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"BENEMÉRITO"
Bairro Pablo Escobar cultiva sua memória
Chefão do tráfico é herói em Medellín
DO ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN
Se fosse candidato a presidente nas eleições do próximo domingo, Pablo Escobar, o chefão do cartel de Medellín morto pela
polícia em 1992, seria certamente o mais votado entre as cerca
de 800 famílias que vivem no bairro Medellín sin Tugurios
(Medellín sem favelas), na zona norte da cidade.
Popularmente, o bairro é conhecido pelo nome do narcotraficante, que, no começo dos anos 80, em campanha para deputado, mandou construir 450 casas
para abrigar as famílias que viviam em condições subumanas
num lixão da cidade.
Poucos anos depois, ele se tornaria um dos mais temidos fora-da-lei da Colômbia, reconhecido pela frieza e violência, e teve sua
cabeça a prêmio como um dos criminosos mais procurados pelos EUA.
Ainda assim, "Pablito" é um
herói entre os moradores do
bairro que leva seu nome. Fotos
suas estão pregadas nas paredes
de casas simples do bairro. Muitas vezes ao lado da de sua mãe,
"dona Hermilda", que, após a
morte do filho, doou mais uma
parte do terreno para que o bairro fosse ampliado.
"Pablito era uma pessoa muito
católica, muito humanitária. Ele
foi o único político que subiu no
lixão onde vivíamos para falar
com a gente", afirma Francisco
Luis Flores, 84, um dos pioneiros
do bairro Pablo Escobar.
"Se ele fez alguma coisa má foi
para sua defesa pessoal", afirma
Flores, que guarda com orgulho
uma foto ao lado do ídolo. "Não
sei como ele conseguiu o dinheiro que tinha, mas, se conseguiu,
foi certamente para fazer o bem
à humanidade", diz.
Cada casa doada pelo narcotraficante tinha originalmente
72 m2, com sala, cozinha, um banheiro, dois quartos e um quintal. Hoje, quase todas as casas foram ampliadas, com anexos.
Igreja
Além das casas, ele mandou
construir também uma igreja, a
paróquia San Simón Apóstol,
que por muitos anos ficou fechada por conta da violência na região e só começou a funcionar
no começo da década passada.
"Infelizmente Pablito não viu a
igreja funcionando", lamenta a
enfermeira aposentada Carlota
Quintero, 62, representante da
Pastoral Social local.
Segundo ela, o "benemérito"
do bairro sumiu após perder o
cargo de deputado e começar a
ser perseguido pela polícia, mas
acredita tê-lo visto no local pelo
menos uma vez depois disso.
"Um dia, enquanto celebrávamos uma missa de Natal, chegou
um homem vestido de Papai
Noel, distribuindo presentes para as crianças, e foi embora sem
dizer nada. Todo mundo teve
certeza de que era ele", diz ela.
A violência que ameaçava até o
pároco local e impediu o funcionamento da igreja por alguns
anos já não assusta tanto os moradores como antes. "Problemas
de violência existem em todos os
lados, mas em outros bairros é
bem pior. Aqui é um lugar tranquilo", conta a dona-de-casa
Yenny Marjorie Rave.
Segundo Carlota Quintero,
não há no bairro presença de
narcotraficantes, guerrilheiros
ou paramilitares. Mas são frequentes as brigas entre gangues
de jovens, herdeiros, segundo
analistas, dos grupos de sicários
(matadores de aluguel) arregimentados pelo narcotráfico e
que ficaram órfãos com o fim do
cartel de Medellín. (RW)
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