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Polêmica no Oriente Médio leva Hillary a evitar encontro com socialista francesa
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Hillary Clinton, a primeira
mulher a aspirar à Presidência
dos Estados Unidos, recusou-se a receber Ségolène Royal, a
primeira mulher a candidatar-se à Presidência da França. Ségolène suspendeu viagem a
Washington alegando cansaço
depois de haver visitado o
Oriente Médio e Portugal, há
pouco mais de duas semanas.
Mas o motivo real foi a negativa de Hillary em colocá-la em
sua agenda, e é duvidoso que a
socialista Ségolène visite os
EUA antes das eleições de abril
na França, tais as razões do colapso do que fora imaginado como ato de primeira grandeza
no universo feminista.
Críticos falam em inexperiência em política externa e
até ingenuidade. O fato é que
Ségolène reuniu-se no Líbano
com um parlamentar do Hisbollah, o grupo radical islâmico tido como terrorista pelo Departamento de Estado, acusado de
vinculações com o Irã e a Síria e
empenhado em derrubar o governo libanês pró-ocidental.
Surpreendeu sobretudo o conteúdo, não o encontro em si.
Um assessor de Hillary, que
preferiu o anonimato, disse a
"Le Parisien" que o diálogo poderia ser interpretado como comunhão de crenças, merecedora de repúdio, não de afagos.
Ali Ammar denunciou o governo Bush, diante de Ségolène, por "demência sem limites". O "Jerusalem Post" acrescentou que Israel foi acusado
de "nazismo" em política externa. Alguém lembrou que Ali
Ammar foi o nome adotado por
um guerrilheiro legendário que
enfrentou os franceses na Argélia. Ségolène procurou limitar os estragos insistindo em
que a conversa se referiu somente ao Iraque, não teve a dimensão de um programa de política externa. Mas a negativa
de Hillary, temerosa de um
passo em falso, repercutiu; até
se falou em "incidente internacional". Mas as divergências
não se limitam a esse episódio.
O Partido Democrata, de Hillary, tem muito pouco em comum com os socialistas franceses, que saúdam intervenções
do Estado e não raramente vão
em cima da "hegemonia americana no mundo". É persistência
de antiga nostalgia gaullista, de
um poder autônomo.
A própria Ségolène, num debate na TV, disse que "não podemos aceitar o conceito da
guerra preventiva, nem o conceito dos bons contra os maus,
nem americanos pregando liberalismo econômico fora e
praticando protecionismo em
casa, nem a recusa ao Tratado
de Kyoto".
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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