São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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Partido de esquerda disputará eleição apesar de apelo de Zelaya

Decisão expõe racha entre os aliados do presidente deposto; votação é domingo

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Em um duro golpe para Manuel Zelaya, a Unificação Democrática (UD), principal partido de esquerda de Honduras, anunciou que participará da eleição do próximo domingo. A decisão, oficializada em encontro anteontem à noite, expõe um racha entre as organizações que vêm defendendo a volta do presidente deposto.
A decisão de participar da eleição teve o apoio de 75% dos delegados da UD, apesar dos apelos, ao longo da semana, por parte de Zelaya, do Partido Liberal (centro-direita), para impugnar o pleito presidencial.
"O argumento fundamental é que povo hondurenho, sem deputados da resistência [contrários ao governo interino], ficaria praticamente indefeso diante das arbitrariedades da ditadura e do próximo governo golpista", disse à Folha César Ham, candidato presidencial e deputado da UD. "Além disso, se o partido não disputasse, seríamos considerados ilegais."
Sobre Zelaya, Ham disse que "esperamos seu respeito a uma instituição política que tem sido solidária e fundamental em toda a luta desde o primeiro dia de seu governo".
O candidato esquerdista, que não tem chances de vitória no domingo, disse ainda que "obviamente" prefere que a OEA (Organização dos Estados Americanos) envie uma missão de observadores eleitorais.
Hoje, a entidade interamericana realiza uma reunião fechada para discutir as eleições hondurenhas. EUA e Panamá têm defendido o reconhecimento do pleito, enquanto países como Brasil e Venezuela afirmam que não reconhecerão o resultado se Zelaya não for restituído antes, o que já está praticamente descartado.
Sobre a posição do Brasil, Ham disse "ter certeza" de que o presidente deposto voltará ao cargo no dia 2 de dezembro, quando o Congresso se reúne para votar o assunto, abrindo caminho para o reconhecimento internacional do pleito.
Apesar da decisão do partido, cerca de 20 candidatos da UD devem se retirar do processo eleitoral, segundo a deputada Silvia Ayala, que desistiu de tentar a reeleição, mas nega uma ruptura interna.
"Respeito a decisão do partido e não vou me desfiliar, mas a decisão tem um caráter pessoal", disse Ayala, para quem participar do pleito significa "legitimar o golpe de Estado".
Até sexta-feira, o número de renúncias era insignificante. Segundo o TSE, 31 candidatos anularam o seu registro no órgão, de um total de 13.684 postulantes -0,22% do total.
O único dos seis candidatos a presidente a renunciar foi o esquerdista independente Carlos H. Reyes, terceiro colocado nas pesquisas de opinião, atrás do favorito Porfirio "Pepe" Lobo (Partido Nacional, direita) e do liberal Elvin Santos.
Com 5 dos 129 deputados do Congresso unicameral, a UD é o principal aliado de Zelaya junto com deputados liberais que romperam com a posição majoritária do partido, que apoia o governo interino, de Roberto Micheletti, da mesma agremiação.
Desde a deposição de Zelaya, a UD tem participado ativamente das manifestações organizadas pela Frente Nacional de Resistência, conglomerado de organizações de esquerda que inclui o partido. Zelaya, refugiado na embaixada brasileira há pouco mais de dois meses, foi detido e expulso do país em 28 de junho, acusado de impulsar ilegalmente uma Assembleia Constituinte.

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