São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Brasil quer "Plano Lula" para reerguer país

Amorim sugere que governo brasileiro lidere reconstrução haitiana e anuncia que ajuda de Brasília dobrará para US$ 30 milhões

Chanceler diz que presença brasileira é de longo prazo enquanto que a americana é passageira, e que liderança regional não é preocupação

LUIS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE

O chanceler Celso Amorim sugeriu ontem, durante visita a Porto Príncipe, que o governo brasileiro lidere os esforços internacionais para reconstruir o Haiti, devastado por um terremoto ocorrido há doze dias.
Amorim fez a oferta depois de ser questionado por um jornalista sobre a possibilidade, apresentada pelo FMI, de se adotar para o Haiti um novo plano Marshall, o programa pilotado pelos EUA que norteou e financiou a reconstrução de países europeus devastados pela Segunda Guerra Mundial.
"Por que tem que ser um plano Marshall? Pode ser plano Lula. Não é só quem dá mais dinheiro, é quem está mais empenhado", disse o ministro em entrevista coletiva na base das tropas brasileiras que comandam desde 2004 a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti).
Horas antes da entrevista coletiva, o chanceler anunciara, ao desembarcar no Haiti, que o Brasil dobrará a ajuda humanitária de emergência para uma primeira etapa da reconstrução do país caribenho. O montante passaria de US$ 15 milhões para US$ 30 milhões.
Amorim, que não foi recebido pelo presidente René Préval mas pelo premiê Jean Max Bellerive, disse ainda que os brasileiros ajudarão na formação de novos funcionários para o governo do Haiti, para substituir os que morreram na tragédia.
O ministro afirmou que se tudo o que o Brasil está fazendo fosse contabilizado -como a instalação de um hospital de campanha, a ponte aérea de voos com água e alimentos e as ações de distribuição de comida da tropa brasileira- as doações somariam "algumas centenas de milhões de dólares".
A viagem de Amorim ao Haiti antecede a sua participação em encontro amanhã em Montreal, Canadá, que visa preparar uma grande conferencia de países doadores para o Haiti, que deve acontecer em data e local ainda indefinidos.
"A melhor maneira de fazer é dar o exemplo. O Brasil, que não e um pais rico, desde o primeiro momento fez uma oferta significativa. Nós estamos dando o bom exemplo e as doações estão aumentando", disse, em tom de cobrança às potências.
Amorim procurou minimizar as divergências com os EUA acerca dos esforços de ajuda ao Haiti. O ministro e o general Floriano Peixoto, comandante militar da Minustah, alegaram que existe "harmonia" entre as tropas dos dois países. Segundo Peixoto, os EUA são responsáveis pela ajuda humanitária e o Brasil, pela segurança.
O chanceler deixou clara sua visão sobre os respectivos papeis de Brasília e Washington no Haiti. "A nossa presença aqui é de longo prazo, e a das forças americanas é passageira", disse Amorim.
Um dia após o Brasil ter promovido um grande evento midiático de distribuição de alimentos para os haitianos desabrigados, ele disse que Brasil "não está preocupado com a liderança regional, mas sim em ajudar o Haiti, com respeito aos mandatos internacionais e com respeito ao governo do Haiti".


Colaborou FÁBIO ZANINI, em Porto Príncipe

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