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França lança plano de 600 mi para resgatar imprensa
Pacote inclui aumento de verba publicitária em jornais e proteção a jornalistas de internet
Jovens terão assinatura gratuita, e distribuição vai ter custos reduzidos; setor enfrenta crise e cortes, e greves têm sido frequentes
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Depois dos bancos e do setor
automotivo, foi a vez de a mídia
francesa receber ajuda do governo. O presidente Nicolas
Sarkozy anunciou ontem um
plano para "salvar" jornais e sites de notícias no país.
Ao todo, o pacote vai custar
600 milhões distribuídos por
três anos, sem incluir os recursos para a modernização do
parque gráfico francês.
As medidas fazem parte dos
"Estados Gerais da Imprensa"
iniciativa lançada por Sarkozy
em outubro passado para avaliar a situação da imprensa
francesa e propor recursos para
a sua modernização. O diagnóstico apontou três problemas-chave: queda da receita com
publicidade, diminuição dos
leitores e alto custo de produção. Na França, o preço médio
do jornal é de 1,26 euro, contra 0,80 na Alemanha.
Para atacar a primeira questão, Sarkozy propôs um aumento dos gastos com informes publicitários do governo.
O Estado "vai dobrar, a partir
deste ano, as despesas com a
comunicação institucional" na
imprensa escrita e eletrônica,
afirmou ontem no Palácio do
Eliseu. Assim, serão injetados
20 milhões a mais neste ano.
Aos críticos que veem na iniciativa uma ameaça à liberdade
de imprensa, Sarkozy disse:
"Espero que ninguém veja um
atentado à independência".
Ainda no pacote, o presidente francês disse que cortará as
despesas postais da imprensa, o
que representará uma economia de 24 milhões para o setor. A ajuda aos jornaleiros totaliza 60 milhões, e o estímulo para expandir a entrega em
domicílio, 70 milhões.
Para deter o desaparecimento gradual de leitores, o presidente propôs a assinatura gratuita de um jornal por um ano
para os jovens de 18 anos. O governo arcará com os custos de
distribuição, e a publicação escolhida pelo leitor ofereceria os
exemplares gratuitamente.
Internet
Para a internet, Sarkozy
anunciou a adaptação à era digital dos direitos autorais dos
jornalistas e acrescentou que o
Estado criará um estatuto do
editor da imprensa digital para
desenvolver jornais na rede.
Na avaliação de Dominique
Candille, do Sindicato Nacional
dos Jornalistas, "não é chocante ajudar a imprensa, mas essa é
só parte da resposta". "Já as
ajudas diretas e indiretas, como
a exoneração dos encargos sociais nos incomodam."
Os sindicatos também afirmam que querem observar como serão alocados os recursos.
Nos últimos anos, por causa de
dificuldades financeiras, os
principais jornais franceses
passaram para o controle total
ou parcial de grandes grupos
industriais que, a princípio, não
eram da área de comunicação.
Para Sarkozy, as medidas são
a resposta necessária para um
setor em dificuldades e que enfrenta um cenário econômico
mundial "deteriorado". Na
França, as greves de jornais
têm sido recorrentes. Em 2007,
só o diário "Le Monde" fez três
para protestar contra as más
condições de trabalho.
Vários sindicatos convocaram para a próxima quinta uma
greve geral de jornalistas contra os programas de demissão
voluntária e cortes de pessoal.
Enquanto o presidente Sarkozy anuncia ajuda para a imprensa escrita e eletrônica, o
governo segue com um programa de redução de custos nas televisões e rádios estatais. Os
sindicalistas estimam que 900
trabalhadores estejam ameaçados no grupo estatal France Télévisions. Na Radio France Internationale, 206 postos de trabalho serão suprimidos.
Para o SNJ, é justamente na
questão da situação profissional dos jornalistas que o pacote
foi tímido. O setor emprega 100
mil profissionais mas, segundo
dados do SNJ, um quinto dos
jornalistas não tem vínculo empregatício com as empresas.
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