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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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Analistas da CIA denunciam pressão do governo Bush

JAMES RISEN
DO "THE NEW YORK TIMES"

A recente revelação de que os relatórios indicando que o Iraque tentou comprar urânio de Níger se baseiam em parte de documentos forjados renovou reclamações de analistas da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) contra a forma com que o órgão tem sido conduzido, informaram diversos funcionários da central de inteligência.
Alguns analistas da agência afirmaram que eles se sentiram pressionados a fazer relatórios sobre o Iraque adequados à política do governo do presidente dos EUA, George W. Bush.
Durante meses, alguns analistas da CIA têm reservadamente expressado preocupações a colegas e parlamentares do Congresso sobre pressões que sofreram, ao escrever relatórios para que fossem enfatizadas as ligações entre o governo do ditador iraquiano, Saddam Hussein, e a Al Qaeda, rede terrorista liderada pelo saudita Osama Bin Laden.
Quando a Casa Branca argumentou que as ligações entre Saddam e a Al Qaeda justificavam uma ação militar contra o Iraque, esses analistas reclamaram que os relatórios sobre o Iraque atraíram interesse incomum de altos funcionários do governo Bush.
"Vários analistas estão incomodados sobre a forma com que o caso Iraque-Al Qaeda está sendo conduzido", disse um funcionário da CIA que tem acompanhado o debate.
A discussão ganhou novo fôlego depois da revelação feita duas semanas atrás pelo diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed El Baradei, de que a suposta tentativa pelo Iraque de comprar urânio de Níger se fundamentou em parte em documentos falsos. A suposta negociação havia sido citada em público por Bush.
"A falsificação aumentou a sensação dos analistas que eles estavam ficando constrangidos pela forma com que a atuação do serviço de inteligência sobre o Iraque tem sido tratada", disse um funcionário do governo, que afirma ter mantido conversas com analistas da CIA sobre o assunto.
Os documentos falsos não foram criados pela CIA nem por nenhum outro órgão do governo americano, mas os funcionários da CIA sempre suspeitaram dos documentos, segundos os próprios analistas. Mesmo assim, essas informações acabaram sendo divulgadas publicamente pelo presidente americano.
Funcionários da CIA disseram que havia outras informações, avaliadas como críveis, que levantavam suspeitas sobre uma possível conexão de venda de urânio entre Níger e Iraque.
Alguns analistas confidenciaram a colegas que eles estão se sentindo tão frustrados a ponto de cogitar a saída da CIA.
Um alto funcionário da CIA informou que nenhum analista pediu o desligamento da agência até agora em protesto à atuação sobre o Iraque. No Departamento de Estado, no entanto, três funcionários do serviço estrangeiro pediram demissão por ser contrários à política de Bush.
O alto funcionário disse que alguns analistas estão frustrados por frequentemente serem obrigados a responder várias vezes às mesmas perguntas, feitas por altos funcionários do governo, a respeito dos relatórios de inteligência sobre o Iraque. Muitas dessas perguntas são a respeito das fontes de informação.
Ele nega que os analistas estejam sendo pressionados a mudar o conteúdo de suas conclusões. "Há uma sensação de sobrecarga de trabalho. Mas os analistas compreendem o porquê de as pessoas perguntarem tanto e a razão pela qual os formuladores de políticas não aceitam um relatório integralmente".


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