São Paulo, domingo, 24 de abril de 2011

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Favelas argentinas dobram desde 2001

Instituto católico aponta que população do país em áreas de urbanização informal saltou de 1,5 milhão para 3 milhões

Do total de favelados, 2 milhões vivem hoje em Buenos Aires e na região metropolitana da capital argentina

Sergio Goya/Folhapress
Mulher caminha em beco da favela Los Piletones, que tem 10 mil habitantes; moradores estão em campanha para eleição da diretoria do centro comunitário

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Richard Averanja chegou a Buenos Aires há um ano. Mudou-se da Bolívia com mulher e dois filhos, em busca de progresso econômico.
Desempregado, Averanja vive de bicos. Não tem outra opção a não ser morar em uma "villa", como são chamadas as favelas argentinas.
Puxada pelo grande número de estrangeiros pobres como Averanja e pela crise econômica e social de 2001, que empurrou parte da classe média para a pobreza, a favelização explodiu na Argentina na última década.
Três milhões de pessoas -7,5% dos estimados 40 milhões de habitantes do país- estão em "villas", segundo o Observatório da Dívida Social, instituto da Universidade Católica Argentina. Em 2001, a estimativa era de 1,5 milhão de favelados.
Do total atual, 2 milhões estão em Buenos Aires e na região metropolitana da capital, que registrava 1 milhão de favelados em 2001.
Não há índice oficial disponível sobre o número de favelados na Argentina.
O Observatório da Dívida Social classifica como favelas todas as áreas em que a urbanização é informal -não há regulamentação ou planejamento do Estado e os próprios moradores constroem suas casas, em terrenos dos quais não são proprietários.
A Folha percorreu algumas das "villas" de Buenos Aires: das maiores e recentes, localizadas na pobre periferia sul, à "Villa 31", uma das mais antigas, vizinha do elegante bairro da Recoleta.
Elas abrigam número crescente de imigrantes latino-americanos (sobretudo bolivianos, paraguaios e peruanos) e têm problemas comuns às periferias brasileiras, como narcotráfico e falta de serviços essenciais.
Quando a reportagem percorria a "Villa 31" (30 mil habitantes), um senhor morreu no chão de uma das vielas, após uma crise de epilepsia.
Chamado três vezes, o serviço médico se recusou a entrar no local. "É sempre assim, a ambulância nunca entra aqui", disse Maria Martínez, 37. Moradora da favela desde que nasceu, Martínez e sua família foram uma das poucas que resistiram à política habitacional da última ditadura (1976-83), que tentou acabar com as favelas.
Os barracos eram derrubados e os moradores, transferidos para o interior do país. À época, a população favelada de Buenos Aires foi reduzida de 225 mil, em 1976, para 40 mil, na década de 1980.
Mas a política não deu certo: foram-se os militares, voltaram as favelas. "Aqui não está fácil, mas na Bolívia é ainda pior. Pelo menos, na "villa", não pago água nem luz", diz Averanja, que paga 350 pesos (R$ 135) por mês por um quarto sem banheiro e com "pouca dignidade", onde vive com a família.


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