São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Discurso cuidadoso no Parlamento alemão pede atuação da Otan e adverte sobre "perigo" de Saddam Hussein

Bush cobra ação da Europa contra o terror

DA REDAÇÃO

Em discurso ao Bundestag (Parlamento alemão), o presidente americano, George W. Bush, declarou ontem que o ditador iraquiano, Saddam Hussein, e suas armas de destruição em massa são "uma ameaça à civilização".
Tentando apaziguar seus aliados europeus, o presidente americano garantiu que qualquer nova ação de seu país na "guerra contra o terrorismo" será estudada e focada e que a Europa será avisada.
O discurso foi cuidadosamente elaborado, com consultas a europeus, para tentar reafirmar a importância do relacionamento entre o país e o continente, e incentivar a participação da Europa no combate ao terrorismo.
Bush usou a Otan (aliança militar liderada pelos EUA) para instar os países-membros europeus a equiparem-se de "estratégias e meios" para a luta antiterror. Os aliados da Otan "têm de ser capazes de agir e têm de querer agir".
Ao caracterizar o "inimigo", Bush disse que os terroristas "são definidos por seus ódios". "Eles odeiam a democracia e a tolerância, a liberdade de imprensa, as mulheres, os judeus e os cristãos, assim como todos os muçulmanos que discordam deles."

Protesto e ressalvas
Durante o discurso, três parlamentares do Partido do Socialismo Democrático, ex-comunista, sentados perto do presidente no plenário, ergueram um cartaz com os dizeres: "Bush, Schröder, parem as suas guerras". Seguranças arrancaram a peça. Mesmo assim, Bush foi bastante aplaudido.
A Europa vêm apresentando várias ressalvas quanto à possibilidade de os EUA ampliarem sua guerra contra o terror. Um dos pontos mais delicados para os europeus é a possibilidade de ataque ao Irã. A França, o Reino Unido e especialmente a Alemanha mantêm excelentes relações diplomáticas e comerciais com o país.
Frequentemente criticado por chamar o Irã, o Iraque e a Coréia do Norte de "eixo do mal", o presidente americano disse: "Chame, como eu, de eixo do mal, chame pelo nome que quiser, mas vamos falar a verdade. Se ignorarmos essa ameaça estaremos atraindo chantagens e colocando milhões de nossos cidadãos em perigo".
Segundo Bush, o potencial bélico do Irã "será um problema para todos nós, incluindo a Rússia".
Em uma entrevista coletiva junto com o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, antes da visita ao Bundestag, Bush mandou um alerta a Vladimir Putin, presidente da Rússia -país onde Bush desembarcou ontem à noite.
"Se você vender armas para o Irã, corre o risco de ver armas apontadas para você", afirmou Bush, ao adiantar o que pretendia dizer pessoalmente a Putin.
Em resposta à declaração, antes da chegada de Bush à Rússia, Igor Ivanov, chanceler russo, afirmou que frequentemente ouve "declarações sem fundamentos" sobre uma "suposta ajuda da Rússia ao Irã" para seu desenvolvimento nuclear e seu programa de mísseis. "Isso não é verdade. A Rússia é fiel às suas obrigações internacionais, e já dissemos isso repetidamente aos EUA."
Líderes europeus também têm expressado reserva quanto a um possível ataque ao Iraque.
Schröder evitou o assunto na entrevista. Indagado se apoiaria um ataque a Bagdá, respondeu: "Não existem planos concretos para atacar o Iraque, portanto não há motivo para especulações".
"Disse ao chanceler que não tenho planos de guerra na minha mesa, o que é verdade", completou Bush.

Tratado histórico
Em seguida, Bush e sua mulher, Laura, voaram para Moscou, na sua primeira visita à Rússia.
O encontro de cúpula começa na manhã de hoje. Bush colocará flores no monumento ao soldado desconhecido antes de se dirigir ao Kremlin (complexo onde fica a sede do governo federal).
Putin e Bush vão assinar acordo de redução de armas nucleares, marco na relação dos dois países.
O acordo estabelece que a Rússia e os EUA devem reduzir em dois terços o seu arsenal nuclear, no prazo de dez anos (até 2012).
Ainda na Alemanha, Bush falou da importância do acordo atingido. "Antigos tratados nucleares tentavam gerenciar a hostilidade e manter um equilíbrio do terror. Esse novo acordo é o reconhecimento de que a Rússia e o Ocidente não são mais inimigos."


Com agências internacionais

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