São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Grupo deve fazer grande bancada no Parlamento palestino amanhã; Fatah se desculpa por "erros do passado"

Hamas se contradiz sobre diálogo com Israel

Emilio Morenatti/Associated Press
Simpatizantes do grupo terrorista palestino Hamas cantam durante comício de encerramento de campanha eleitoral, em Gaza


DA REDAÇÃO

Dirigentes do grupo terrorista Hamas deram ontem declarações contraditórias sobre a possibilidade de dialogar com Israel, caso obtenham nas legislativas de amanhã o controle ou peso relevante no Parlamento palestino.
Ontem foi o último dia de campanha, e o Hamas, segundo parte das pesquisas, está em empate técnico com o Fatah, partido laico do presidente Mahmoud Abbas.
Um dos dirigentes do grupo islâmico no exílio, Khaled Mashaal, descartou a possibilidade de diálogo com Israel. "Não precisamos fazer concessões para satisfazer os israelenses, que apenas nos respeitam quando damos demonstrações de força", afirmou.
Mas Mahmoud Zahar, um dos principais candidatos do Hamas em Gaza, disse que "negociações não são um tabu". Afirmou, no entanto, que aceitaria apenas negociações indiretas. "Se há algo do inimigo a ser oferecido, como a cessação das agressões e a libertação de prisioneiros, poderíamos encontrar uma saída."
Citou o exemplo da intermediação da Alemanha para que prisioneiros do Hizbollah fossem libertados de prisões israelenses. Tais "negociações indiretas" teriam uma agenda bastante modesta e, pelo que disse Zahar, dificilmente chegariam a questões de longo prazo, como um acordo de paz.
Como indício de um comportamento menos sectário, o Hamas omitiu de sua plataforma eleitoral a promessa de destruir Israel, algo que faz parte de seus históricos compromissos. Mesmo assim, em Ramallah, na Cisjordânia, um cartaz do grupo islâmico indagava: "Israel e os Estados Unidos disseram não ao Hamas. E você?".

Campanha moderada
O grupo não defendeu o terrorismo em sua campanha eleitoral. Procurou atacar seus adversários palestinos, o partido laico Fatah, em razão da corrupção praticada na Cisjordânia e em Gaza.
Nos últimos cinco anos cerca de 60 homens-bomba daquele grupo islâmico praticaram atentados contra civis israelenses.
Sentindo a concorrência de seus rivais islâmicos, o Fatah procurou ontem, por meio de Samir Mashharawi, um de seus dirigentes em Gaza, desculpar-se pelos "erros cometidos no passado". Afirmou também que seu partido "não deixará que alguns corruptos manchem" sua imagem.
O Fatah, em sua última passeata de campanha em Gaza, também promoveu comício diante da casa de Iasser Arafat, morto em novembro de 2004 e ainda considerado o personagem mais forte na memória palestina.
Israel anunciou que amanhã permitirá o livre trânsito de veículos pelos postos de controle que mantém na Cisjordânia. Não fará intervenções militares, exceto na prevenção de atos terroristas. O ex-presidente Jimmy Carter, na região como observador eleitoral, disse ter recebido do primeiro-ministro interino de Israel, Ehud Olmert, garantias de que não atrapalharia a locomoção de eleitores.
Já chegou aos territórios palestinos cerca de uma centena de observadores. Entre eles, há 58 americanos, 33 egípcios e 25 jordanianos, parte deles representando organizações não-governamentais. São esperados ao todo cerca de 900. O grupo mais numeroso, com 240, será o de observadores da União Européia.
Ontem votaram os últimos dos 58 mil integrantes das forças de segurança palestinas, que amanhã estarão mobilizados para garantir a tranqüilidade da votação.
Previsão de observadores e dados de pesquisas eleitorais indicam que o comparecimento poderá chegar a 85% do eleitorado registrado. Isso marcaria o fracasso do Jihad Islâmico, grupo terrorista que fez campanha pelo boicote às eleições.
Cerca de 1,4 milhão de eleitores poderão votar em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Ao todo serão mil urnas instaladas.

Com agências internacionais

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