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ARTIGO
O pesadelo toma forma
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dez entre dez análises sobre
o futuro daquilo que um dia foi
chamado de guerra ao terror
colocava como pior cenário
possível a desintegração do Paquistão devido a uma insurreição islâmica. Com a chegada do
Taleban paquistanês a menos
de 100 km da capital, Islamabad, as suposições passaram a
soar como profecias.
Conversando com um político do governista PPP e um diplomata ocidental ontem, a
sensação era a de que o Apocalipse estava às portas. Mas ambos concordam que esse temor
se deve, e muito, à estranha inação do Exército até aqui.
É verdade que os militares
nunca foram empenhados na
caça aos militantes que em vários casos haviam treinado, até
serem forçados pelos EUA a
agirem com mais dureza. O resultado foi desastroso, com pesadas perdas e a trégua que instalou um proto-emirado no vale do Swat.
Mas também é verdade que
até aqui o terror não oferecia
risco adicional à integridade do
Paquistão; as áreas tribais já
eram um território sem lei. O
resto do país ainda era um todo
sob a vista das Forças Armadas.
O confronto ocorreu geralmente de forma irregular, com
atentados. Quando foi direto,
ocorreu em áreas montanhosas
de esparsa população, de difícil
controle pelos militares.
Isso dá um ar de péssima novidade às notícias de ontem.
Até porque não é certa a reação
do Exército, o verdadeiro poder
político no país. Historicamente, momentos de grande convulsão foram resolvidos da forma tradicional: golpe.
Em Islamabad, a palavra ouvida sobre os militares era
"apatia". Se isso significa lassidão para ver o circo pegar fogo e
ser chamado a apagá-lo, é uma
questão grave. Se implicar capitulação, aí os EUA serão impelidos a agir -com consequências
imprevisíveis, a começar por
uma não descartável intervenção indiana na Caxemira e o
risco de uma guerra nuclear.
Dito isso, dois atenuantes.
Primeiro: ainda que haja indícios de células extremistas no
Punjab, que equivale a São Paulo no Paquistão, o país é muito
heterogêneo. O Taleban é composto pela minoria pashtun, e
só teria sucesso geral se tivesse
apoio de extremistas de outras
etnias, por ora ainda sob os
olhos do Exército. E há uma
grande fatia moderna e urbana
no Paquistão que não aceitaria
um regime islâmico estrito.
Segundo: apesar do alarmismo justificável, o fato de estar à
beira da auto-estrada moderna
que liga Peshawar a Islamabad
não é necessariamente uma
vantagem para o Taleban. O tipo de guerra que ele luta não
comporta combate em campo
aberto, ainda mais em um lugar
em que blindados podem agir.
Apesar dos sinais, faz mais
sentido imaginar os extremistas tentando não derrubar o governo, mas garantir um território para si. A questão é: o Exército quer lutar?
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