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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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Bomba atinge universidade medieval

DA REDAÇÃO

Uma das universidades mais famosas do Iraque e mais antigas do mundo foi atingida ontem por ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos. Segundo testemunhas, o bombardeio abriu uma cratera na entrada da universidade e estourou janelas de lojas nos arredores.
O correspondente da agência Reuters Hassan Hafidh afirmou que uma bomba atingiu a universidade medieval Al Mustansiriya às 15h (9h em Brasília), durante um assalto aéreo à cidade.
A universidade, fundada no século 13, é uma das mais velhas do mundo árabe. E figura também entre as mais antigas de todo o planeta, ao lado das universidades de Bolonha, na Itália, Oxford, no Reino Unido (ambas do século 11) e da Sorbonne, na França (também do século 13).
O bombardeio desrespeita uma convenção internacional, que não foi ratificada pelos EUA, sobre a proteção do patrimônio cultural por ocasião de guerra.
As aulas em Mustansiriya haviam sido suspensas antes do ataque, assim como na maioria das escolas de Bagdá, devido à ameaça de ação militar.
Hafidh disse que três pessoas ficaram feridas na explosão, que abriu um buraco de cerca de dez metros de diâmetro e três de profundidade em uma das entradas da universidade. Treze lojas nas imediações foram danificadas.
Moradores da vizinhança que se juntaram para avaliar o estrago disseram não saber por que a universidade foi alvejada. "Por que eles atacaram este lugar? Ele não tem nada a ver com atividade militar", afirmou Chafic Abbas, que mora na região, à Reuters.
A comunidade acadêmica do mundo inteiro tem manifestado preocupação com o estrago que a guerra pode e deve causar ao patrimônio histórico, arqueológico e arquitetônico do Iraque.
O país é considerado um dos berços da civilização. A região entre os rios Tigre e Eufrates (a célebre Mesopotâmia) guarda 8.000 anos de história. Lá surgiram a agricultura, as primeiras cidades e a escrita, e civilizações como a babilônica, a suméria e a assíria. Por lá também passaram gregos e mongóis.
A capital iraquiana em si concentra um patrimônio riquíssimo: fundada em 762, foi um dos principais centros intelectuais da Idade Média, e abriga diversos museus e mesquitas.
O Departamento de Antiguidades do Iraque tem uma lista com 10 mil sítios arqueológicos escavados no país. Mas o arqueólogo McGuire Gibson, da Associação Americana de Pesquisa em Bagdá, fez uma estimativa "conservadora" de 25 mil sítios importantes em artigo publicado na última edição da revista científica "Science" (www.sciencemag.org).
Antes do início da ação militar, a associação entregou ao Departamento de Defesa dos EUA uma lista de 4.000 sítios arqueológicos com suas respectivas localizações, e um pedido para que fossem poupados dos bombardeios.

Desrespeito a convenção
Na semana passada, um grupo de 18 pesquisadores assinou um manifesto pedindo aos governos americano e britânico que respeitassem a Convenção para a Proteção da Propriedade Cultural em Conflitos Armados, de 1954.
O bombardeio da universidade fere o texto da convenção, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) -que foi ratificada pelo Iraque, mas não pelos EUA e Reino Unido. O texto da convenção está disponível na internet (www.unesco.org/culture/laws/hague/htmleng/page1.shtml). (CLAUDIO ANGELO)


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