São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Tadjiquistão proíbe culto ao líder

Presidente do país centro-asiático emite decreto exigindo retirada de todos os retratos com sua imagem

Medida, segundo Emomali Rahmon, visa conter abusos por autoridades locais; mas site do líder da ex-república soviética exibe suas obras

DO "INDEPENDENT", EM MOSCOU

Numa região não conhecida pela modéstia de seus líderes, o presidente do Tadjiquistão, Emomali Rahmon, emitiu decreto incomum: todos os seus retratos devem ser retirados das paredes imediatamente. A partir de agora, as autoridades locais na empobrecida ex-república soviética terão que obter aprovação prévia antes de pendurar pôsteres, fotos ou até tapetes que tragam a imagem de Rahmon.
De acordo com o presidente, o culto à personalidade saiu de controle no país, e, a partir de agora, qualquer local oficial ou público que queira expor uma foto do líder precisará de autorização prévia do seu governo. O mais irritante, de acordo com Rahmon, são as autoridades locais que expõem fotos delas mesmas acompanhadas do presidente, procurando banhar-se em sua glória.
Retratos de Rahmon, com seu rosto inchado e cabelos tingidos penteados para trás, adornam repartições públicas e outdoors pelo país. "Para impedir o exibicionismo nas fileiras públicas e eliminar impressões equivocadas entre a população, ordeno que retratos e tapetes com imagens de autoridades locais juntamente com o presidente do Tadjiquistão sejam removidas de todas as repartições, locais públicos e margens de estradas", disse Rahmon na diretiva.
Ele pediu ainda a remoção de cartas de agradecimento deixadas por cidadãos em monumentos públicos expressando sua gratidão ao presidente. Não está claro se o decreto faz parte de um esforço genuíno para reduzir o culto à personalidade que vem florescendo no país ou se é apenas um desejo de impedir funcionários locais de roubarem espaço do presidente na atenção pública.
Passagem rápida pelo site oficial de Rahmon não sugere que ele tenha sido acometido de qualquer timidez repentina. O site traz vários livros de sua autoria -um deles sobre a história dos tadjiques, e outro, "O Tadjiquistão Independente e o Renascimento da Nação", com cinco volumes-, leituras recomendadas a todos os tadjiques. Outras 22 obras hagiográficas de outros autores são expostas no site, todas trazendo a imagem de Rahmon nas capas.
País montanhoso que faz fronteira com o Afeganistão e a China, o Tadjiquistão é a mais pobre das 15 ex-repúblicas soviéticas. Mais de metade dos homens em idade economicamente ativa ainda viajam à Rússia para procurar trabalho sazonal braçal e mal pago.
O país sofre ainda com o legado de uma virulenta guerra civil nos anos 1990, da qual Rahmon emergiu como presidente.
Críticos acusam o governo de Rahmon de fraude e corrupção institucionalizadas. Uma auditoria revelou que mais de US$ 1 bilhão foi desviado do Banco Nacional e emprestado a pessoas próximas à direção do banco. O dinheiro desviado totaliza quase o equivalente a todo o orçamento nacional anual. Rahmon antigamente era conhecido como Rahmonov, mas em 2007 ele cortou o sufixo russo de seu sobrenome.
Ele emitiu decreto proibindo a adoção de sobrenomes terminando em "ov" ou "ev" nos tadjiques recém-nascidos, usados desde os tempos czaristas. Impôs ainda limites ao número de convidados em festas de casamento e proibiu o uso de celulares pelos alunos nas escolas.


Tradução de CLARA ALLAIN


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