São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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República Dominicana vira rota de repatriados

EM SANTO DOMINGO (REPÚBLICA DOMINICANA) E PORTO PRÍNCIPE

Sem notícias de parentes e amigos, centenas de haitianos que estavam fora do país estão retornando para ajudar as suas famílias. A principal rota de entrada é a linha de ônibus, restabelecida há poucos dias, a partir da República Dominicana.
Um movimento anormal de haitianos já é visto no aeroporto das Américas, em Santo Domingo. Sem voos diretos para seu país, haitianos que vivem nos EUA e outros países do Caribe estão desembarcando pela primeira vez na nação vizinha.
A maioria procura rodoviárias privadas de onde partem ônibus que percorrem o trajeto em cerca de oito horas. O serviço foi restabelecido no último sábado. Nas filas de embarque dos coletivos, as bagagens mais comuns são sacos de arroz de 30 quilos, produtos de limpeza e enlatados de todos os tipos.
Cial Sovenson Garçon, 32, é funcionário da empresa de cruzeiros Royal Caribbean. Ele soube do terremoto ao assistir à TV no navio em que trabalha como faxineiro. Desembarcou no porto da empresa em Labadee, norte do Haiti, e seguiu para a República Dominicana.
"É muito perigoso chegar a Porto Príncipe pelas estradas que vêm do norte do país, há muitos bandidos. Por isso eu aluguei um carro até Santo Domingo e peguei o ônibus para Porto Príncipe. O problema é que até agora não sei como estão minha mulher e minha filha, que só tem um ano", disse.
Na fronteira, o Exército dominicano recebeu reforço de 800 homens, o que acalmou a tensão provocada por ondas de haitianos que tentavam fugir para o país vizinho. Mas a fronteira continua lotada. Do lado dominicano, além dos ônibus, é possível ver famílias inteiras retornando ao país de carro.
Elas formam longas filas na imigração junto a veículos de organizações não governamentais carregados de ajuda humanitária e ônibus.
Do lado haitiano também há filas para atravessar a fronteira. Haitianos buscam comida num mercado a céu aberto e precário à beira do lago Azueie. Não há conflito aparente entre haitianos e militares dominicanos.
Segundo uma autoridade de fronteira, muitos haitianos tentam cruzar a divisa com crianças sem nenhum documento de identificação e são barrados.
Na fronteira também é possível achar estrangeiros em busca de funcionários de ONGs desaparecidos. "A minha organização tinha quatro escolas que atendiam 5.000 haitianos. Vim tirar fotos e saber o que aconteceu com as pessoas que trabalhavam lá", disse o americano Jim Harris, que viajava em um ônibus para Porto Príncipe.
Na capital, o ônibus com os haitianos e estrangeiros desembarca em Pétionville, onde familiares e amigos esperam parentes repatriados. Além da comida, trazem dinheiro, uma vez que o sistema de remessas bancárias internacionais não foi restabelecido. É o caso de Garçon, que ganha pouco mais de US$ 500 por mês trabalhando no exterior. "Tenho de ajudar a minha família." (LK)

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