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Partido de esquerda disputará eleição apesar de apelo de Zelaya
Decisão expõe racha entre os aliados do presidente deposto; votação é domingo
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Em um duro golpe para Manuel Zelaya, a Unificação Democrática (UD), principal partido de esquerda de Honduras,
anunciou que participará da
eleição do próximo domingo. A
decisão, oficializada em encontro anteontem à noite, expõe
um racha entre as organizações
que vêm defendendo a volta do
presidente deposto.
A decisão de participar da
eleição teve o apoio de 75% dos
delegados da UD, apesar dos
apelos, ao longo da semana, por
parte de Zelaya, do Partido Liberal (centro-direita), para impugnar o pleito presidencial.
"O argumento fundamental é
que povo hondurenho, sem deputados da resistência [contrários ao governo interino], ficaria praticamente indefeso diante das arbitrariedades da ditadura e do próximo governo golpista", disse à Folha César
Ham, candidato presidencial e
deputado da UD. "Além disso,
se o partido não disputasse, seríamos considerados ilegais."
Sobre Zelaya, Ham disse que
"esperamos seu respeito a uma
instituição política que tem sido solidária e fundamental em
toda a luta desde o primeiro dia
de seu governo".
O candidato esquerdista, que
não tem chances de vitória no
domingo, disse ainda que "obviamente" prefere que a OEA
(Organização dos Estados
Americanos) envie uma missão
de observadores eleitorais.
Hoje, a entidade interamericana realiza uma reunião fechada para discutir as eleições
hondurenhas. EUA e Panamá
têm defendido o reconhecimento do pleito, enquanto países como Brasil e Venezuela
afirmam que não reconhecerão
o resultado se Zelaya não for
restituído antes, o que já está
praticamente descartado.
Sobre a posição do Brasil,
Ham disse "ter certeza" de que
o presidente deposto voltará ao
cargo no dia 2 de dezembro,
quando o Congresso se reúne
para votar o assunto, abrindo
caminho para o reconhecimento internacional do pleito.
Apesar da decisão do partido,
cerca de 20 candidatos da UD
devem se retirar do processo
eleitoral, segundo a deputada
Silvia Ayala, que desistiu de
tentar a reeleição, mas nega
uma ruptura interna.
"Respeito a decisão do partido e não vou me desfiliar, mas a
decisão tem um caráter pessoal", disse Ayala, para quem
participar do pleito significa
"legitimar o golpe de Estado".
Até sexta-feira, o número de
renúncias era insignificante.
Segundo o TSE, 31 candidatos
anularam o seu registro no órgão, de um total de 13.684 postulantes -0,22% do total.
O único dos seis candidatos a
presidente a renunciar foi o esquerdista independente Carlos
H. Reyes, terceiro colocado nas
pesquisas de opinião, atrás do
favorito Porfirio "Pepe" Lobo
(Partido Nacional, direita) e do
liberal Elvin Santos.
Com 5 dos 129 deputados do
Congresso unicameral, a UD é
o principal aliado de Zelaya
junto com deputados liberais
que romperam com a posição
majoritária do partido, que
apoia o governo interino, de
Roberto Micheletti, da mesma
agremiação.
Desde a deposição de Zelaya,
a UD tem participado ativamente das manifestações organizadas pela Frente Nacional
de Resistência, conglomerado
de organizações de esquerda
que inclui o partido. Zelaya, refugiado na embaixada brasileira há pouco mais de dois meses, foi detido e expulso do país
em 28 de junho, acusado de impulsar ilegalmente uma Assembleia Constituinte.
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