São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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FRANÇA

Após novas manifestações reunirem 220 mil, sindicatos esperam que premiê francês faça concessões em lei trabalhista

Diante de protestos, Villepin aceita negociar

DA REDAÇÃO

Enquanto 220 mil estudantes saíam ontem novamente em passeata em Paris e em 30 cidades francesas -são números do Ministério do Interior-, representantes das cinco maiores confederações sindicais aceitaram o convite do primeiro-ministro Dominique de Villepin para discutir, hoje à tarde, a controvertida lei do primeiro emprego.
Na capital, cerca de 60 pessoas ficaram feridas, e 141 foram detidas. Atos de vandalismo eclodiram também em Marselha e em Rennes. Os chamados bagunceiros ("casseurs"), marchando fora dos cordões de segurança dos manifestantes, agrediram fotógrafos e estudantes e entraram em confronto com policiais.
Villepin enviou pela manhã carta aos sindicalistas convidando-os à abertura de um diálogo, que foi de imediato aceito. Na carta, redigida de modo firme e elegante, ele lembra que governos e sindicatos têm a mesma preocupação com o desemprego dos jovens.
O encontro de hoje no palácio Matignon, sede da chefia do governo francês, será precedido de consultas entre os sindicalistas e lideranças estudantis.
A lei que vem sendo contestada ainda não foi promulgada. Ela facilita a contratação experimental de recém-formados por um período de 24 meses, com menores encargos e sem alguns direitos trabalhistas. Os jovens podem ser demitidos sem justificativa.
Os sindicatos não têm procuração dos cerca de 450 líderes estudantis, que atuam de modo inorgânico desde o início dos protestos, há duas semanas. As três associações de universitários e as duas de secundaristas representam apenas uma parcela da mobilização, orientada sobretudo por redes horizontais que se mobilizam por meio da internet.
Mesmo assim, os sindicalistas a serem recebidos pelo premiê publicaram comunicado conjunto em que exigem "a retirada da lei do primeiro emprego antes de qualquer negociação".
Observadores acreditam que o governo, diante de interlocutores institucionais, poderá anunciar concessões que esvaziem a "jornada de ação" da próxima terça-feira, que prevê novos protestos e greves em serviços públicos estatais, como trens e metrôs. Não se fala na França em greve geral.
François Chérèque, líder da CFDT, confederação próxima dos socialistas, disse esperar que Villepin anuncie até que ponto pretende recuar. Bernard Thibault, da CGT, próxima dos comunistas, disse que o momento era de excepcional unidade. As confederações sindicais têm em geral grandes divergências.
A passeata de Paris, da praça da Itália à Esplanada dos Inválidos, onde se situa a torre Eiffel, reuniu em torno de 30 mil manifestantes. Um serviço de segurança da CGT e da FO, central reformista, liderava o cortejo. O Ministério do Interior designou 3.000 policiais.
Os incidentes começaram quando a passeata estava em Montparnasse. Cerca de 30 automóveis foram danificados por "casseurs" que, segundo a France Presse, chegaram de ruas transversais e não estavam participando do ato público.
No momento da dispersão, uma centena desses autônomos passou a atirar pedras e latas sobre policiais e a queimar portas de edifícios nas imediações do Ministério das Relações Exteriores.
Nas passeatas em cidades do interior, ocorreu a adesão de eletricitários em Toulouse (eles temem a privatização da estatal do setor) e a maciça adesão de secundaristas em Estrasburgo e Grenoble.
O Ministério da Educação constata que o movimento não está se esvaziando. Ele afeta 67 das 84 universidades francesas -com 21 ocupadas e 46 parcialmente em greve. Os estudantes dizem que são 68 as universidades afetadas. Já os secundaristas afirmam que 600 dos quase 4.400 liceus estão total ou parcialmente paralisados.


Com agências internacionais

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