São Paulo, quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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Pai de refém roga a Uribe que não aborte soltura de seu filho

DA REPORTAGEM LOCAL

O drama do sequestro e morte do governador do departamento de Caquetá se choca com outra história de dor acompanhada pela Colômbia: o calvário do sargento do Exército Pablo Moncayo e do cabo Libio Martínez, cativos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) há 12 anos, completados anteontem.
Em abril, a guerrilha anunciou que liberaria unilateralmente Moncayo e Martínez, capturado juntos em 1997. Como em outras liberações feitas em 2008 e 2009, a iniciativa é parte da tentativa de ganhar alguma simpatia da opinião pública nacional e internacional para sua proposta de trocar os demais 21 reféns por cerca de 500 rebeldes presos.
O governo Uribe primeiro disse que só aceitaria a libertação de todos os cativos -"O nosso dever moral é com todos os sequestrados", justificou à Folha em novembro o alto comissário da Colômbia para a Paz, Frank Pearl.
Depois, Bogotá acusou mais uma vez a mediadora, a senadora oposicionista Piedad Córdoba, de tentar armar um show na liberação. Finalmente, no começo deste mês, o presidente colombiano deu sinal verde para a operação.
Mas o sequestro de ontem complicou tudo. Ao se referir ao episódio, Uribe disse: "Quem vai acreditar nesses bandidos? [...] Não esperemos atos de generosidade desses bandidos. Resgatemos militarmente nossos sequestrados".
A ordem espalhou medo entre os familiares dos dois e dos demais 21 sequestrados considerados "estratégicos" para a guerrilha. Os familiares enviaram carta a Uribe para exigir que a operação de resgate militar cesse. "Não é justo que justamente no Natal ponham a vida [dos sequestrados] em iminente perigo", escreveram.
O pai de Pablo, Gustavo Moncayo, urgiu o governo a manter a palavra sobre a operação de libertação. "É incrível que o governo ponha condições para receber um sequestrado. Isso só se vê na Colômbia. Peço que o governo não recue outra vez", disse o professor à reportagem, por telefone.
Moncayo ficou famoso por suas caminhadas dentro e fora da Colômbia para pedir a soltura do filho. Caminhou, segundo contabiliza, 2.668 km até agora.
O "caminhante pela paz" disse ter esperança de que o governo mantenha a palavra sobre a ação unilateral das Farc. "Não acredito que Uribe faça isso, seria muito malvisto internacionalmente", ponderou.
Afirmou que a família está preparando o Natal, num povoado de 35 mil habitantes no sul da Colômbia, "com muita esperança em Deus".
Gustavo Moncayo pediu ao Brasil e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que ajudem na operação para soltar seu filho -o Exército brasileiro prestou auxílio em ação semelhante que tirou da selva seis reféns em fevereiro deste ano.
"Temos todos de nos juntar num único clamor: basta de sangue, há de haver uma solução política. Eu peço ao Brasil, ao presidente Lula. Que seja o Brasil o país que nos dê ajuda técnica e logística para libertar os dois [militares]", pediu.
(FLÁVIA MARREIRO)





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