São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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Ruanda prende líder rebelde do Congo

Captura de Laurent Nkunda, chefe da insurgência tutsi e aliado ruandês, marca aliança inédita entre nações rivais

Acusados pela ONU de guerrear "por procuração", governos dos dois países lançam operação conjunta para conter insurgentes

DA REDAÇÃO

O Exército de Ruanda capturou o líder rebelde congolês Laurent Nkunda, seu antigo aliado, no que aparenta ser uma ruptura com a insurgência tutsi na República Democrática do Congo (antigo Zaire). A prisão de Nkunda é uma contrapartida ao acordo entre os países rivais para combater grupos hutus remanescentes do genocídio de Ruanda (1994), ainda atuantes no leste do Congo.
Nkunda foi preso na noite de anteontem, após escapar do cerco a Bunagana, bastião dos rebeldes em Kivu do Norte (Congo). O Congo pede a extradição do general renegado, que rompeu com o governo em 2004, e é procurado por massacres de civis e recrutamento de crianças para a insurgência.
Acusados pela ONU de travar uma "guerra por procuração", com apoio a grupos armados no país rival, o presidente ruandês, Paul Kagame, e o congolês, Joseph Kabila, iniciaram diálogo no final de 2008.
As tropas de paz da ONU, que mantém no país sua maior missão, com 19 mil homens, estavam acossadas no leste do Congo, após ofensiva lançada por Nkunda. Kagame, líder de um governo de maioria tutsi em Ruanda, era visto como um representante indireto dos rebeldes e interlocutor crucial para o fim do conflito.
Rico em minérios e altamente militarizado, o leste do Congo é disputado por rebeldes tutsis, por milícias hutus, pelo governo e por paramilitares locais, organizados em vilarejos. Tutsis e hutus, etnias minoritárias, se enfrentam na região desde 1994, quando cerca de 800 mil hutus fugiram para o Congo após o massacre promovido pelo governo radical e seus milicianos contra os tutsis e hutus moderados em Ruanda.
A presença de milícias hutus foi justificativa para incursões frequentes de Ruanda, que explorava o subsolo congolês "no limite da legalidade", segundo o coronel Jean-Paul Dietrich, porta-voz militar da missão da ONU. Devastado há 15 anos por uma guerra civil que se estima ter matado mais de 5 milhões, entre períodos de conflitos abertos (1996-97 e 1998-2003) e frágeis cessar-fogo, o Congo é incapaz de controlar seu território, rico em minérios.
As negociações entre Kinshasa e Kigali, recebidas com ceticismo, culminaram no acordo que permitiu, nesta semana, a deflagração da ofensiva militar conjunta, que envolve 4.000 soldados ruandeses no Congo.
O isolamento diplomático facilitou a captura do chefe da milícia tutsi, que tem sofrido crescentes deserções.
Bosco Ntaganda, segundo na hierarquia rebelde, declarou lealdade à operação ruando-congolesa. Condenado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra, Ntaganda foi consultado por Kigali antes da ofensiva, segundo fontes ruandesas.

Com agências internacionais


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