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AMÉRICA LATINA
Novo titular dos Hidrocarbonetos, responsável pelos contratos de gás, acusou Lula de traição em outubro
Equipe de Morales tem crítico da Petrobras
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
O novo ministro de Hidrocarbonetos (gás e petróleo) da Bolívia, Andres Soliz Rada, acusou recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de traição por
não cumprir promessas com seu
país. O ministro de Mineração, o
sindicalista Walter Villarroel, fez
o juramento usando um lustroso
capacete. Já o chanceler, o ativista
indígeno-socialista David Choquehuanca, discursou falando ora
em aimara, ora em espanhol.
Esses são alguns dos membros
do gabinete empossado ontem de
manhã, no primeiro dia de trabalho do novo presidente boliviano,
o socialista Evo Morales.
"Acabaram as festas, acabou a
lua-de-mel. Agora é trabalho",
disse Morales aos ministros, em
cerimônia no saguão principal do
Palácio Quemado, sede do governo. "Quero pedir-lhes zero de
corrupção, quero perdir-lhes zero
de burocracia. Temos a tarefa de
dignificar a política."
Morales quebrou mais uma vez
o protocolo ao pedir que, durante
o juramento, "cada um faça o sinal de acordo a seu pensamento
religioso ou o seu sentimento cultural e ideológico". Ninguém fez o
sinal da cruz, contrariando a tradição -o catolicismo é a religião
oficial da Bolívia.
Composto por 12 homens e
quatro mulheres, o gabinete reúne sobretudo sindicalistas, líderes
de movimentos sociais, intelectuais e militantes do MAS (Movimento ao Socialismo), o partido
de Morales. Conforme a sua promessa de campanha, nenhum
parlamentar integra o ministério.
"O gabinete tem consistência
das propostas apresentadas. É um
grupo muito bem sintonizado
com a proposta ideológica do
MAS", disse à Folha o economista
Gonzalo Chávez, da Universidade
Católica Boliviana, em La Paz.
"Mas a pergunta é se eles têm todos os recursos de gestão pública
para implementar as políticas."
Para o novo ministro da Presidência, o sociólogo e professor
universitário Juan Ramon Quintana, a crítica sobre a falta de experiência é preconceituosa.
"Pela primeira vez, depois de
muitíssimos anos, teremos um
gabinete que reflete a sociedade",
disse Quintana, 44, à Folha, no
Palácio Quemado. A sua pasta
tem a difícil tarefa de fazer a interlocução com o Congresso.
"É compreensível a falta de experiência de alguns ministros na
função pública. Mas essa crítica é
apenas um preconceito."
Oposição ao gasoduto
Para o importante ministério
dos Hidrocarbonetos, que conduzirá as negociações com as empresas petroleiras, foi nomeado o
jornalista e ex-parlamentar Andres Soliz Rada. De posições radicais, até recentemente Soliz Rada
foi um crítico feroz dos acordos
de gás entre Brasil e Bolívia.
No artigo "Hurra! Mais gás ao
Brasil", publicado em 28 de outubro passado, Soliz Rada faz duras
críticas aos acordos de compra de
gás da Petrobras. Nele, acusou o
presidente Lula de traição por não
cumprir a promessa de construir
termelétricas na Bolívia -feita,
segundo ele, em 1997, no governo
Fernando Henrique.
Soliz Rada também acusou a
Petrobras de ser responsável pelo
desmantelamento da estatal boliviana de petróleo, YPFB: "Há dez
anos, a YPFB tinha o monopólio
das reservas e dos dutos, equipes
de exploração, exportação, refinamento e comercialização", afirma, no site "Bolpress". "Hoje, a
YPFB é uma entidade residual.
Por outro lado, a também estatal
Petrobras tem, em território boliviano, grande parte das reservas e
dos dutos, as refinarias, equipes
de exploração e o controle do
mercado."
De forma análoga, Morales nomeou o líder sindicalista Abel Mamani para o recém-criado Ministério da Água. Mamani ganhou
projeção nacional ao liderar um
movimento que exigiu a expulsão
da empresa de capital francês
Aguas del Illimani, há cerca de um
ano, por se recusar a atender parte
da cidade.
Buscando agradar a Santa Cruz,
principal pólo econômico do país,
Morales nomeou dois ministros
da região. Um deles é o empresário Salvador Ric, ministro de Serviços e Obras Públicas.
Elogio
Assim como fez no final de semana, quando esteve na Bolívia
para a posse de Morales, o presidente Lula elogiou o socialista indígena e afirmou ontem que a
América Latina "está dando demonstração de avanço", porque
"pessoas progressistas" estão sendo eleitas em todos os países.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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