São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

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Presidente de Timor recua e quer renúncia do premiê

Xanana, que prometeu deixar cargo na quinta, desiste após manifestações de apoio

Primeiro-ministro é acusado de inabilidade na crise que destruiu o Exército; partido oficial já estuda novo nome a ser indicado para seu lugar


Cândido Alves/France Presse
Menina timorense exibe cartaz de Xanana Gusmão em Dili


DA REDAÇÃO

O presidente de Timor Leste, Xanana Gusmão, recuou e anunciou ontem que não renunciaria mais ao cargo. Ele havia anunciado na véspera a intenção de deixar a Presidência, caso o primeiro-ministro e seu adversário político, Mari Alkatiri, insistisse em continuar na chefia do governo.
Bem mais que um conflito pessoal, o episódio reflete a instabilidade institucional de um país que enfrenta a maior crise de sua curta história. Timor nasceu em 2002, no plebiscito que oficializou sua separação da Indonésia, que o invadiu em 1975, logo após a retirada das forças coloniais portuguesas.
Boa parte dos timorenses responsabiliza o premiê Alkatiri pela crise militar que levou ao afastamento, em abril, de 600 dos 1.400 homens que integravam o Exército. Em lugar de negociar o fim de uma revolta, foi intransigente e permitiu que os militares desertassem como força rebelde.
Com o colapso do Exército e a contaminação da polícia pela crise, a capital de Timor, Dili, ficou em mãos de saqueadores. Cerca de 30 pessoas morreram em confrontos.
O país pediu então a presença de forças internacionais de paz. Há 2.700 militares estrangeiros. O maior contingente foi enviado pela vizinha Austrália.
O presidente Xanana Gusmão fez na semana passada um apelo para que os 600 rebeldes entregassem aos australianos suas armas. O processo de desarmamento começou, mas, para concluí-lo, os envolvidos pediam a demissão de Alkatiri.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, telefonou ontem a Xanana Gusmão e pediu para que ele não renunciasse. Seu representante no país, Sukehiro Hasegawa, visitou-o pessoalmente e renovou o apelo, em nome da "estabilidade e da manutenção da paz".
Ontem, em Dili, uma manifestação com "milhares de pessoas" -as agências de notícias são pouco precisas- pediu que ele recuasse da intenção de renúncia. Xanana é um dos heróis da guerrilha que inviabilizou a dominação da Indonésia sobre a ex-colônia portuguesa.
"Como presidente e irmão de vocês, eu honrarei a Constituição e cumprirei minhas obrigações com base no pedido que me fazem", disse.
Pouco depois, cerca de 2.000 pessoas se reuniam diante do Parlamento para exigir a saída de Alkatiri.
Na multidão, a Associated Press relata o depoimento de Betina Pereira. "Estou aqui com meu marido e meus dois filhos para testemunhar a queda de Alkatiri", disse ela, que acusou o premiê de manipular a Fretilin (partido oficial) e de enriquecer com bens públicos seus aliados. A Fretilin é o partido nascido da guerrilha contra o colonialismo português.
O jornal português "O Público" diz que, dentro da agremiação, a substituição do premiê já é dada como certa.
Segundo a agência Lusa, José Ramos Horta, ministro das Relações Exteriores, afirmou a diplomatas que Alkatiri iria inevitavelmente renunciar.
Alkatiri não se pronunciou ontem. Muitos o consideram enfraquecido em razão da prisão, na véspera, de um de seus mais próximos aliados, o ex-ministro do Interior Rogério Lobato, sob a acusação de distribuir armas do Estado a civis para eliminar os adversários. A denúncia foi feita por um canal de TV australiano.

Austrália
Em Lisboa, o general português Alfredo Assunção, que entre 2000 e 2001 chefiou as tropas da ONU em Timor Leste, acusou a Austrália de estar interessada em controlar o país. Disse que os australianos querem se apoderar do petróleo e do gás timorenses.
A tese parece anedótica diante da entrevista dada ontem por Alexander Downer, chanceler australiano. Ele lançou um apelo para que a França se integre às forças internacionais de paz. Um país com pretensões hegemônicas não dividiria o poder.


Com agências internacionais

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