao diário "Financial Times".
"As origens turcas não favorecem Özdemir. Ele foi eleito por ser realista. Quer fazer o que é possível e sair da teoria", disse à Folha Lothar Probst, professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Bremen.
Além do pragmatismo, Özdemir é conhecido pelo carisma. Sua cara jovem e as costeletas "à la Elvis Presley" aparecem com freqüência nos programas de televisão. Mas, até agora, a carreira foi marcada por altos e baixos. Ele estreou na política em 1994. Então protegido de Joschka Fischer, ex-patriarca do Partido Verde, foi o primeiro filho de imigrantes a ingressar no Parlamento alemão.
Em 2002, teve que abandonar o cargo de deputado alemão por ter sido acusado de usar milhas de viagem a título pessoal. Em 2004, voltou aos holofotes, quando foi eleito para o Parlamento Europeu.
"Ele tem novas visões para o partido, quer discutir grandes questões sociais, como a política financeira e a ecologia", avalia Probst. A crise financeira e a questão climática, segundo Özdemir, têm apenas uma solução: um "New Deal verde". Outro grande tema que ele defende é a justiça social.
As propostas de Özdemir, no entanto, não são consenso no Partido Verde alemão. Alguns membros da agremiação criticam o posicionamento "fraco" do novo chefe, especialmente no que diz respeito às questões ambientais. Özdemir também já causou polêmica ao anunciar que quer trabalhar com os conservadores da CDU (União dos Democratas-Cristãos), partido da chanceler Angela Merkel.
"Isso certamente desagradou a muitos verdes. Historicamente, a CDU é um partido "inimigo'", afirma Probst.
Uma parceria "verde-negra", contudo, não está excluída no plano nacional -especialmente se Merkel não conseguir maioria significativa sobre os social-democratas nas eleições legislativas do ano que vem.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, os Verdes querem abocanhar a fatia central do eleitorado alemão para voltar ao governo -de 1998 a 2005, o social-democrata Gerhard Schröder dividiu o poder com Joschka Fischer, então vice-chanceler e ministro das Relações Exteriores. O analista político Franz Walter escreveu na edição on-line do semanário "Der Spiegel" que "os Verdes não são mais alternativos; são a favor de um estilo de vida sustentável, mas celebram o consumo de luxo. Nenhum partido na Alemanha é tão dominado por uma elite intelectual".
Para Probst, se os Verdes, em quinto lugar nas pesquisas com 10% das intenções de voto, quiserem ter chances em 2009, "a cúpula do partido precisa unificar o discurso e chegar a um consenso com os candidatos às eleições legislativas".


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