São Paulo, domingo, 24 de abril de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

Ditador do Iêmen aceita sair em 30 dias

Há 32 anos no poder, Ali Saleh diz concordar com transição, mas ainda negocia ressalvas dos oposicionistas

Proposta dos vizinhos inclui total imunidade a ditador, seus familiares e assessores por crimes cometidos no regime

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O partido governista do Iêmen anunciou neste sábado que concorda com um trato segundo o qual o ditador Ali Abdullah Saleh, no poder há 32 anos, entregará o cargo ao vice dentro de um mês.
O acordo foi elaborado pelo CCG (Conselho de Cooperação do Golfo), que conta com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Bahrein, Kuait e Omã.
"O partido governista informou aos chanceleres do CCG que a aceitação da Iniciativa do Golfo [nome dado ao acordo] é completa", disse o porta-voz da legenda, Tariq Shami, à agência Reuters.
Conforme a última versão do texto, Saleh deverá entregar o cargo ao vice e um governo de união nacional num prazo de 30 dias. Os mandatários teriam, então, 60 dias para realizar eleições presidenciais. Os prazos seriam contados a partir da assinatura do acordo, o que ainda não ocorreu.
Em contrapartida, tanto o ditador quanto os seus familiares e assessores receberiam imunidade total perante a Justiça.
Essa reivindicação de Saleh foi uma das mais polêmicas, mas, ontem, os líderes da oposição iemenita disseram que concordam com a maior parte do acordo, inclusive a imunidade, mas fizeram outras ressalvas.
De acordo com o porta-voz Mohammed Kahtan, um dos problemas é o prazo de apenas sete dias para a criação do governo de coalizão. Os oposicionistas insistem que Saleh saia antes. "Ou teríamos de fazer o juramento a Saleh", disse.
Em entrevista à TV Al Jazeera, sediada no Qatar, o porta-voz oposicionista destacou ainda que não há confiança necessária para coalizão, mas que isso não é um obstáculo intransponível.
Outro problema é um item segundo o qual o Parlamento do país, dominado por Saleh, teria o poder de rejeitar a renúncia dele, abrindo espaço para um novo impasse.
Embora medeie as negociações entre o governo e a oposição iemenitas, o CCG ainda não se pronunciou sobre os avanços de ontem.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado americano Mark Toner pediu ontem que a transição de poder no Iêmen comece de forma "imediata", com a inclusão das principais forças políticas do país.

PROTESTOS
Inspirados nos movimentos ocorridos na Tunísia e no Egito, milhares de iemenitas têm ido às ruas quase diariamente para exigir a retirada imediata do ditador.
Mesmo ontem, várias escolas, repartições públicas e firmas realizaram greve, em resposta a uma convocação feita pela oposição. Milhares permanecem acampados em praças de ao menos cinco localidades do país.
Conforme o jornal "The New York Times", um outro entrave à reta final das negociações seria, justamente, a exigência do governo de que não haja mais protestos. Os oposicionistas, diz a publicação, admitem não liderar todos os grupos envolvidos nos atos antirregime.
Desde que os protestos começaram, a ditadura iemenita usa de violência para contê-los. Saleh também já ofereceu algumas concessões, como a de não concorrer à reeleição ao término do seu mandato, em 2013.
Na sexta-feira passada, o ditador iemenita afirmou que aceitaria a Iniciativa do Golfo por desejar "cooperar de forma positiva, no marco da Constituição".
Desde o início da pressão para sua saída, Saleh insiste que só deixará o poder dentro de um planejamento ordenado e constitucional.


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