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Bomba atinge universidade medieval
DA REDAÇÃO
Uma das universidades mais famosas do Iraque e mais antigas do
mundo foi atingida ontem por
ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos. Segundo testemunhas, o bombardeio abriu uma
cratera na entrada da universidade e estourou janelas de lojas nos
arredores.
O correspondente da agência
Reuters Hassan Hafidh afirmou
que uma bomba atingiu a universidade medieval Al Mustansiriya
às 15h (9h em Brasília), durante
um assalto aéreo à cidade.
A universidade, fundada no século 13, é uma das mais velhas do
mundo árabe. E figura também
entre as mais antigas de todo o
planeta, ao lado das universidades
de Bolonha, na Itália, Oxford, no
Reino Unido (ambas do século 11)
e da Sorbonne, na França (também do século 13).
O bombardeio desrespeita uma
convenção internacional, que não
foi ratificada pelos EUA, sobre a
proteção do patrimônio cultural
por ocasião de guerra.
As aulas em Mustansiriya haviam sido suspensas antes do ataque, assim como na maioria das
escolas de Bagdá, devido à ameaça de ação militar.
Hafidh disse que três pessoas ficaram feridas na explosão, que
abriu um buraco de cerca de dez
metros de diâmetro e três de profundidade em uma das entradas
da universidade. Treze lojas nas
imediações foram danificadas.
Moradores da vizinhança que se
juntaram para avaliar o estrago
disseram não saber por que a universidade foi alvejada. "Por que
eles atacaram este lugar? Ele não
tem nada a ver com atividade militar", afirmou Chafic Abbas, que
mora na região, à Reuters.
A comunidade acadêmica do
mundo inteiro tem manifestado
preocupação com o estrago que a
guerra pode e deve causar ao patrimônio histórico, arqueológico
e arquitetônico do Iraque.
O país é considerado um dos
berços da civilização. A região entre os rios Tigre e Eufrates (a célebre Mesopotâmia) guarda 8.000
anos de história. Lá surgiram a
agricultura, as primeiras cidades e
a escrita, e civilizações como a babilônica, a suméria e a assíria. Por
lá também passaram gregos e
mongóis.
A capital iraquiana em si concentra um patrimônio riquíssimo: fundada em 762, foi um dos
principais centros intelectuais da
Idade Média, e abriga diversos
museus e mesquitas.
O Departamento de Antiguidades do Iraque tem uma lista com
10 mil sítios arqueológicos escavados no país. Mas o arqueólogo
McGuire Gibson, da Associação
Americana de Pesquisa em Bagdá, fez uma estimativa "conservadora" de 25 mil sítios importantes
em artigo publicado na última
edição da revista científica "Science" (www.sciencemag.org).
Antes do início da ação militar,
a associação entregou ao Departamento de Defesa dos EUA uma
lista de 4.000 sítios arqueológicos
com suas respectivas localizações,
e um pedido para que fossem
poupados dos bombardeios.
Desrespeito a convenção
Na semana passada, um grupo
de 18 pesquisadores assinou um
manifesto pedindo aos governos
americano e britânico que respeitassem a Convenção para a Proteção da Propriedade Cultural em
Conflitos Armados, de 1954.
O bombardeio da universidade
fere o texto da convenção, da
Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura) -que foi ratificada pelo Iraque, mas não pelos EUA e
Reino Unido. O texto da convenção está disponível na internet
(www.unesco.org/culture/laws/hague/htmleng/page1.shtml).
(CLAUDIO ANGELO)
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