São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Imigrantes gays lutam para viver nos EUA

Por imigração ser tema federal, Estados não permitem permanência de parceiro sem green card ao lado de outro legal

Brasileiro teve que ir morar em Londres com parceiro; Congresso americano estuda lei que permitiria que ambos vivessem no país

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Entre protestos nas ruas e críticas da igreja, o governo de Nova York tenta se tornar o sexto Estado dos EUA a legalizar o casamento gay, depois de Massachusetts, Connecticut, Iowa, Vermont e Maine.
Mas enquanto lutas como essa avançam com muito barulho pelo país, uma outra batalha segue silenciosa no Capitólio -para permitir que casais homossexuais nos quais um dos parceiros é estrangeiro consigam viver em solo americano.
Pela legislação atual, um cidadão dos EUA ou portador de "green card" não pode estender o visto de permanência a um parceiro do mesmo sexo, mesmo se se casaram em Estados que legalizaram essas uniões.
Isso ocorre porque a lei de imigração é federal e não reconhece uniões homossexuais, independentemente do status legal em diferentes pontos do país.
A situação poderá mudar com a chamada Lei de União das Famílias Americanas (Uafa, na sigla em inglês), introduzida em fevereiro na Câmara dos Representantes e no Senado. Ela pretende reconhecer "parcerias permanentes" de qualquer sexo -sejam consideradas casamentos ou não- na lei de imigração nacional.
Os proponentes, o senador Patrick Leahy (democrata de Vermont) e o deputado Jerrold Nadler (democrata de Nova York) tentaram capitalizar com as vitórias democratas das eleições de 2008.
Mas a tarefa será árdua. A lei já foi introduzida várias vezes desde o ano 2000, sem sucesso.
E, apesar de não mencionar o termo "casamento", a última versão da Uafa só angariou até agora assinaturas de 99 deputados e 17 senadores, o que pode ser visto como boa medida da polêmica que os dois temas -direitos gays e imigração- provocam no eleitorado.
Segundo o censo de 2000, há 35 mil casais gays binacionais nos EUA, grande número dos quais vive na clandestinidade ou é obrigado a emigrar.
O publicitário brasileiro Daniel, 30, que tem "green card", acabou no ano passado na segunda categoria.
Ele iniciou um relacionamento com o alemão Ole, 31, em San Francisco, na Califórnia, em 2006, e se casou com ele no ano passado -mas não conseguiu viver a seu lado no país. (O casal não quis ter seus sobrenomes publicados.)
"Ironicamente, eu não pude dar meu visto americano a ele, mas consegui visto da União Europeia por causa do registro de casamento americano", afirmou Daniel, que hoje mora com Ole em Londres.

Visto demorado
O namoro já começou complicado. Os dois passaram quase dois anos entre EUA e Alemanha, mas as viagens pesavam no orçamento.
No final de 2007, Ole conseguiu visto para ficar em San Francisco por seis meses, mas o prazo ia sendo consumido sem que ocorresse uma solução.
"Tentamos visto de trabalho para ele, mas era demorado. Quase não via minha família, pois só viajava para a Alemanha. As opções começaram a se esgotar", disse Daniel à Folha.
Em maio de 2008, a Suprema Corte da Califórnia legalizou o casamento gay (um referendo popular derrubou a medida em novembro). Daniel e Ole se casaram um mês depois.
Mas Ole não pôde solicitar o visto de permanência, e eles acabaram indo à Europa.
Críticos da medida citam como um dos temores o de que a lei facilitaria fraudes imigratórias, com pessoas afirmando falsamente que são homossexuais para conseguir vistos.
A lei quer prevenir abusos, com punições de cinco anos de prisão e multa de US$ 250 mil.
Outros grupos veem a Uafa como problemática em si, por rejeição a uniões gays.
"Prefiro exportar homossexuais dos EUA a importá-los, pois a homossexualidade é uma força destrutiva", disse o presidente do grupo cristão Conselho de Pesquisa da Família, Peter Sprigg.
Depois ele se desculpou depois pelos termos usados.


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