São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

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Brasileiro afirma que Aristide pode voltar ao Haiti se for ajudar

Diplomata adota tom mais ameno para se referir ao possível retorno de ex-presidente

MARCEL MERGUIZO
DE PORTO PRÍNCIPE

LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO

O embaixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman, afirmou ontem que qualquer haitiano que estiver no exterior e desejar voltar ao país "para ajudar" é bem-vindo, inclusive o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
Contudo, segundo ele, isso não significa que o Brasil tenha passado a apoiar o retorno do ex-presidente ao cenário político haitiano.
"Qualquer haitiano que esteja no exterior hoje, a qualquer título, e que deseje retornar ao Haiti para contribuir com o esforço de refundação do país será muito bem-vindo. Aí incluo Jean-Bertrand Aristide", disse.
Kipman participou ontem de corrida de rua realizada com apoio do Exército brasileiro em Porto Príncipe.
Essa declaração do embaixador tem um tom mais ameno que a feita na semana passada, quando ele considerou o eventual retorno de Aristide ao Haiti um "motivo de preocupação".
Essa, inclusive, é a avaliação do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que disse à Folha anteontem que o retorno de Aristide "no momento atual não seria conveniente".
"Agregaria mais pimenta nessa culinária política complicada", afirmou. Kipman disse que sua posição não contradiz Garcia.

CRISE
O Haiti vive uma nova crise política desde o surgimento de denúncias de fraude no primeiro turno das eleições, em novembro de 2010.
Em um resultado parcial, o CEP (Conselho Eleitoral Provisório) declarou que disputariam o segundo turno a candidata oposicionista Mirlande Manigat e o oficialista Jude Célestin.
Mas a margem de votos que separou Célestin do terceiro lugar, o também oposicionista Michel Martelly, foi muito pequena, o que suscitou suspeitas de fraude.
A suspeita foi reforçada por um relatório da OEA (Organização dos Estados Americanos) que, após fazer análise por amostragem dos votos, recomendou que o candidato governista fosse excluído do segundo turno.
Nesse contexto, há cerca de uma semana, o ex-ditador Jean-Claude Duvalier, o "Baby Doc", retornou de surpresa ao país se oferecendo para participar da reconstrução após o terremoto.
Dias depois, foi divulgada uma carta de Aristide na qual ele afirmava também desejar retornar ao país para ajudar na área de educação. Ele alegou ainda razões médicas: está em exílio na África do Sul e teria sido aconselhado a não viver em um país frio.
Porém, segundo Aristide, o governo haitiano se recusa a fornecer um passaporte para que ele entre no país.
Segundo Kipman, o Haiti precisa hoje de um esforço não só de reconstrução, mas de "refundação" -que inclui um pacto político entre inúmeras correntes e a reformulação da Constituição.
Ontem, 12 candidatos haitianos que contestam o resultado do primeiro turno realizaram uma manifestação em Porto Príncipe. Um veículo da ONU foi apedrejado.

Com FLÁVIA MARREIRO e CLÁUDIA ANTUNES


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