São Paulo, quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banqueiro venezuelano pede asilo aos EUA

Libertado há duas semanas em decisão depois revogada, Eligio Cedeño, acusado de burlar controles de câmbio, fugiu para Miami

Juíza que libertou banqueiro foi presa dois dias depois; episódio ocorre em meio a forte ofensiva de governo Chávez sobre setor bancário


DA REPORTAGEM LOCAL

O banqueiro venezuelano Eligio Cedeño, cuja liberação da prisão causou um escândalo judicial no país há duas semanas, tenta obter asilo político nos EUA sob alegação de perseguição pelo governo do esquerdista Hugo Chávez.
Cedeño está sob custódia do setor de imigração dos EUA desde o último sábado, quando chegou a Miami. O advogado do banqueiro, Robert Amsterdam, disse à Folha que seu cliente se entregou voluntariamente -anteontem Chávez afirmara que Cedeño havia sido preso.
O banqueiro de 45 anos estava preso na Venezuela desde fevereiro de 2007, sob acusação de burlar controles de câmbio do governo para adquirir dólares. Começou a ser julgado em março de 2008, mas recursos interromperam o processo três meses depois.
No último dia 10, Cedeño recebeu liberdade condicional -sem direito a sair do país- da juíza María Lourdes Mora, do Tribunal de Controle de Caracas. Dois dias depois, a juíza Mora foi presa e enviada a uma cadeia para mulheres, acusada de corrupção, abuso de autoridade, favorecimento para evasão e formação de quadrilha. Outra juíza emitiu nova ordem de captura contra Cedeño.
Em discurso televisionado no dia seguinte, Chávez pediu pena máxima de 30 anos de prisão para a magistrada -a justificativa é que a liberação do banqueiro foi irregular, por não ter sido acompanhada pelo Ministério Público. "[O caso de] uma juíza que liberta um criminoso é muito mais sério do que o próprio criminoso. Essa juíza tem que pagar pelo que fez", afirmou o presidente.
Chávez também pediu que organismos venezuelanos atuem com rapidez para tentar a extradição de Cedeño. Ontem, o Ministério Público afirmou não ter informações dos EUA sobre a situação do banqueiro. "Não há obrigação do Estado em que ele [Cedeño] se encontra de extraditá-lo, mas deveria ser um compromisso moral", afirmou a chefe do Ministério Público, Luisa Díaz.

"Preso político"
A defesa de Cedeño sustenta que ele está preso por motivos políticos, pois Chávez acredita que o banqueiro tenha dado ajuda financeira a líderes opositores envolvidos na tentativa de golpe militar contra ele, em abril de 2002.
O novo capítulo no caso Cedeño ocorre em meio a uma ofensiva de Chávez sobre o setor bancário. Nas últimas semanas, Caracas expropriou sete pequenos bancos por acusações de corrupção e gestão fraudulenta que envolveram até ex-aliados do presidente. Ao menos seis banqueiros foram presos.
Para o advogado de Cedeño, a liberação de seu cliente atrapalha a ofensiva de Chávez sobre o setor bancário, daí a reação "histérica e mentirosa" do presidente. "Cedeño livre para discutir essa situação não é o que Chávez quer." Amsterdam disse esperar que Cedeño seja liberado em breve para seguir, em liberdade, os trâmites de seu pedido de asilo. (THIAGO GUIMARÃES)

Com agências internacionais



Texto Anterior: Pai de refém roga a Uribe que não aborte soltura de seu filho
Próximo Texto: Rafael Correa suspende por três dias rede de TV crítica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.