São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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TRANSIÇÃO EM CUBA / RELAÇÃO COM O BRASIL

Sob Lula, Brasília aprofunda cooperação com Havana

Desde 2003, quando subiu ao poder, Lula firmou 32 atos diplomáticos com Cuba

Durante década de 1990, parcerias eram em educação e de saúde; governo atual incluiu siderurgia, pecuária, microempresas e internet

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A aproximação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a ditadura de Fidel Castro não se resume ao plano das idéias: o petista foi responsável pelo aprofundamento nas relações dos dois países.
Desde que chegou ao Palácio do Planalto, em janeiro de 2003, Lula firmou 32 atos diplomáticos, sem contar acordos fechados pela Petrobras.
De 1986, quando o Brasil e Cuba reataram relações diplomáticas, a 2003, foram 26 atos diplomáticos, um termo genérico que engloba acordos, protocolos e tratados, entre outros. Com Lula, o leque de assuntos e parcerias também aumentou.
Cada ato assinado representa envolvimento institucional brasileiro e cubano. Na maioria das vezes, há previsão de viagens e encontros técnicos.
São exemplos os acordos firmados pela Petrobras com a Cupet (Companhia Cubana de Petróleo) no mês passado, com o objetivo de construir uma fábrica de lubrificantes, além de parceria em exploração e produção de petróleo.
Entre os acordos de maior relevância política assinados por Lula estão as regras para o pagamento da dívida cubana com o Brasil, calculada em junho de 2003 em cerca de 42 milhões. A dívida vem sendo paga, mas seu valor atual não é divulgado pelo Banco do Brasil, que alega "sigilo comercial".
Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, o programa de cooperação técnica Brasil-Cuba, que completou dez anos em 2007, é considerado um exemplo de cooperação entre países emergentes.
Essa chamada aproximação Sul-Sul é um dos pilares da política externa de Lula, que recebe críticas por, supostamente, virar as costas para economias tradicionais, como os Estados Unidos. O Itamaraty discorda.
Se, na década de 1990, a ligação com os cubanos englobava basicamente ações educacionais e de saúde, a gestão de Lula incluiu micro e pequenas empresas, siderurgia, pecuária e internet entre os temas de cooperação bilateral.
No ano passado, o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) instalou três telecentros brasileiros em Havana, por meio dos quais mais de 5.000 cubanos passaram a acessar a internet.
Há ainda projetos de capacitação e treinamento. Enquanto o Brasil exporta a "expertise" em econometria (descrição de relações econômicas por meio de modelos matemáticos) para o Banco Central cubano, Havana envia técnicos ao Brasil para troca de informações de estomatologia (ramo da medicina que estuda a boca).
Na área educacional, há uma polêmica histórica envolvendo a validação dos diplomas de medicina obtidos por estudantes brasileiros em Havana. Depois de assinado o acordo, o texto ainda aguarda votações no Congresso brasileiro.
Outro projeto em vigor tenta criar no Brasil bovinos da raça Siboney, desenvolvida em Cuba. Os testes serão feitos até dezembro deste ano em assentamentos de sem-terra em Goiás e Minas Gerais.
Ainda na pecuária, a vacina cubana Gavac vem sendo aplicada no Rio de Janeiro para eliminação de carrapatos.
Na área de meio ambiente, o intercâmbio vem aumentando. O Brasil fornece técnicas de preservação, gerenciamento de recursos hídricos e ainda trabalha para a recuperação ambiental da região afetada pela mina cubana El Cobre.


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