São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 2002

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ARGENTINA

Presidente nega intenção, mas ele seria alternativa caso não haja nome para derrotar Menem em primárias do PJ

Grupo peronista quer lançar Duhalde como candidato

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

Quando os argentinos saíram às ruas em dezembro de 2001, derrubaram um presidente e, aos gritos, exigiram que todos os dirigentes do país "fossem embora". A um ano da queda de Fernando de la Rúa, um governo que deveria apenas preparar terreno até as próximas eleições planeja ficar no poder até 2007.
O presidente Eduardo Duhalde nega que tenha pretensões de se candidatar ou de ficar no cargo um dia a mais do que o prometido, mas analistas políticos e dois secretários de governo dizem que há um grupo importante de "duhaldistas" que tentam abrir caminho para que ele se candidate.
O presidente trabalha às claras para derrotar seu maior inimigo político, o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999). A disputa política entre os dois paralisou o cenário eleitoral argentino. As eleições internas do Partido Justicialista (PJ, peronista) foram adiadas várias vezes por conta das discussões entre os grupos de apoio de Duhalde e os de Menem.
Os duhaldistas tentam adiar ao máximo as eleições internas. Duhalde espera encontrar um pré-candidato com chances de derrotar Menem. O atual presidente saiu vitorioso por enquanto e conseguiu empurrar as eleições internas para 23 de fevereiro.
O presidenciável ao qual Duhalde gostaria de dar apoio, Carlos Reutemann, ex-piloto de Fórmula 1 e atual governador da Província de Santa Fé, já anunciou publicamente que não concorrerá, apesar de sempre deixar aberta alguma possibilidade.
Durante a semana passada, a Folha apurou com dois analistas políticos e dois secretários de Duhalde que, caso não consiga um nome forte o suficiente para derrotar Menem nas eleições do PJ, o grupo duhaldista não descarta a alternativa de lançar o nome do próprio presidente.
Segundo um dos secretários, o grupo faz agora sondagens para saber o impacto que a candidatura Duhalde teria dentro e fora do PJ. Hoje, o nome do presidente não aparece nas pesquisas de intenção de voto.
O empecilho à operação seria a data das eleições, mas, na Argentina, ninguém se surpreende ante a hipótese de a eleição não ocorrer em abril, como programado.
Para que Duhalde possa ser candidato, o ideal seria que as eleições fossem em outubro, como era previsto até junho deste ano. Naquele mês, dois manifestantes foram mortos pela polícia durante uma manifestação de desempregados. Frente a mais uma crise política num cenário de descontentamento popular alto, o presidente prometeu antecipar as eleições e deixar o poder em maio do próximo ano.
O adiamento das eleições dependeria de três fatores principais: 1) que o cenário econômico positivo se confirme nas próximas semanas; 2) que a relativa "calma social" dos últimos meses se mantenha e 3) que pesquisas indiquem boas chances caso Duhalde decida concorrer.
O último fator é considerado quase certo pelos peronistas, que avaliam que qualquer candidato escolhido pelo partido será eleito, seja em maio ou em outubro.
Mas, por enquanto, a briga interna tem custado votos aos peronistas. Pesquisa divulgada ontem pelo jornal "La Nacion" mostra que, no último mês, todos os presidenciáveis peronistas perderam intenção de votos e que os não-peronistas ganharam espaço.


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