São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 2011

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Reforma econômica fortalece governo Ahmadinejad

Em plena crise regional, iraniano corta subsídios ao pão e aos combustíveis; país não teve revolta popular

DO RIO

Na noite de 18 de dezembro, dia seguinte à imolação do jovem tunisiano que foi a fagulha para a onda de protestos no Oriente Médio, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou na TV que em algumas horas os iranianos acordariam pagando mais pelo pão, a gasolina e o gás.
O corte dos subsídios que vigoravam desde os anos 80 -há muito considerado necessário, mas adiado pelo temor de revoltas- foi recebido com certa tranquilidade.
Antes, como compensação, o governo depositara em contas bancárias o equivalente a US$ 90 para cada membro das famílias que se registraram (a maioria).
A quantia, valendo dois meses de uma ajuda mensal que se estenderá por tempo indeterminado, só estaria liberada quando os preços subissem.
A discussão entre os iranianos era o que fariam com o dinheiro -equivalente a 24% da renda média mensal, mas muito mais para os cerca de 15% que vivem com menos de US$ 2 por dia.
Embora ressaltem que é cedo para proclamar o sucesso da reforma, analistas coincidem em que ela foi uma vitória para Ahmadinejad.
Para Suzanne Maloney, analista da americana Instituição Brookings, a reforma trouxe nuances à visão de que o governo é ineficiente e pouco maleável.
"A reforma exigiu um grau considerável de competência burocrática. Milhões de contas bancárias foram abertas. Cartões com chips foram implantados nos postos de gasolina."
Os cartões, explica o iraniano Djavad Saheli-Isfahani, da Universidade George Washington (EUA), representam a parte distributivista da reforma: o preço do combustível, assim como o do gás, variará com o consumo. Os que mais gastam -os mais ricos- pagam mais.
Em média, o litro da gasolina foi de R$ 0,17 para R$ 0,68. O pão dobrou, para R$ 0,34 por unidade.
Os subsídios consumiam cerca de US$ 70 bilhões, ou 20% do PIB iraniano.
Para os analistas, o maior incentivo para a reforma foi a queda do preço do petróleo na crise global de 2008. O Irã é dono da segunda ou terceira maior reserva de petróleo e gás do mundo, e 70% da receita estatal vem da exportação desses produtos.
O preço do barril caiu a US$ 40. A economia iraniana, que cresceu em média 5,9% nos sete anos anteriores, patinou em 1%. (CA)


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