São Paulo, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

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Países criam organização regional sem EUA

ENVIADOS ESPECIAIS A CANCÚN

Marcada pelo bate-boca entre os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Álvaro Uribe (Colômbia), a Calc (Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe) terminou ontem com o esperado anúncio da nova entidade regional, batizada de Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, e com apoio à Argentina na disputa com o Reino Unido em torno da prospecção de petróleo próxomo às ilhas Malvinas.
Chefes de Estados e representantes diplomáticos de 32 países da região subscreveram a constituição da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Só Honduras ficou fora, já que diversos países presentes, incluindo o Brasil, não reconhecem o governo eleito após o golpe contra Manuel Zelaya, em junho.
O batismo da organização foi uma vitória brasileira sobre a proposta mexicana, que preferia "união" no lugar de "comunidade". Segundo México, o nome Celac ainda é provisório, mas o Itamaraty avalia que já não haverá mudanças.
A declaração não detalha a estrutura da nova organização, embora o tema esteja em discussão desde 2008, quando o Brasil sediou a primeira cúpula exclusivamente regional, sem presença dos EUA e do Canadá. A expectativa é que o processo termine até 2011, quando a Venezuela sediará a próxima Calc.
Após a reunião, em entrevista, Lula disse ter entendido como "brincadeira" a proposta de Chávez para que ele assuma a liderança do bloco em 2011. Em momento de pouca modéstia, afirmou que o secretário não pode ser um dirigente "mais forte que os presidentes".
O brasileiro disse ainda que seria "ingênuo" ver na Celac uma forma de excluir os EUA. "Ninguém é ingênuo de criar uma ruptura com os EUA ou a União Europeia. Queremos manter essa boa relação e ter espaço de discussão entre nós."
A cúpula também aprovou um "comunicado especial" sobre a prospecção de petróleo nas ilhas Malvinas por parte de uma empresa britânica. O texto exorta o Reino Unido a respeitar resolução da Assembleia Geral da ONU, que recomenda aos dois países não tomarem decisões unilaterais enquanto a disputa não estiver resolvida.
Foi anunciada ainda a criação do Grupo de Países Amigos de Venezuela e Colômbia, que será liderado pelo presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, com a participação de Brasil e México. Anteontem, durante o almoço oficial, Uribe acusou Chávez de promover um "bloqueio comercial" contra a Colômbia nos moldes do embargo americano a Cuba. O venezuelano mandou o colega "ir pro caralho".
A crise diplomática entre ambos se arrasta desde meados do ano passado, quando Chávez congelou as relações bilaterais em represália ao acordo que amplia a presença militar americana na Colômbia.

Lula defende visita ao Irã
Em entrevista após o encontro, Lula falou ainda sobre sua visita ao Irã, programada para maio. Disse que está sendo tratada como um "escândalo", em meio às controvérsias sobre o programa nuclear do país.
"O Brasil acha que [o Irã] não pode ficar encurralado, isolado. É preciso construir oportunidade de paz no mundo e isso significa conversar, estabelecer relação mais plural. Não se constrói paz no mundo isolando ninguém", disse. (FM e SI)


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