|
Próximo Texto | Índice
Morales nacionaliza empresa de gás britânico-argentina
Medida, tomada a dois dias de referendo constitucional, completa estatização do setor
"Lamentamos que haja petroleiras estrangeiras que não respeitam a legislação boliviana", diz; companhia afirma que se "defenderá"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A POTOSÍ
A dois dias do referendo sobre uma nova Constituição para a Bolívia, o presidente Evo
Morales decretou a nacionalização da empresa produtora de
gás Chaco, controlada pela
multinacional britânica British
Petroleum (BP) e com capital
minoritário argentino.
A tomada da Chaco foi semelhante à nacionalização de todo
o setor de gás, em 1º de maio de
2006, quando Morales liderou
pessoalmente a ocupação militar de instalações da Petrobras.
Desta vez, o presidente boliviano esteve na usina de Carrasco,
no departamento de Cochabamba, centro do país.
"Lamentamos que haja algumas petroleiras estrangeiras
que não respeitam as leis bolivianas nem asseguram o investimento. Quero pedir-lhes que
respeitem o povo boliviano. Se
não o fizerem, vamos impor
nossas leis revertendo suas
ações ao Estado", discursou
Morales, de capacete branco.
Segundo o governo, a transferência ao Estado de todas as
ações via decreto ocorreu após
o fracasso nas negociações com
a Chaco, a última das empresas
a ser nacionalizadas que constavam do decreto de 2006. A
lista incluía as duas refinarias
da Petrobras, transferidas em
2007, e a Andina, sócia da empresa brasileira nos campos de
San Antonio e San Alberto, os
maiores do país.
A Chaco é uma filial da Pan
American Energy (PAE), sediada na Argentina, com 60% pertencente à BP, e o restante, ao
grupo argentino Bridas. Na Bolívia, é responsável por cerca de
5% da produção do gás.
O governo boliviano já detinha 49% das ações da Chaco e
negociava a compra de cerca de
1% para assegurar o controle
acionário, mas não houve acordo sobre o preço das ações. O
decreto assinado ontem prevê
nacionalizar todas as ações e
uma indenização à PAE, mas o
governo boliviano não informou quanto pagará.
Em nota, a PAE diz que, desde o decreto da nacionalização,
buscou dialogar com o governo
Morales para "alcançar uma
justa avaliação" da empresa
Chaco e que agora se defenderá
"em todas as instâncias".
"É a terceira vez que se anuncia a nacionalização da Chaco e
talvez não seja a definitiva caso
a BP busque uma arbitragem",
disse à Folha o analista de
energia Francesco Zaratti, ex-assessor presidencial do governo Carlos Mesa (2003-2005).
"É uma medida política pelo
momento em que se executa e
é uma dor de cabeça a mais para a [estatal] YPFB, que continua comendo empresas apesar
de mostrar sinais claros de
"obesidade", que não permite
controlar seus movimentos."
O projeto de Constituição
que será submetido às urnas
amanhã ratifica a nacionalização do setor de hidrocarbonetos implantada por Morales e
proíbe as empresas estrangeiras do setor de recorrer à arbitragem internacional ou a "reclamações diplomáticas". Ou
seja, todas as disputas seriam
na Justiça boliviana.
Próximo Texto: França lança plano de 600 mi para resgatar imprensa Índice
|