|
Próximo Texto | Índice
Imigrantes gays lutam para viver nos EUA
Por imigração ser tema federal, Estados não permitem permanência de parceiro sem green card ao lado de outro legal
Brasileiro teve que ir morar em Londres com parceiro; Congresso americano estuda lei que permitiria que ambos vivessem no país
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Entre protestos nas ruas e
críticas da igreja, o governo de
Nova York tenta se tornar o
sexto Estado dos EUA a legalizar o casamento gay, depois de
Massachusetts, Connecticut,
Iowa, Vermont e Maine.
Mas enquanto lutas como essa avançam com muito barulho
pelo país, uma outra batalha segue silenciosa no Capitólio
-para permitir que casais homossexuais nos quais um dos
parceiros é estrangeiro consigam viver em solo americano.
Pela legislação atual, um cidadão dos EUA ou portador de
"green card" não pode estender
o visto de permanência a um
parceiro do mesmo sexo, mesmo se se casaram em Estados
que legalizaram essas uniões.
Isso ocorre porque a lei de
imigração é federal e não reconhece uniões homossexuais,
independentemente do status
legal em diferentes pontos do
país.
A situação poderá mudar
com a chamada Lei de União
das Famílias Americanas (Uafa, na sigla em inglês), introduzida em fevereiro na Câmara
dos Representantes e no Senado. Ela pretende reconhecer
"parcerias permanentes" de
qualquer sexo -sejam consideradas casamentos ou não- na
lei de imigração nacional.
Os proponentes, o senador
Patrick Leahy (democrata de
Vermont) e o deputado Jerrold
Nadler (democrata de Nova
York) tentaram capitalizar com
as vitórias democratas das eleições de 2008.
Mas a tarefa será árdua. A lei
já foi introduzida várias vezes
desde o ano 2000, sem sucesso.
E, apesar de não mencionar o
termo "casamento", a última
versão da Uafa só angariou até
agora assinaturas de 99 deputados e 17 senadores, o que pode
ser visto como boa medida da
polêmica que os dois temas
-direitos gays e imigração-
provocam no eleitorado.
Segundo o censo de 2000, há
35 mil casais gays binacionais
nos EUA, grande número dos
quais vive na clandestinidade
ou é obrigado a emigrar.
O publicitário brasileiro Daniel, 30, que tem "green card",
acabou no ano passado na segunda categoria.
Ele iniciou um relacionamento com o alemão Ole, 31,
em San Francisco, na Califórnia, em 2006, e se casou com
ele no ano passado -mas não
conseguiu viver a seu lado no
país. (O casal não quis ter seus
sobrenomes publicados.)
"Ironicamente, eu não pude
dar meu visto americano a ele,
mas consegui visto da União
Europeia por causa do registro
de casamento americano", afirmou Daniel, que hoje mora
com Ole em Londres.
Visto demorado
O namoro já começou complicado. Os dois passaram quase dois anos entre EUA e Alemanha, mas as viagens pesavam no orçamento.
No final de 2007, Ole conseguiu visto para ficar em San
Francisco por seis meses, mas o
prazo ia sendo consumido sem
que ocorresse uma solução.
"Tentamos visto de trabalho
para ele, mas era demorado.
Quase não via minha família,
pois só viajava para a Alemanha. As opções começaram a se
esgotar", disse Daniel à Folha.
Em maio de 2008, a Suprema
Corte da Califórnia legalizou o
casamento gay (um referendo
popular derrubou a medida em
novembro). Daniel e Ole se casaram um mês depois.
Mas Ole não pôde solicitar o
visto de permanência, e eles
acabaram indo à Europa.
Críticos da medida citam como um dos temores o de que a
lei facilitaria fraudes imigratórias, com pessoas afirmando
falsamente que são homossexuais para conseguir vistos.
A lei quer prevenir abusos,
com punições de cinco anos de
prisão e multa de US$ 250 mil.
Outros grupos veem a Uafa
como problemática em si, por
rejeição a uniões gays.
"Prefiro exportar homossexuais dos EUA a importá-los,
pois a homossexualidade é
uma força destrutiva", disse o
presidente do grupo cristão
Conselho de Pesquisa da Família, Peter Sprigg.
Depois ele se desculpou depois pelos termos usados.
Próximo Texto: Documentário e miss reacendem debate no país sobre causa gay Índice
|