São Paulo, quarta, 24 de março de 1999

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ASSASSINATO
Morte de Luis María Argaña agrava crise política no país; opositores pedem renúncia do presidente Cubas Grau
Atentado mata vice do Paraguai

Reuters
Polícia procura pistas junto ao carro metralhado do vice-presidente Luis Maria Argaña


das agências internacionais

O vice-presidente do Paraguai, Luis María Argaña, 66, foi assassinado ontem em Assunção (capital). Ele era adversário político do presidente Raúl Cubas Grau e do general da reserva Lino César Oviedo, homem forte do país. O crime aprofundando a crise política paraguaia.
O atentado ocorreu por volta das 8h locais (9h, em Brasília) a cerca de 10 minutos do centro da capital.
Argaña, que era presidente do Partido Colorado, o mesmo de Cubas, recebeu pelo menos dez tiros. Seu guarda-costas também morreu, e o motorista ficou ferido.
Os assassinos -que seriam três, vestidos com roupas militares- lançaram uma granada contra o carro, mas o artefato não explodiu.
Logo após o atentado, o presidente Cubas leu, da escada principal do palácio, uma declaração, na qual afirmou que não pretendia renunciar, apesar das exigências de políticos aliados a Argaña.
Ele anunciou também uma operação conjunta entre a polícia e os militares para prender os autores. "Castigaremos os responsáveis, sejam quem forem", afirmou.
"Não podemos dizer que foram militares somente porque vestiam uniforme militar. Camisas e calças camufladas podem ser compradas em qualquer loja de caça e pesca", disse.
O presidente disse que, há cerca de quatro meses, havia oferecido um esquema de segurança a Argaña, que teria recusado.
A notícia levou ao fechamento do comércio em Assunção e à interrupção do transporte público.
Serviços de comunicação e energia elétrica foram interrompidos por alguns minutos, sem explicações oficiais.
Em 6 de abril próximo, a Câmara dos Deputados deverá decidir se dá início a um processo de impeachment contra Cubas.
Ele é acusado de desobedecer a uma decisão da Corte Suprema, que ordenou a prisão do general Lino Oviedo, principal aliado político de Cubas.
Oviedo foi condenado em 98 a dez anos de prisão por uma tentativa de golpe contra o ex-presidente Juan Carlos Wasmosy, em 96.
Cubas, candidato a vice em sua chapa, assumiu a candidatura colorada, venceu as eleições e, ao assumir o poder em agosto de 98, libertou o aliado.
O indulto foi anulado pela Corte Suprema, mas Cubas desconheceu a nova ordem de prisão e, por isso, pode sofrer impeachment.
O atentado de ontem tem grande significado porque, se Cubas fosse afastado, Argaña seria o novo presidente do Paraguai.
"Exigimos a renúncia de Cubas. Ele e seu amigo criminoso Lino Oviedo são os responsáveis", disse o senador Juan Carlos Galaverno, próximo a Argaña.
Outro político "argañista", Icho Planás, disse que o assassinato não ficará impune: "Isso não ficará assim. Vai correr muito sangue". Sem apresentar provas, disse que o assassinos poderiam ser originários do Brasil e teriam sido contratados para o atentado.



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