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Tadjiquistão proíbe culto ao líder
Presidente do país centro-asiático emite decreto exigindo retirada de todos os retratos com sua imagem
Medida, segundo Emomali Rahmon, visa conter abusos por autoridades locais; mas site do líder da ex-república soviética exibe suas obras
DO "INDEPENDENT", EM MOSCOU
Numa região não conhecida
pela modéstia de seus líderes, o
presidente do Tadjiquistão,
Emomali Rahmon, emitiu decreto incomum: todos os seus
retratos devem ser retirados
das paredes imediatamente.
A partir de agora, as autoridades locais na empobrecida
ex-república soviética terão
que obter aprovação prévia antes de pendurar pôsteres, fotos
ou até tapetes que tragam a
imagem de Rahmon.
De acordo com o presidente,
o culto à personalidade saiu de
controle no país, e, a partir de
agora, qualquer local oficial ou
público que queira expor uma
foto do líder precisará de autorização prévia do seu governo.
O mais irritante, de acordo
com Rahmon, são as autoridades locais que expõem fotos delas mesmas acompanhadas do
presidente, procurando banhar-se em sua glória.
Retratos de Rahmon, com
seu rosto inchado e cabelos tingidos penteados para trás,
adornam repartições públicas e
outdoors pelo país.
"Para impedir o exibicionismo nas fileiras públicas e eliminar impressões equivocadas
entre a população, ordeno que
retratos e tapetes com imagens
de autoridades locais juntamente com o presidente do
Tadjiquistão sejam removidas
de todas as repartições, locais
públicos e margens de estradas", disse Rahmon na diretiva.
Ele pediu ainda a remoção de
cartas de agradecimento deixadas por cidadãos em monumentos públicos expressando
sua gratidão ao presidente.
Não está claro se o decreto
faz parte de um esforço genuíno para reduzir o culto à personalidade que vem florescendo
no país ou se é apenas um desejo de impedir funcionários locais de roubarem espaço do
presidente na atenção pública.
Passagem rápida pelo site
oficial de Rahmon não sugere
que ele tenha sido acometido
de qualquer timidez repentina.
O site traz vários livros de sua
autoria -um deles sobre a história dos tadjiques, e outro, "O
Tadjiquistão Independente e o
Renascimento da Nação", com
cinco volumes-, leituras recomendadas a todos os tadjiques.
Outras 22 obras hagiográficas de outros autores são expostas no site, todas trazendo a
imagem de Rahmon nas capas.
País montanhoso que faz
fronteira com o Afeganistão e a
China, o Tadjiquistão é a mais
pobre das 15 ex-repúblicas soviéticas. Mais de metade dos
homens em idade economicamente ativa ainda viajam à
Rússia para procurar trabalho
sazonal braçal e mal pago.
O país sofre ainda com o legado de uma virulenta guerra civil
nos anos 1990, da qual Rahmon
emergiu como presidente.
Críticos acusam o governo de
Rahmon de fraude e corrupção
institucionalizadas. Uma auditoria revelou que mais de US$ 1
bilhão foi desviado do Banco
Nacional e emprestado a pessoas próximas à direção do
banco. O dinheiro desviado totaliza quase o equivalente a todo o orçamento nacional anual.
Rahmon antigamente era conhecido como Rahmonov, mas
em 2007 ele cortou o sufixo
russo de seu sobrenome.
Ele emitiu decreto proibindo
a adoção de sobrenomes terminando em "ov" ou "ev" nos tadjiques recém-nascidos, usados
desde os tempos czaristas. Impôs ainda limites ao número de
convidados em festas de casamento e proibiu o uso de celulares pelos alunos nas escolas.
Tradução de CLARA ALLAIN
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