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Desabastecimento aprofunda desgaste do governo Chávez
Problemas de gestão e disputa na base política acendem alerta em ano eleitoral
Oposição, fortalecida após referendo, decide lançar candidatos únicos para governos estaduais e prefeituras em novembro
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em janeiro do ano passado,
Hugo Chávez, animado pela votação recorde de 63% nas eleições presidenciais, iniciava seu
terceiro mandato prometendo
o "socialismo do século 21". A
agenda incluía um novo partido, nacionalizações e uma reforma constitucional. Treze
meses depois, o presidente venezuelano tenta se recuperar
da primeira derrota eleitoral
em nove anos, tem a base de
apoio envolvida numa briga
fratricida e vê a imagem do governo desgastada por causa do
desabastecimento alimentar.
A escassez de produtos da
cesta básica já dura mais de um
ano e atinge cada vez mais produtos. O último da lista é o arroz, embora o mais ausente
continue sendo o leite. Faltam
ovos, feijão e macarrão. Em
praticamente todas as cidades
do país, é fácil encontrar filas
de consumidores para comprar
leite em volume racionado
-dois litros por pessoa.
Muitas vezes, a espera termina em confusão. Há nove dias,
moradores de Sabaneta (sudoeste), terra natal de Chávez,
saquearam um Mercal (supermercado estatal). A cidade é governada por um irmão do presidente, Anibal, e fica no Estado
de Barinas, comandado pelo
pai dele, Hugo de los Reyes.
A principal resposta do governo neste ano foi a criação da
PDVAL, subsidiária da gigante
petroleira PDVSA que está
montando uma rede nacional
para vender produtos como leite e feijão -importados do Brasil- a preços subsidiados.
Apesar de aumentar a oferta,
a PDVAL não acabou com o
problema das filas. "Acordei às
5h30 para ir ao Mercal comprar
dois pacotes de arroz, dois de
açúcar, um macarrão e mais nada", diz o ferreiro Wilfredo
Marcano, 51, às 11h da última
quinta, enquanto enfrentava a
fila do novo posto da PDVAL,
em Cátia, bairro pobre de Caracas. "Agora estou há três horas
para comprar um frango."
O sistema de saúde é outra
área que enfrenta problemas,
agravados por recentes epidemias de dengue e de Chagas.
Nas últimas semanas, funcionários de hospitais públicos fizeram paralisações para reclamar das condições de trabalho
e exigir melhores salários. A secretária da Saúde para a região
metropolitana de Caracas, Luisana Melo, admitiu na quarta-feira que o setor está em "colapso funcional".
Auto-elogios na TV
Na última semana, Chávez
-que, após a derrota em dezembro, lançou a "política dos
três Rs (revisão, retificação e
reimpulso)- fez três cadeias de
TV e rádio recheadas de auto-elogios na área de saúde e
anunciou a criação de um Conselho Nacional de Segurança
contra a violência urbana,
apontada em pesquisas como o
principal problema do país.
Na quinta, o presidente fez
uma rara alusão ao momento
que seu governo atravessa: "Há
alguns que dizem, avaliando o
que aconteceu em 2 de dezembro [referendo da reforma
constitucional], que o amor
acabou. Não, não acabou o
amor entre nós e a revolução".
Além dos problemas de gestão, o governismo enfrenta um
embate dentro do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), cujo lançamento oficial,
previsto para dezembro, só deve ocorrer no mês que vem.
O deputado federal Luis Tascón acusou o ex-ministro da Infra-Estrutura e atual presidente do Seniat (a Receita local),
José David Cabello, de atos de
corrupção. Em resposta, o governador de Miranda (Estado
na região metropolitana de Caracas), Diosdado Cabello, irmão de José David e cacique do
chavismo, acusou Tascón de ligações com o narcotráfico e iniciou um movimento para expulsá-lo do partido, que não
tem ainda estatuto aprovado.
O mau momento traz preocupações ao oficialismo sobre
as eleições de novembro, que
renovarão todas as prefeituras
e governos estaduais, hoje quase todos em mãos de chavistas.
A oposição, fortalecida com a
vitória em dezembro, assinou
um acordo pelo qual só lançará
um candidato por cada disputa.
Recentemente, Chávez expressou o temor de perder o
controle da Grande Caracas,
considerado por ele vital para
evitar um novo golpe de Estado, como o de 2002. "Se esta revolução não se retifica como
deve ser retificada e perdermos
uma importante quantidade de
governos e prefeituras, o presidente pode ser afastado por referendo e sair antes de 2013",
alertou o chavista Freddy Bernal, prefeito de Libertador (região central de Caracas), falando ao jornal "Aragüeño".
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